São Paulo, quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Eleição de hoje no Quênia acirra disputas tribais

Presidente Mwai Kibaki, da tribo kikuyu, e Raila Odinga, um luo, são favoritos

Com crescimento médio de 5% ao ano, país é principal centro econômico do leste da África; pesquisas dão pequena margem a opositor

DA REDAÇÃO

O Quênia abre hoje as urnas para a eleição presidencial que promete ser a mais acirrada desde a independência do país, em 1963. O atual presidente, Mwai Kibaki, 76, que tenta a reeleição, e seu ex-aliado, o congressista Raila Odinga, 62, chegam à reta final da votação com poucos pontos de diferença nas pesquisas.
O últimos levantamentos, divulgados na semana passada, mostram Odinga à frente, com entre 43% e 45% das intenções de voto, contra 36,7% a 43% de Kibaki. Apenas o instituto Gallup indicou vantagem de Kibaki, com 44% -um ponto percentual à frente de Odinga.
A proximidade dos resultados elevou temores de fraudes e intimidação, alimentadas por acusações de Odinga contra o candidato da situação. O governo de Kibaki, que concorre com a coalizão Partido da Unidade Nacional (PNU), nega as acusações, que classifica como "ridículas". Mas sua credibilidade está à prova: apesar das promessas feitas quando ele foi eleito pela primeira vez, em 2002, a corrupção policial e política ainda marca o país.

Rivalidade tribal
Os hoje adversários têm um histórico de colaboração. Eles se aliaram em 2002 para derrotar o partido Kanu, que detinha o monopólio do poder no país desde 1963. Kibaki conquistou então a Presidência em eleições consideradas justas e livres.
A união, porém, sobreviveu apenas três anos. Odinga se irritou quando o presidente não cumpriu a promessa de criar o cargo de premiê para ele.
Desde então, a rivalidade cresceu e assumiu abertamente dimensões tribais. Em 2002, Kibaki, da tribo kikuyu -a maior do Quênia-, e Odinga, da tribo luo, haviam deixado as diferenças étnicas de lado, mas na campanha deste ano ambos recorreram à lealdade de suas tribos para buscar votos.
Mais de 14 milhões de quenianos estão aptos a votar hoje, e temores de violência ressurgiram. A ex-colônia britânica, diferentemente da maioria de seus vizinhos, permaneceu largamente pacífica após a independência. Mas não é incomum que disputas étnicas se tornem violentas em época de eleições: neste ano, já ocorreram várias mortes e embates entre membros de tribos rivais.
Segundo analistas, se Kibaki vencer a reeleição com uma margem pequena -e possíveis fraudes- o risco de violência aumentará enormemente. "O grupo de Raila vai se tornar totalmente agressivo, porque eles lideraram as pesquisas", afirmou um diplomata ocidental que preferiu não se identificar.
Para vencer a disputa, um candidato precisa obter mais votos do que seus concorrentes, além de um mínimo de 25% em cinco das oito Províncias.

Propostas similares
Kibaki foi eleito legislador em todas as eleições desde a independência. Além da lealdade dos kikuyu, ele usa seus antecedentes na área econômica -crescimento anual médio de 5% sob seu governo- para tentar se manter no poder. O Quênia é considerado hoje o principal centro financeiro e econômico do leste da África.
Odinga, um empresário, congressista e ex-ministro, tem o apoio ardente dos luo, além da preferência entre outras tribos que criticam o que é visto como favorecimento dos kikuyus sob Kibaki. A força do candidato ficou evidente em 2005, quando sua oposição a um plano de reforma constitucional que aumentaria poderes presidenciais o ajudou a derrotar o governo em referendo popular.
Filho de um político socialista, seus oponentes o acusam de ser um radical perigoso, que estudou na então Alemanha Oriental e chamou um filho de Fidel Castro Odinga. Mas, em seu site na internet, ele se diz um social-democrata. Nos anos 80 e 90, ele ficou preso por oito anos, acusado de tentar um golpe para derrubar o então presidente Daniel Arap Moi.
Nas propostas, as diferenças entre o kikuyu e o luo para o Quênia diminuem. Ambos prometem aumentar o crescimento econômico com políticas de livre mercado e visam a extensão da educação gratuita, hoje universal no nível primário graças a Kibaki. "Eles prometem coisas impossíveis. Quem quer que seja eleito, os quenianos vão receber um choque de realidade em janeiro", afirma o analista Robert Shaw, citado pelo "Financial Times".


Com agências internacionais


Texto Anterior: Argentina: Repressor morto gera denúncia contra juízes
Próximo Texto: Frases
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.