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São Paulo, quinta-feira, 27 de novembro de 2003

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GUERRA SEM LIMITES

Alvo do terror nos anos 90, país diz que agências de inteligência internacionais citaram possível ataque

Governo argentino recebe alerta terrorista

CAROLINA VILA-NOVA
DE BUENOS AIRES

O governo argentino afirmou ontem ter recebido informes de agências de inteligência que apontam a Argentina como um possível alvo de atentados terroristas -o país sofreu dois, de grandes proporções, nos anos 90.
O alerta pode sinalizar uma mudança de foco de grupos terroristas, que, desde o 11 de Setembro, pouparam os países latino-americanos, dando preferência a aliados americanos na Europa, no Oriente Médio e na Ásia.
"Recebemos informações de distintas agências de inteligência internacionais sobre a possibilidade de que a Argentina possa ser um alvo de algum atentado", disse o ministro da Defesa, José Pampurro.
O alerta, segundo o ministro, fala de risco de atentados contra alvos americanos, britânicos ou espanhóis na Argentina. Os três países formaram a coalizão que invadiu o Iraque e provocou a queda do regime de Saddam Hussein. Há menção também sobre a possibilidade de Hong Kong ser outro alvo dos terroristas.
A ameaça de um ataque terrorista é um tema muito sensível aos argentinos, que presenciaram, na década passada, grandes atentados -contra a Embaixada de Israel (1992) e a Associação Mutual Israelita Argentina, a Amia (1994). Os ataques deixaram um total de 114 mortos e a imagem de um país vulnerável ao terrorismo.
A Argentina é considerada um "alvo fácil" por especialistas em terrorismo internacional pelo fato de ter fronteiras amplas e pouco controladas.

Segurança
Pampurro afirmou que este é o segundo alerta preventivo sobre eventuais atentados recebido neste ano pelo governo argentino. O primeiro foi há cerca de quatro meses.
O ministério se negou a revelar os autores do alerta, alegando ser informação "de alto nível".
"O governo toma a ameaça muito seriamente. A informação vem de fontes altamente qualificadas, dos sistemas de inteligência mais importantes do mundo", disse Jorge Castro, presidente do Instituto de Planejamento Estratégico.
O aviso pôs em alerta as forças policiais e militares do país. Foi reforçada a segurança em "lugares estratégicos", não divulgados, na capital e nas Províncias. A Força Aérea disse que foram adotadas medidas de segurança adicionais em todos os aeroportos.
Foi aumentada a vigilância nas embaixadas dos EUA, do Reino Unido, da Espanha, de Israel e da Itália. O Ministério do Interior ordenou "reforçar todos os controles migratórios fronteiriços".
Questionado sobre se a vigilância iria aumentar também na Tríplice Fronteira (entre Argentina, Paraguai e Brasil), o ministro respondeu que "sempre há zonas estratégicas num país que é preciso reforçar quando se tem esse tipo de informação".
A região é frequentemente apontada por especialistas em terrorismo -e pelos Estados Unidos- como um foco latino-americano de arrecadação de recursos para organizações terroristas. É vista ainda como área com pouco controle dos governos da região.

Contra a guerra
A Argentina foi contra a Guerra do Iraque, ao contrário do que ocorreu na Guerra do Golfo (1991), quando o então presidente Carlos Menem (1989-99) decidiu participar da coalizão anti-Iraque.
Menem adotou uma política externa pró-EUA ao longo de seu governo, com seu chanceler qualificando como "carnais" as relações entre os dois países. O atual governo de Néstor Kirchner tem uma posição muito mais dura em relação a Washington.
"O que há neste momento é uma contra-ofensiva do terrorismo internacional. Ela tem relação com a situação no Iraque", disse Jorge Castro.
"Mas a posição do país sobre essas questões em determinado momento não parece ser o ponto fundamental para tornar a Argentina alvo de ataques desse tipo", avalia. "Atente que a ameaça inclui também, como outro possível alvo, Hong Kong, que tampouco interveio nessas questões", afirmou o especialista.
Para o analista Rosendo Fraga, a Argentina é um alvo para terroristas por três motivos. Primeiro, é o único país da América Latina que já sofreu dois atentados atribuídos a grupos extremistas islâmicos. Segundo, a Argentina é um dos países com maior presença de judeus no mundo. O terceiro ponto é que a situação de segurança na Argentina é "mais débil" que nos outros países da região -acrescente-se a isso o fato de que policiais e militares argentinos estão sob investigação, fragilizando as forças de segurança.


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