São Paulo, sábado, 27 de dezembro de 2008

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Paquistão reforça fronteira com a Índia

Islamabad ordena deslocamento de 20 mil soldados da fronteira com o Afeganistão para a região, mas nega intuito bélico

Movimentação é revés para os EUA; governo indiano alerta cidadãos para evitar país vizinho, e premiê se encontra com militares

Rizwan Tabassum/France Presse
Paquistaneses queimam bandeira indiana em Karachi; movimentação militar na fronteira alimenta especulações sobre conflito

DA REDAÇÃO

O Paquistão começou ontem a deslocar tropas da fronteira com o Afeganistão para a divisa com a Índia, informaram fontes militares e de segurança paquistanesas citadas por agências de notícias. A Chancelaria indiana, por sua vez, desaconselhou seus cidadãos a viajar ao vizinho, considerado inseguro devido a uma suposta onda recente de prisões de indianos.
A movimentação militar alimentou especulações durante o dia sobre um possível recrudescimento das tensões bilaterais agravadas com os ataques terroristas a Mumbai, que deixaram 172 mortos há um mês. Potências nucleares, Paquistão e Índia já travaram três guerras desde suas independência do Reino Unido, em 1947.
Segundo fontes de inteligência ouvidas pela Associated Press, são 20 mil -de estimados 100 mil estacionados na divisa afegã- os soldados paquistaneses deslocados para as cidades de Kasur e Sialkot, na fronteira com a Índia. Um repórter da agência disse ter visto 40 caminhões carregando tropas dirigindo-se para a região.
O premiê paquistanês, Yousuf Raza Gilani, afirmou não haver motivações belicosas na movimentação. "Nós não faremos nenhuma ação por conta própria. Não haverá agressão de nossa parte", disse. Gilani, no entanto, afirmou que o Paquistão responderá agressivamente se atacado pela Índia.
Um alto militar paquistanês disse que as medidas foram tomadas em resposta a movimentações semelhantes detectadas do lado indiano nas últimas semanas. "Não queremos criar nenhuma histeria, mas devemos adotar medidas mínimas de segurança", afirmou.
Em Nova Déli, o premiê Manmohan Singh reuniu-se com os chefes das Forças Armadas para discutir a "situação atual de segurança", segundo comunicado. A imprensa indiana noticiou que o conselheiro de segurança nacional, M.K. Narayanan, participou do encontro, previamente agendado, mas, oficialmente, para tratar de questões orçamentárias.
O chanceler indiano, Pranab Mukherjee, acusou o Paquistão de querer desviar a atenção do que, segundo ele, deveria ser a preocupação maior do país: "Eles deveriam concentrar-se em combater o terrorismo e reprimir os responsáveis pelos atentados a Mumbai".

Guerra ao terror
A Índia responsabiliza pelos ataques terroristas o grupo islâmico paquistanês Lashkar-e-Taiba, já proscrito, mas com um histórico de ligações com o serviço secreto do Paquistão. Após os atentados, Islamabad lançou operações contra o LeT e prendeu alguns de seus líderes. Mas as ações não aplacaram as pressões de Nova Déli.
Apesar da movimentação de tropas e das hostilidades retóricas -além da inflamada cobertura jornalística local-, analistas consideram improvável que a situação deteriore-se a ponto de precipitar um novo conflito armado. Para o paquistanês Talat Masood, a mensagem é que "se a Índia pensa que pode alcançar seus objetivos com ataques, está muito enganada".
A última vez em que Índia e Paquistão estiveram à beira de uma guerra foi após o atentado ao Parlamento indiano, em Nova Déli, em 2001. Na ocasião, o governo indiano também responsabilizou extremistas islâmicos sediados no Paquistão. O conflito foi evitado por ações diplomáticas internacionais.
O deslocamento de tropas paquistanesas para a fronteira com a Índia é um revés para a os EUA na guerra ao terror empreendida no Afeganistão, país invadido em 2001 após o 11 de Setembro. Washington conta com Islamabad para combater extremistas do Taleban e da Al Qaeda que transitam pela porosa fronteira com o Afeganistão.
A Casa Branca informou que discute a situação com as suas embaixadas e pediu moderação. "Esperamos que os dois lados evitem dar passos que aumentem desnecessariamente as tensões", disse o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, Gordon Johndroe.
O presidente eleito dos EUA, Barack Obama, que assume no próximo dia 20, já disse que pretende fazer do Afeganistão o novo foco do combate ao terrorismo, aumentando o contingente militar no país ao passo que reduz no Iraque.
Nos últimos dois dias, também a China, mais próxima a Islamabad do que a Nova Déli, agiu para evitar uma deterioração entre os seus vizinhos. Um funcionário indiano disse que o chanceler chinês, Yang Jiechi, propôs inclusive um encontro entre representantes dos governos da Índia e do Paquistão.


Com agências internacionais


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