São Paulo, sexta-feira, 27 de novembro de 2009

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Brasil não recua sobre eleição de Honduras

Lula e subordinados enfatizam que país não reconhecerá resultado do pleito de domingo, diferentemente dos americanos


Para Marco Aurélio Garcia, "tendência é Honduras ser excluída da OEA"; Celso Amorim diz que divergência dos EUA não é confronto

Rodrigo Abd/Associated Press
Partidário de Manuel Zelaya leva bandeira hondurenha perto do Congresso, em protesto ontem

ELIANE CANTANHÊDE
ENVIADA ESPECIAL A MANAUS

Após conversar por telefone com a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, por quase uma hora, o chanceler Celso Amorim ratificou a divergência entre Brasil e EUA na crise hondurenha: "O Brasil não vai reconhecer a eleição [de domingo] em Honduras", disse.
A divergência é apenas mais uma, a mais recente, entre os governos de Barack Obama e Luiz Inácio Lula da Silva -que ontem, em entrevista à agência Efe, reiterou que sua posição quanto à crise política de Honduras é "inamovível".
A dissonância poderá rachar a OEA (Organização dos Estados Americanos). Ao contrário do Brasil, os EUA já anunciaram que vão acatar o resultado das urnas, mesmo sem a restituição prévia do presidente deposto, Manuel Zelaya.
Para o assessor internacional da Presidência, Marco Aurélio Garcia, "a tendência é Honduras ser excluída da OEA", mesmo com a posição em contrário de Washington. Atualmente, o país está suspenso da entidade, enquanto Zelaya segue acolhido na embaixada brasileira.
"Os EUA dizem que têm paixão pela OEA, mas têm de refletir sobre a divisão da América Latina e o descrédito da OEA [caso readmita o país sem Zelaya no poder]", disse o assessor de Lula, condenando a "introdução da tese do golpe preventivo na América Latina" (Zelaya foi deposto sob o argumento de que seria golpista).
Na conversa com Amorim, Hillary também ratificou a posição dos EUA e disse esperar que o Congresso deverá fazer, após o pleito de domingo, o que a Suprema Corte não fez, aprovando a recondução de Zelaya.
A queda de braço entre os EUA e o Brasil no caso de Honduras divide os países sul-americanos. Colômbia e Peru, principais aliados de Washington na América do Sul, tendem a apoiar o governo Obama. Venezuela, Equador e Bolívia, por exemplo, a votar com o Brasil.
Amorim disse não crer num "racha meio a meio" e que todos os países caribenhos rejeitam o pleito sem Zelaya. A decisão de expulsar Honduras depende de dois terços de votos.

Hillary
Hillary ligou para Amorim num momento de críticas crescentes do Brasil ao governo Obama. Após Amorim cobrar "mais franqueza" com a América Latina e admitir "frustração" com os poucos avanços dos EUA em várias frentes, Garcia falou em "decepção".
Na terça-feira, o secretário de Segurança, Jim Jones, já havia telefonado para Garcia, também para tentar reduzir o nível de tensão. Mesmo assim, Garcia criticou ontem que, antes, só havia dois tipos de posições na América Latina em relação a Washington: "a do "sim" e a do "sim, senhor'". "Não há confronto entre Brasil e EUA, há divergências, inclusive no caso de Honduras", disse ele.
Já Amorim ironizou: "O Brasil tem uma obsessão. Se não concorda com os EUA, algo ruim vai acontecer, um raio vai cair na nossa cabeça. Não é bem assim".
O ministro e Hillary falaram dos quatro pontos de atrito entre os dois países, que também nortearam a carta de três páginas de Obama para Lula (que já foi respondida): Honduras, o virtual fim da Rodada Doha de Comércio (contra os subsídios agrícolas), o Irã e a Conferência do Clima em Copenhague, no próximo mês.


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