São Paulo, domingo, 27 de dezembro de 2009

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"Pareciam uns animais", conta brasileira que escapou

DA REPORTAGEM LOCAL

"Fujam que vai acontecer uma tragédia! Tranquem-se nos quartos!" Eram aproximadamente 22h da noite de Natal e Regiane Carneiro de Oliveira, 26, estava na lanchonete do alojamento de garimpeiros brasileiros às margens do rio Maroni, em Albina, no Suriname. Uma amiga sua entrou gritando que um brasileiro havia matado um "moreno" -é como a comunidade se refere aos moradores locais- e os surinameses prometiam vingança.
Não houve tempo para pensar em nada. Logo em seguida encostou um carro do qual saltaram seis homens armados com facões e machados que bradavam: "Vamos acabar com todos os brasileiros!".
Regiane se salvou pulando no rio, e das águas escuras viu os surinameses atacarem quem não tinha sido suficientemente rápido. "Pareciam uns animais partindo pra cima do povo. Cena de guerra. Era pedrada, facada. Vi gente com o rosto todo cortado. Prenderam algumas pessoas em salas do hotelzinho, despejaram gasolina e atearam fogo", conta. Demorou duas horas para chegar ajuda.
Fazia apenas três dias que ela se encontrava lá. Depois da passagem de ano, pretendia rumar para Saint Laurent du Maroni, na margem oposta, já Guiana Francesa, onde continuaria no garimpo, trabalho que abraçou há um ano, depois de partir de Boa Vista, Roraima. "Agora que perdemos tudo -porque roubaram nosso dinheiro e nossas roupas-, quero sair do Suriname o mais rápido possível. Na verdade, tenho que agradecer por ter saído de lá viva."
A convivência com os surinameses sempre foi, em geral, harmoniosa, mas às vezes estourava alguma briga. "Há alguns dias deram uma surra num colega. Aquele pedaço parece uma terra sem lei."
Os sobreviventes foram alojados em dois hotéis da capital Paramaribo. Com Regiane estão outros 25, que, segundo ela conta, recebem ajuda de empresários brasileiros instalados na região.
Os garimpeiros fazem as contas e percebem que existem muitos desaparecidos. "Creio que ficou gente escondida no mato e ainda teve quem não conseguiu atravessar o rio. Se não fosse a escolta do Exército, não teríamos deixado a cidade, pois os morenos fecharam a estrada com duas barreiras." (DG)


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