São Paulo, quarta-feira, 28 de janeiro de 2004

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Saddam pagou com petróleo apoio de brasileiros do MR-8, diz jornal

DA REDAÇÃO

O grupo brasileiro MR-8 (Movimento Revolucionário 8 de Outubro) é citado numa lista de 270 entidades e políticos de 44 países aos quais Saddam Hussein teria presenteado com petróleo, como forma de recompensá-los pelo apoio que davam a seu regime.
A lista foi publicada em Bagdá pelo jornal "Al Mada". Nelson Chaves, 59, secretário de relações internacionais do MR-8, confirmou à Folha ter participado da venda de petróleo iraquiano, mas disse que seu grupo não ganhou dinheiro nas operações.
O MR-8 surgiu como organização clandestina de esquerda durante o regime militar. Não se tornou partido político e é hoje uma tendência abrigada pelo PMDB.
O jornal de Bagdá também menciona como favorecidos pela ditadura deposta o agente de viagens brasileiro Fouad Sarhan. Ex-representante da Iraqi Airways, ele disse à BBC Brasil que atuou como intermediário e que recebia comissões pela venda de petróleo.
Chaves não quis dizer para quais países intermediou contratos e qualificou de "ficção" a informação do "Al Mada" de que seu grupo recebera 4,5 milhões de barris de óleo cru. Disse que, durante os anos de embargo (1990-2003), as grandes empresas petrolíferas americanas boicotavam as transações autorizadas pela ONU ("óleo por comida") e que o MR-8 "tinha contatos internacionais para encontrar compradores".
Não soube explicar o que teria levado Saddam a mobilizar no Brasil interlocutores para um mercado no qual seu regime fora um dos principais exportadores.
O MR-8, por meio de seu jornal, "Hora do Povo", sempre apoiou a ditadura iraquiana.
Charles Pasqua, ex-ministro francês do Interior e próximo do presidente Chirac seria um outro beneficiado, o que ele nega.
O Iraque quer investigar se esse grupo de favorecidos recebeu ilegalmente petróleo para apoiar o regime deposto. "Essa gente deve ser processada por se apoderar ilegalmente de nossas riquezas", disse Nasir Chaderji, que integra o Conselho de Governo Iraquiano.
A lista de beneficiados citada pelo jornal inclui membros da família real saudita, organizações políticas e religiosas do mundo árabe e até, na Rússia, a Igreja Ortodoxa e o Partido Comunista.
Um dos vice-ministros iraquianos do Petróleo, Abdel Sahed Qotob, disse que, entre os nomes não revelados de apoiadores de Saddam, estariam dois primeiros-ministros e dois ministros das Relações Exteriores.
Assem Jihad, porta-voz do Ministério do Petróleo, disse que Saddam usava a maior riqueza iraquiana para "subornar" autoridades e organizações.


Com agências internacionais


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