São Paulo, quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

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Bogotá autoriza Venezuela a buscar reféns

Chanceler venezuelano disse a Marco Aurélio Garcia que operação anunciada por Hugo Chávez deverá ocorrer amanhã

Aeronaves de Caracas vão à Colômbia para buscar Clara Rojas, o filho Emmanuel e Consuelo González, que Farc prometeram soltar no dia 18

Jorge Silva/Reuters
Chávez explica libertação; soltura é "desagravo' a venezuelano


FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

O governo colombiano autorizou ontem à tarde a proposta feita horas antes pelo presidente venezuelano, Hugo Chávez, para realizar uma grande operação aérea de resgate de três seqüestrados pelas Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia). O assessor internacional do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Marco Aurélio Garcia, participará como observador da missão, que deverá ser realizada amanhã.
A proposta, batizada de "operação transparência" por Chávez, foi apresentada pela manhã em entrevista coletiva no Palácio Miraflores, em Caracas. Ao mesmo tempo, o vice-chanceler venezuelano Rodolfo Sanz entregava em Bogotá um documento com a solicitação.
"Só falta a autorização do governo da Colômbia", disse Chávez, no início da entrevista a jornalistas estrangeiros, que contou com representantes diplomáticos de Brasil, França, Cuba e Bolívia.
No início da tarde, o chanceler colombiano, Fernando Araújo, deu o aval à proposta de Chávez, em carta dirigida ao colega venezuelano, Nicolás Maduro. "O governo da Colômbia autoriza a missão humanitária nos termos de sua carta e delega como seu representante o doutor [comissário para a Paz] Luis Carlos Restrepo".
O plano de Chávez -acordado com as Farc- consiste em enviar uma frota de aviões e helicópteros venezuelanos até Villavicencio, cerca de 100 km ao sul de Bogotá. Dali, uma aeronave voaria a um local secreto indicado pela guerrilha para buscar os reféns. Então, a assessora da ex-candidata à Presidência Ingrid Betancourt, Clara Rojas, seu filho Emmanuel e a ex-deputada Consuelo González de Perdomo seriam levados à Venezuela.
Questionado por um jornalista colombiano sobre por que os reféns não seriam levados diretamente a Bogotá em vez da Venezuela, Chávez disse que é uma condição das Farc.
"Eles insistem que querem entregar essas pessoas ao governo da Venezuela. E o governo da Venezuela não pode ser transladado ao território colombiano. No máximo, vou a um ponto da fronteira", disse.
Nos últimos dias, Chávez fez contatos com os homólogos de Brasil, França, Cuba, Bolívia, Argentina e Equador. Segundo o mandatário venezuelano, todos os governos apoiaram o plano e designaram enviados para acompanhar a operação.
Indicado por Lula, Garcia disse à Folha que chegará hoje a Caracas e que foi informado ontem à tarde pelo chanceler venezuelano, Nicolás Maduro, de que a operação de resgate ocorreria amanhã.

"Desagravo"
O anúncio de libertação de três reféns foi feito no último dia 18 pelas Farc como um ato de "desagravo" a Chávez, que, por quase três meses, mediou as negociações para a libertação de 45 reféns dos guerrilheiros em troca de 500 membros das Farc presos por Bogotá.
No final do mês passado, porém, Chávez foi retirado do processo pelo presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, desatando uma grave crise diplomática entre os dois governos.
Ontem, Chávez evitou fazer novos ataques a Uribe, mas disse três vezes que o fim da mediação foi uma "dor": "Íamos também. Quando conversamos com o presidente [francês, Nicolás] Sarkozy, a fórmula já estava feita e pensávamos que se podia liberar não três mas todos, incluindo os três gringos, os norte-americanos".
O venezuelano também narrou um sonho que teve com Emmanuel, nascido em cativeiro, filho de um guerrilheiro.


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