São Paulo, quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

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Cabul busca integrar Taleban a governo

Plano do presidente Hamid Karzai será anunciado formalmente em conferência sobre o Afeganistão hoje em Londres

Ideia já recebeu apoio de EUA, ONU e países vizinhos; Taleban postou na internet mensagem de rechaço à proposta de reconciliação


DA REDAÇÃO

O Afeganistão se prepara para convencer o Ocidente hoje, em conferência sobre o país em Londres, a apoiar um grande plano de conciliação com o Taleban, que inclui não só subornos mas também a retirada dos nomes de alguns líderes extremistas da lista de sanções da ONU e seu retorno à estrutura do governo nacional.
O plano recebeu nos últimos dias apoio dos EUA, da ONU e de países vizinhos ao Afeganistão, como Irã e Paquistão.
O presidente afegão, Hamid Karzai, disse ver mais "boa vontade" geral atualmente para considerar esse caminho, apesar da contínua resistência de alguns países após nove anos de luta contra os radicais.
Ele deverá anunciar a organização de uma grande "jirga" (conselho) no Afeganistão para discutir a reaproximação com o grupo extremista. Há expectativa também da criação de um fundo de até US$ 1 bilhão para a reintegração.
A ideia tem duas vertentes -reintegração de 20 mil a 30 mil guerrilheiros por meio de anistia e geração de empregos e o retorno de líderes (em sua maioria no Paquistão) ao governo afegão, desde que obedeçam à Constituição.
Karzai deverá sofrer pressões por detalhamento da estratégia durante a conferência de hoje. Diplomatas europeus afirmam que uma reaproximação com a liderança do Taleban deve ser marcada por condições duras, incluindo a renúncia de vínculos com a Al Qaeda e da repressão às mulheres.
"Se há uma pergunta para Karzai nesta conferência é onde ele coloca o limite para a reconciliação", disse um diplomata europeu. Para outro diplomata, a preocupação é com a chance de reconciliação com o mulá Omar, líder do regime do Taleban antes de 2001. "Ele foi acusado como coconspirador do 11 de Setembro, e há uma recompensa de US$ 25 milhões por sua cabeça. Reconciliação com ele não é algo confortável."

Momento delicado
O enviado dos EUA ao Afeganistão e ao Paquistão, Richard Holbrooke, disse ontem que o fim de sanções contra alguns líderes do Taleban "já está atrasado". Ele apoiou o plano de Karzai, assim como o general Stanley McChrystal, comandante da Otan no Afeganistão.
Mas o apoio chega após o pior ano na batalha da Otan contra o Taleban, com um recorde de cerca de 520 mortes em combate. E há pouco que indique que uma estratégia de conciliação, que já fracassou em regiões do Paquistão, dará certo agora.
Há o temor de que o Taleban considere a oferta uma prova de que está vencendo a batalha e de que a retomada total do poder em Cabul está próxima.
Há a chance de que extremistas aceitem os subornos e mesmo assim mantenham a luta.
E há o risco de que a oferta seja simplesmente rejeitada. Já estava postado em sites ligados ao Taleban ontem um comunicado do grupo dizendo que seus membros não serão convencidos por incentivos financeiros, pois sua luta não é motivada por "dinheiro, terra ou posição" e sim pelo islã e pelo fim da presença estrangeira no país.
Ainda ontem, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, afirmou que irá apontar o sueco Staffan de Mistura como próximo enviado especial ao Afeganistão. Ele substituirá o norueguês Kai Eide, que teve o mandato manchado por acusações de ignorar intencionalmente provas de fraude na eleição que reelegeu Karzai em 2009. De Mistura é atualmente funcionário sênior do programa da ONU contra a fome e ex-enviado especial ao Iraque.

Com agências internacionais e o "Financial Times"



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