São Paulo, quarta-feira, 27 de dezembro de 2006

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ONU discute Somália em reunião de emergência

Tropas etíopes aliadas a governo interino avançam para a capital, tomada por milícia

Enviado da organização pede suspensão imediata dos conflitos, que já teriam matado mil; líder islâmico ameaça expandir a guerra

DA REDAÇÃO

O Conselho de Segurança da ONU realizou ontem uma reunião de emergência para discutir os combates travados na Somália entre as forças do governo interino e da Etiópia contra as Cortes Islâmicas -milícias que controlam a capital, Mogadício, e a maior parte do país.
François Lonseny Fall, enviado especial da organização à Somália, recomendou ao CS a suspensão imediata do conflito sob o risco de ele se ampliar e desestabilizar a região.
Dirigindo-se ao CS, Fall disse que a continuidade do conflito "seria desastrosa para o povo da Somália e teria sérias conseqüências para toda a região".
O enviado afirmou que os soldados etíopes já estão a cerca de 70 km da capital e podem tomá-la entre 24 e 48 horas.
Segundo o primeiro-ministro da Etiópia, Meles Zenawi, há relatos não confirmados de que o número de mortos chega a mil, enquanto os feridos já são 3.000. "Alguns são somalis, mas uma proporção muito grande não é de somalis", disse Zenawi, referindo-se a radicais islâmicos de outros países que se juntaram aos combates.
Zenawi disse que suas forças, que invadiram a Somália no último sábado, completaram metade de sua missão e "quebraram a espinha" das milícias.
"Assim que tivermos completado nossa missão -metade dela já foi, e o resto não levará muito tempo-, sairemos." Segundo o primeiro-ministro, há entre 3.000 e 4.000 soldados etíopes no país.
Já o xeque Sharif Ahmed, líder das Cortes Islâmicas, afirmou ontem que "a guerra está entrando em uma nova fase. Lutaremos contra a Etiópia por muito, muito tempo e esperamos levar a guerra a toda parte". "A luta nunca terminará e alcançará outros países e outras cidades", completou.
Ahmed também acusou os etíopes de massacrarem 50 civis em Cadado (centro).
Outros líderes islâmicos ameaçaram lançar mão de táticas de guerrilha, que incluiria ataques suicidas em Adis Abeba, capital da Etiópia.
A ofensiva tem apoio dos EUA, que pede ao governo etíope "contenção máxima", segundo afirmou o porta-voz do Departamento de Estado, Gonzo Gallegos. A União Africana também reconheceu o direito da Etiópia de invadir a Somália.
Anteontem, jatos etíopes haviam bombardeado os aeroportos de Mogadício e Baledogle e, no domingo, destruído um centro de recrutamento para militantes islâmicos.

Embargo
No último dia 6, o CS havia autorizado forças africanas a proteger o governo interino somali do crescente poder das milícias islâmicas -o que acabou não ocorrendo.
A resolução do CS, patrocinada pelos EUA, também apresentou um embargo contra a venda de armas ao país, exigiu das milícias a suspensão de toda expansão militar e, além disso, uma negociação com o governo interino.
A Somália, muçulmana, e a Etiópia, cristã, mantiveram confrontos sangrentos por vários anos. Entre 1977 e em 1978, forças somalis tentaram conquistar uma área de fronteira, mas acabaram derrotadas.
Mais de 62% dos 9 milhões de somalis são analfabetos, e a expectativa de vida é de apenas 48 anos. Seus indicadores sociais são piores que os etíopes.


Com agências internacionais


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