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GUERRA SEM LIMITES
Alvo do terror nos anos 90, país diz que agências de inteligência internacionais citaram possível ataque
Governo argentino recebe alerta terrorista
CAROLINA VILA-NOVA
DE BUENOS AIRES
O governo argentino afirmou
ontem ter recebido informes de
agências de inteligência que
apontam a Argentina como um
possível alvo de atentados terroristas -o país sofreu dois, de
grandes proporções, nos anos 90.
O alerta pode sinalizar uma mudança de foco de grupos terroristas, que, desde o 11 de Setembro,
pouparam os países latino-americanos, dando preferência a aliados americanos na Europa, no
Oriente Médio e na Ásia.
"Recebemos informações de
distintas agências de inteligência
internacionais sobre a possibilidade de que a Argentina possa ser
um alvo de algum atentado", disse o ministro da Defesa, José Pampurro.
O alerta, segundo o ministro, fala de risco de atentados contra alvos americanos, britânicos ou espanhóis na Argentina. Os três países formaram a coalizão que invadiu o Iraque e provocou a queda
do regime de Saddam Hussein.
Há menção também sobre a possibilidade de Hong Kong ser outro alvo dos terroristas.
A ameaça de um ataque terrorista é um tema muito sensível aos
argentinos, que presenciaram, na
década passada, grandes atentados -contra a Embaixada de Israel (1992) e a Associação Mutual
Israelita Argentina, a Amia
(1994). Os ataques deixaram um
total de 114 mortos e a imagem de
um país vulnerável ao terrorismo.
A Argentina é considerada um
"alvo fácil" por especialistas em
terrorismo internacional pelo fato
de ter fronteiras amplas e pouco
controladas.
Segurança
Pampurro afirmou que este é o
segundo alerta preventivo sobre
eventuais atentados recebido neste ano pelo governo argentino. O
primeiro foi há cerca de quatro
meses.
O ministério se negou a revelar
os autores do alerta, alegando ser
informação "de alto nível".
"O governo toma a ameaça
muito seriamente. A informação
vem de fontes altamente qualificadas, dos sistemas de inteligência mais importantes do mundo",
disse Jorge Castro, presidente do
Instituto de Planejamento Estratégico.
O aviso pôs em alerta as forças
policiais e militares do país. Foi
reforçada a segurança em "lugares estratégicos", não divulgados,
na capital e nas Províncias. A Força Aérea disse que foram adotadas medidas de segurança adicionais em todos os aeroportos.
Foi aumentada a vigilância nas
embaixadas dos EUA, do Reino
Unido, da Espanha, de Israel e da
Itália. O Ministério do Interior ordenou "reforçar todos os controles migratórios fronteiriços".
Questionado sobre se a vigilância iria aumentar também na Tríplice Fronteira (entre Argentina,
Paraguai e Brasil), o ministro respondeu que "sempre há zonas estratégicas num país que é preciso
reforçar quando se tem esse tipo
de informação".
A região é frequentemente
apontada por especialistas em terrorismo -e pelos Estados Unidos- como um foco latino-americano de arrecadação de recursos
para organizações terroristas. É
vista ainda como área com pouco
controle dos governos da região.
Contra a guerra
A Argentina foi contra a Guerra
do Iraque, ao contrário do que
ocorreu na Guerra do Golfo
(1991), quando o então presidente
Carlos Menem (1989-99) decidiu
participar da coalizão anti-Iraque.
Menem adotou uma política externa pró-EUA ao longo de seu
governo, com seu chanceler qualificando como "carnais" as relações entre os dois países. O atual
governo de Néstor Kirchner tem
uma posição muito mais dura em
relação a Washington.
"O que há neste momento é
uma contra-ofensiva do terrorismo internacional. Ela tem relação
com a situação no Iraque", disse
Jorge Castro.
"Mas a posição do país sobre essas questões em determinado
momento não parece ser o ponto
fundamental para tornar a Argentina alvo de ataques desse tipo",
avalia. "Atente que a ameaça inclui também, como outro possível
alvo, Hong Kong, que tampouco
interveio nessas questões", afirmou o especialista.
Para o analista Rosendo Fraga, a
Argentina é um alvo para terroristas por três motivos. Primeiro, é o
único país da América Latina que
já sofreu dois atentados atribuídos a grupos extremistas islâmicos. Segundo, a Argentina é um
dos países com maior presença de
judeus no mundo. O terceiro ponto é que a situação de segurança
na Argentina é "mais débil" que
nos outros países da região
-acrescente-se a isso o fato de
que policiais e militares argentinos estão sob investigação, fragilizando as forças de segurança.
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