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IRAQUE OCUPADO
Objetivo será analisar como deve ser a transferência de poder; analistas vêem fortalecimento da organização
ONU anuncia envio de missão ao Iraque
DA REDAÇÃO
O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, anunciou ontem que a
entidade enviará uma missão ao
Iraque para analisar qual a melhor maneira de transmitir aos
iraquianos o poder no país, atualmente na mão da coalizão liderada pelos EUA. A equipe também
verificará se é possível realizar
eleições antes de junho.
O anúncio do retorno de uma
missão da ONU ocorre três meses
depois de a entidade ter retirado
todo o seu pessoal do Iraque em
outubro, em razão de uma série
de ataques à entidade, entre os
quais o que matou o enviado especial da organização, o brasileiro
Sérgio Vieira de Mello.
O objetivo da missão é superar
as divergências entre os americanos e os xiitas -que representam
60% da população.
Os EUA argumentam que, devido à falta de segurança e a problemas estruturais no Iraque, é impossível convocar eleições antes
do meio do ano e descartam um
pleito direto. Para Washington, o
ideal seria um modelo no qual todos os grupos étnicos e religiosos
estivessem presentes no governo.
Já o aiatolá Ali al Sistani, principal clérigo xiita do Iraque, quer a
convocação de eleições diretas o
mais rápido possível -nas quais
os xiitas seriam favorecidos.
Na semana passada, 100 mil xiitas saíram às ruas pedindo a convocação de eleições diretas.
Em novembro, o Conselho de
Governo Iraquiano e a Autoridade Provisória da Coalizão aprovaram o cronograma, que prevê a
entrega do poder a um governo
interino no próximo dia 30 de junho. O mecanismo de escolha
desse governo -eleições diretas
ou indiretas, voto nacional ou regional- é o cerne do debate.
O problema é que, com 24,6 milhões de habitantes, o Iraque é um
país com uma conflituosa divisão
étnica e religiosa, uma política dominada por líderes tribais e sem
nenhuma cultura democrática.
Lakhdar Brahimi, que deixou
na semana passado o cargo de enviado da ONU para o Afeganistão
e assumiu o posto de conselheiro
de Annan, afirmou que eleições
prematuras no Iraque poderiam
gerar mais prejuízos do que benefícios, pois podem acentuar as divisões no país.
A equipe da ONU será enviada
assim que os EUA derem garantias de segurança para a missão.
A decisão de Annan de enviar a
equipe da ONU para o Iraque se
deveu a requerimento feito pela
Autoridade Provisória da Coalizão no Iraque e do Conselho de
Governo Iraquiano.
Fortalecimento
"O Iraque é um desafio grande
demais para os EUA e para a coalizão. O fato de a ONU, baseada
nas suas próprias convicções, voltar a ter um papel central no Iraque aumenta o prestígio da organização", avaliou Frederick Barton, do CSIS (Centro de Estudos
Estratégicos e Internacionais), baseado em Washington.
A eventual interferência da
ONU também pode ser decisiva
para apaziguar o clima de desconfiança da população local com relação à liderança americana no
processo de reestruturação política. "A criação de um sistema representativo transparente era o
papel que se esperava da coalizão
liderada pelos EUA, mas, no final
de tudo, os EUA reconhecem que
a ONU é necessária. Nenhuma
outra organização tem essa capacidade [de organizar eleições imparciais num cenário pós-guerra]", disse Joe Siegle, do Council
of Foreign Relations.
Desde a ocupação americana no
Iraque, a tônica do discurso do secretário-geral Kofi Annan tem sido a defesa da urgência da transferência de poder para os iraquianos. Os analistas dizem, porém,
que isso não significa que a ONU
alinhou-se a Al Sistani.
"Não acho possível a realização
de eleições abrangentes neste semestre. As eleições precisam ser
transparentes e não podem pender para nenhum dos lados ou todo processo de reconstrução pode se desintegrar", diz Siegle.
Bush
O presidente dos EUA, George
W. Bush, defendeu ontem a decisão de invadir o Iraque, apesar
das conclusões do ex-chefe de inspeções dos EUA David Kay de
que não havia armas de destruição em massa no país.
França
O subsecretário de Estado americano para Comércio Exterior,
Grant Alonas, disse ontem a autoridades francesas que empresas
da França poderão participar da
reconstrução do Iraque, segundo
disse um porta-voz do Ministério
do Comércio Exterior francês.
Com Cíntia Cardoso, de Nova York, e
agências internacionais
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