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Islâmicos protestam contra a visita do papa à Turquia
Mais de 20 mil manifestantes se reúnem em Istambul, um dia antes de embarque
Viagem é oportunidade para curar feridas abertas pelo discurso no qual o papa citou imperador bizantino do século 15 que atacou islã
DA REDAÇÃO
Mais de 20 mil muçulmanos
protestaram ontem em Istambul contra a viagem do papa e
Bento 16 à Turquia, que começa
amanhã. Essa será a primeira
vez que o atual sumo pontífice
visita um país islâmico.
Em setembro, Bento 16 provocou a ira do mundo muçulmano ao citar um imperador
bizantino que criticou Maomé.
Jovens vestindo faixas com
slogans islâmicos na cabeça, tocando tambores e tremulando
bandeiras da Turquia cantavam "Allahu akbar" (Deus é
grande) e "Papa, não venha à
Turquia". A manifestação
transcorreu sem incidentes.
"Eu não posso permanecer
em silêncio enquanto o profeta
Maomé é insultado. Eu o amo
mais do que a mim mesmo",
disse Husamettin Aycan Alp,
25, estudante de ciência em Esmirna, no oeste da Turquia.
Alp também afirmou que os
cardeais escolheram Joseph
Ratzinger para ser o novo papa
no ano passado "porque ele
[Ratzinger] é contra o islã e
porque [os cardeais] estão
preocupados com a disseminação do islamismo na Europa".
A visita de quatro dias é classificada por autoridades como
uma oportunidade para curar
as feridas provocadas pelas observações de setembro, em que
o papa citou o imperador Manuel 2º, o Paleólogo, que, no século 15, afirmou que o islã era
violento e irracional.
Falando ontem no Vaticano,
o papa disse esperar que a visita
revele seu apreço e amizade pela Turquia e seu povo. "Quero
enviar uma saudação cordial ao
querido povo turco, de tão ricas
história e cultura. A este povo e
a seus representantes, expresso
sentimentos de estima e sincera amizade", afirmou o prelado.
Antes de tornar-se papa, Ratzinger enfurecera os turcos ao
manifestar-se contra a entrada
da Turquia na União Européia.
O então cardeal afirmou que a
Turquia não partilhava da religião e da cultura européias.
Em mais um gesto de reconciliação, o papa decidiu de última hora incluir uma visita à famosa mesquita Azul, em seu itinerário em Istambul.
A manifestação levou às ruas
menos gente que o esperado. O
Partido da Felicidade Islâmica,
que organizou o protesto, falava em reunir 75 mil pessoas.
"Os muçulmanos não querem o papa em suas terras. Vejam o sofrimento que foi disseminado na Palestina, no Iraque
e na Tchetchênia. Eu o relaciono à cristandade", disse Ferdi
Borekci, 28, arquiteto.
O governo turco, cuja base é
um partido de origens religiosas, não tem dado muita importância à visita papal. As preparações continuam e ainda não
foi definido se o premiê Tayyip
Erdogan, um muçulmano devoto, se encontrará ou não com
o papa antes de partir para uma
cúpula da Otan (aliança militar
ocidental) em Riga, na Letônia.
O objetivo oficial da visita do
papa à Turquia é encontrar-se
com o patriarca ecumênico
Bartolomeu, líder cristão ortodoxo que vive em Istambul.
A Turquia prepara medidas
rígidas de segurança para a visita, que incluirá a capital Ancara, Istambul e o lugar onde, segundo a tradição católica, a Virgem Maria viveu e morreu, nas
proximidades de Esmirna, na
costa do mar Egeu.
Com agências internacionais.
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