São Paulo, sexta-feira, 27 de dezembro de 2002

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ÁSIA

Chefe da Agência Internacional de Energia Atômica diz que reator reativado poderia ser usado para produzir armas nucleares

Decisão norte-coreana é "muito preocupante", diz ONU

DA REDAÇÃO

Mohamed el Baradei, chefe da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), que pertence ao sistema da ONU, disse ontem que a decisão da administração norte-coreana de reativar instalações nucleares é "muito preocupante".
A agência comandada por ele informou que Pyongyang tinha colocado mil barras de combustível irradiado num reator nuclear do complexo de Yongbyon. Ele pode receber até 8.000 barras.
"Nossa grande preocupação é que eles [os norte-coreanos] coloquem em funcionamento a usina que produz plutônio, que poderia ser usada para produzir armas nucleares. E nós não temos como verificar a natureza da atividade que será realizada pelo reator", declarou El Baradei à CNN. "A situação é muito preocupante."
Há alguns dias, o governo da Coréia do Norte desafiou a AIEA, removendo as câmeras da ONU que monitoravam seu principal complexo nuclear. Este se situa em Yongbyon, a 80 km de Pyongyang, a capital. As câmeras monitoravam essas instalações norte-coreanas desde 1994.
"Buscar reativar instalações nucleares sem as precauções necessárias e tentar produzir plutônio são atos que geram sérias preocupações com a possível proliferação de armas atômicas. Isso equivale a uma chantagem nuclear", disse El Baradei em nota oficial.
O presidente da Coréia do Sul, Kim Dae-jung, disse a seus ministros das Relações Exteriores e da Segurança Pública que eles deveriam tentar dialogar com os norte-coreanos por meio dos canais diplomáticos já existentes.
Kim também os instruiu a trabalhar ao lado dos EUA, do Japão e de outros países da região para aliviar a tensão criada pela decisão norte-coreana de reativar parte de suas capacidades nucleares.
Kim é favorável a uma política construtiva em relação à Coréia do Norte (diferentemente dos EUA, que privilegiam uma linha mais severa). Ele não revelou as ações específicas que seu governo deverá tomar, mas disse que pretende fazer uso dos canais abertos no recente processo de reaproximação entre as duas Coréias, do qual foi o maior articulador.
Para a administração americana, a atitude norte-coreana pode ser um blefe para tentar forçar Washington a retomar negociações com Pyongyang. O Departamento de Estado chegou até a dizer que os norte-coreanos buscam atualmente aumentar seu poder de barganha em futuras negociações com os EUA.
Segundo um funcionário do governo dos EUA, que não quis identificar-se, Pyongyang faz uma "espécie de strip-tease", revelando pouco a pouco suas intenções para atrair os EUA à mesa de negociações. Mas Washington quer ter uma atitude multilateralista em relação a Pyongyang, trabalhando ao lado dos países da região, segundo Richard Lugar, o novo presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado.
O premiê do Japão, Junichiro Koizumi, afirmou que a Coréia do Norte não deve subestimar a possível reação da comunidade internacional e chamou de "provocação" a decisão de Pyongyang de reativar um reator nuclear.
Paris e Berlim também criticaram o governo norte-coreano. Este se defendeu, dizendo que não pretende construir armas nucleares, pois quer manter sua "posição pacífica e antinuclear".


Com agências internacionais


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