São Paulo, segunda-feira, 27 de novembro de 2006

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Islâmicos protestam contra a visita do papa à Turquia

Mais de 20 mil manifestantes se reúnem em Istambul, um dia antes de embarque

Viagem é oportunidade para curar feridas abertas pelo discurso no qual o papa citou imperador bizantino do século 15 que atacou islã

DA REDAÇÃO

Mais de 20 mil muçulmanos protestaram ontem em Istambul contra a viagem do papa e Bento 16 à Turquia, que começa amanhã. Essa será a primeira vez que o atual sumo pontífice visita um país islâmico.
Em setembro, Bento 16 provocou a ira do mundo muçulmano ao citar um imperador bizantino que criticou Maomé.
Jovens vestindo faixas com slogans islâmicos na cabeça, tocando tambores e tremulando bandeiras da Turquia cantavam "Allahu akbar" (Deus é grande) e "Papa, não venha à Turquia". A manifestação transcorreu sem incidentes.
"Eu não posso permanecer em silêncio enquanto o profeta Maomé é insultado. Eu o amo mais do que a mim mesmo", disse Husamettin Aycan Alp, 25, estudante de ciência em Esmirna, no oeste da Turquia.
Alp também afirmou que os cardeais escolheram Joseph Ratzinger para ser o novo papa no ano passado "porque ele [Ratzinger] é contra o islã e porque [os cardeais] estão preocupados com a disseminação do islamismo na Europa".
A visita de quatro dias é classificada por autoridades como uma oportunidade para curar as feridas provocadas pelas observações de setembro, em que o papa citou o imperador Manuel 2º, o Paleólogo, que, no século 15, afirmou que o islã era violento e irracional.
Falando ontem no Vaticano, o papa disse esperar que a visita revele seu apreço e amizade pela Turquia e seu povo. "Quero enviar uma saudação cordial ao querido povo turco, de tão ricas história e cultura. A este povo e a seus representantes, expresso sentimentos de estima e sincera amizade", afirmou o prelado.
Antes de tornar-se papa, Ratzinger enfurecera os turcos ao manifestar-se contra a entrada da Turquia na União Européia. O então cardeal afirmou que a Turquia não partilhava da religião e da cultura européias.
Em mais um gesto de reconciliação, o papa decidiu de última hora incluir uma visita à famosa mesquita Azul, em seu itinerário em Istambul.
A manifestação levou às ruas menos gente que o esperado. O Partido da Felicidade Islâmica, que organizou o protesto, falava em reunir 75 mil pessoas.
"Os muçulmanos não querem o papa em suas terras. Vejam o sofrimento que foi disseminado na Palestina, no Iraque e na Tchetchênia. Eu o relaciono à cristandade", disse Ferdi Borekci, 28, arquiteto.
O governo turco, cuja base é um partido de origens religiosas, não tem dado muita importância à visita papal. As preparações continuam e ainda não foi definido se o premiê Tayyip Erdogan, um muçulmano devoto, se encontrará ou não com o papa antes de partir para uma cúpula da Otan (aliança militar ocidental) em Riga, na Letônia.
O objetivo oficial da visita do papa à Turquia é encontrar-se com o patriarca ecumênico Bartolomeu, líder cristão ortodoxo que vive em Istambul.
A Turquia prepara medidas rígidas de segurança para a visita, que incluirá a capital Ancara, Istambul e o lugar onde, segundo a tradição católica, a Virgem Maria viveu e morreu, nas proximidades de Esmirna, na costa do mar Egeu.


Com agências internacionais.


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