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"Pareciam uns animais", conta brasileira que escapou
DA REPORTAGEM LOCAL
"Fujam que vai acontecer
uma tragédia! Tranquem-se
nos quartos!" Eram aproximadamente 22h da noite de
Natal e Regiane Carneiro de
Oliveira, 26, estava na lanchonete do alojamento de garimpeiros brasileiros às margens
do rio Maroni, em Albina, no
Suriname. Uma amiga sua entrou gritando que um brasileiro havia matado um "moreno"
-é como a comunidade se refere aos moradores locais- e
os surinameses prometiam
vingança.
Não houve tempo para pensar em nada. Logo em seguida
encostou um carro do qual
saltaram seis homens armados com facões e machados
que bradavam: "Vamos acabar
com todos os brasileiros!".
Regiane se salvou pulando
no rio, e das águas escuras viu
os surinameses atacarem
quem não tinha sido suficientemente rápido. "Pareciam
uns animais partindo pra cima do povo. Cena de guerra.
Era pedrada, facada. Vi gente
com o rosto todo cortado.
Prenderam algumas pessoas
em salas do hotelzinho, despejaram gasolina e atearam
fogo", conta. Demorou duas
horas para chegar ajuda.
Fazia apenas três dias que
ela se encontrava lá. Depois da
passagem de ano, pretendia
rumar para Saint Laurent du
Maroni, na margem oposta, já
Guiana Francesa, onde continuaria no garimpo, trabalho
que abraçou há um ano, depois de partir de Boa Vista,
Roraima. "Agora que perdemos tudo -porque roubaram
nosso dinheiro e nossas roupas-, quero sair do Suriname
o mais rápido possível. Na verdade, tenho que agradecer por
ter saído de lá viva."
A convivência com os surinameses sempre foi, em geral,
harmoniosa, mas às vezes estourava alguma briga. "Há alguns dias deram uma surra
num colega. Aquele pedaço
parece uma terra sem lei."
Os sobreviventes foram alojados em dois hotéis da capital
Paramaribo. Com Regiane estão outros 25, que, segundo
ela conta, recebem ajuda de
empresários brasileiros instalados na região.
Os garimpeiros fazem as
contas e percebem que existem muitos desaparecidos.
"Creio que ficou gente escondida no mato e ainda teve
quem não conseguiu atravessar o rio. Se não fosse a escolta
do Exército, não teríamos deixado a cidade, pois os morenos fecharam a estrada com
duas barreiras."
(DG)
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