São Paulo, segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

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Países pediram grampos a agência dos EUA

Telegramas vazados pelo WikiLeaks sugerem ampliação de atividade da DEA, o escritório antidrogas americano

Um dos textos revela pressão do governo do Paraguai para que o órgão espionasse grupo guerrilheiro local

DE SÃO PAULO

Países aliados pressionaram a DEA -a agência americana antidrogas- a agir como um órgão de inteligência e até a grampear adversários, segundo documentos secretos da diplomacia dos EUA vazados pelo site WikiLeaks.
O jornal "New York Times" afirma que os telegramas sugerem que o trabalho da DEA tem se tornado mais abrangente que o combate às drogas nos países em que atua.
Os documentos ainda oferecem vislumbres de como agentes equilibram diplomacia e aplicação da lei nesses locais, diz o "Times".
O órgão mantém hoje 87 escritórios em 63 países. Com a proposta de combater o narcotráfico nesses locais, ele tem acesso a documentação até de governos que mantêm relações tensas com Washington, como a Venezuela e a Nicarágua.
Os documentos do WikiLeaks apontam que em alguns países a colaboração parece funcionar bem -resultando na derrubada de grandes traficantes e cartéis.
No entanto, eventualmente o trabalho tem preços altos, como a morte de dezenas de agentes que trabalhavam para a agência no México e Afeganistão.
Os documentos afirmam que, na Venezuela, o serviço de inteligência do governo de Hugo Chávez se infiltrou nas operações da DEA, sabotando equipamentos da agência e contratando um hacker para interceptar e-mails da embaixada dos EUA.
Em um dos telegramas há menção a uma suposta mensagem de urgência, enviada pelo presidente do Panamá, Ricardo Martinelli, à embaixadora americana no país: "Preciso de ajuda para grampear telefones", diz.
O governo do Panamá afirma que o pedido foi mal-interpretado.
"A mensagem era para a luta contra o crime, o tráfico de drogas e o crime organizado. Nunca pedimos ajuda para grampear políticos", disse o presidente Ricardo Martinelli por meio de uma nota divulgada ontem.
Em fevereiro deste ano, revela outro telegrama, a agência antidrogas americana tentava resistir a supostos pedidos do governo paraguaio para que o grupo guerrilheiro EPP (Exército do Povo Paraguaio) fosse espionado pelo órgão.
O EPP é acusado de sequestros e assassinatos no país e há suspeitas de que tenha relações com as Farc.
Como a DEA se negou a fazer o trabalho, o ministro do Interior paraguaio, Rafael Filizzola, sugeriu que a agência encerrasse os trabalhos no país, dizem os telegramas.
Os diplomatas depois concordaram em permitir os grampos para investigar sequestros, por não terem "outra opção viável", diz um telegrama.

RELAÇÕES ESCUSAS
Os documentos apontam as dificuldades da DEA para trabalhar em países onde o tráfico está imbricado aos governos.
É citado um episódio em que uma grande incineração de drogas que aconteceria na Guiné, em 2008, foi forjada. Na hora da queima, a droga fora substituída por flúor, reaparecendo depois em outro lugar.
"Provou-se que a influência dos narcotraficantes atingiu as mais altas escalas do governo", diz um telegrama referente ao caso.
Um porta-voz da DEA, procurado no sábado pelo "Times", afirmou que não comentaria as revelações, alegando que os documentos divulgados pelo WikiLeaks são secretos.


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