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Paquistão reforça fronteira com a Índia
Islamabad ordena deslocamento de 20 mil soldados da fronteira com o Afeganistão para a região, mas nega intuito bélico
Movimentação é revés para os EUA; governo indiano alerta cidadãos para evitar país vizinho, e premiê se encontra com militares
Rizwan Tabassum/France Presse
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Paquistaneses queimam bandeira indiana em Karachi; movimentação militar na fronteira alimenta especulações sobre conflito
DA REDAÇÃO
O Paquistão começou ontem
a deslocar tropas da fronteira
com o Afeganistão para a divisa
com a Índia, informaram fontes militares e de segurança paquistanesas citadas por agências de notícias. A Chancelaria
indiana, por sua vez, desaconselhou seus cidadãos a viajar ao
vizinho, considerado inseguro
devido a uma suposta onda recente de prisões de indianos.
A movimentação militar alimentou especulações durante
o dia sobre um possível recrudescimento das tensões bilaterais agravadas com os ataques
terroristas a Mumbai, que deixaram 172 mortos há um mês.
Potências nucleares, Paquistão
e Índia já travaram três guerras
desde suas independência do
Reino Unido, em 1947.
Segundo fontes de inteligência ouvidas pela Associated
Press, são 20 mil -de estimados 100 mil estacionados na divisa afegã- os soldados paquistaneses deslocados para as cidades de Kasur e Sialkot, na
fronteira com a Índia. Um repórter da agência disse ter visto
40 caminhões carregando tropas dirigindo-se para a região.
O premiê paquistanês, Yousuf Raza Gilani, afirmou não
haver motivações belicosas na
movimentação. "Nós não faremos nenhuma ação por conta
própria. Não haverá agressão
de nossa parte", disse. Gilani,
no entanto, afirmou que o Paquistão responderá agressivamente se atacado pela Índia.
Um alto militar paquistanês
disse que as medidas foram tomadas em resposta a movimentações semelhantes detectadas do lado indiano nas últimas semanas. "Não queremos
criar nenhuma histeria, mas
devemos adotar medidas mínimas de segurança", afirmou.
Em Nova Déli, o premiê
Manmohan Singh reuniu-se
com os chefes das Forças Armadas para discutir a "situação
atual de segurança", segundo
comunicado. A imprensa indiana noticiou que o conselheiro
de segurança nacional, M.K.
Narayanan, participou do encontro, previamente agendado,
mas, oficialmente, para tratar
de questões orçamentárias.
O chanceler indiano, Pranab
Mukherjee, acusou o Paquistão
de querer desviar a atenção do
que, segundo ele, deveria ser a
preocupação maior do país:
"Eles deveriam concentrar-se
em combater o terrorismo e reprimir os responsáveis pelos
atentados a Mumbai".
Guerra ao terror
A Índia responsabiliza pelos
ataques terroristas o grupo islâmico paquistanês Lashkar-e-Taiba, já proscrito, mas com
um histórico de ligações com o
serviço secreto do Paquistão.
Após os atentados, Islamabad
lançou operações contra o LeT
e prendeu alguns de seus líderes. Mas as ações não aplacaram as pressões de Nova Déli.
Apesar da movimentação de
tropas e das hostilidades retóricas -além da inflamada cobertura jornalística local-, analistas consideram improvável que
a situação deteriore-se a ponto
de precipitar um novo conflito
armado. Para o paquistanês Talat Masood, a mensagem é que
"se a Índia pensa que pode alcançar seus objetivos com ataques, está muito enganada".
A última vez em que Índia e
Paquistão estiveram à beira de
uma guerra foi após o atentado
ao Parlamento indiano, em Nova Déli, em 2001. Na ocasião, o
governo indiano também responsabilizou extremistas islâmicos sediados no Paquistão. O
conflito foi evitado por ações
diplomáticas internacionais.
O deslocamento de tropas
paquistanesas para a fronteira
com a Índia é um revés para a
os EUA na guerra ao terror empreendida no Afeganistão, país
invadido em 2001 após o 11 de
Setembro. Washington conta
com Islamabad para combater
extremistas do Taleban e da Al
Qaeda que transitam pela porosa fronteira com o Afeganistão.
A Casa Branca informou que
discute a situação com as suas
embaixadas e pediu moderação. "Esperamos que os dois lados evitem dar passos que aumentem desnecessariamente
as tensões", disse o porta-voz
do Conselho de Segurança Nacional, Gordon Johndroe.
O presidente eleito dos EUA,
Barack Obama, que assume no
próximo dia 20, já disse que
pretende fazer do Afeganistão o
novo foco do combate ao terrorismo, aumentando o contingente militar no país ao passo
que reduz no Iraque.
Nos últimos dois dias, também a China, mais próxima a
Islamabad do que a Nova Déli,
agiu para evitar uma deterioração entre os seus vizinhos. Um
funcionário indiano disse que o
chanceler chinês, Yang Jiechi,
propôs inclusive um encontro
entre representantes dos governos da Índia e do Paquistão.
Com agências internacionais
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