São Paulo, quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

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Chávez recebe mais quatro reféns das Farc

Libertação será a última feita sem negociações, afirma a guerrilha colombiana; Bogotá não concorda com precondições

Ex-parlamentares soltos dizem que estado de Ingrid Betancourt é crítico; como o colega venezuelano, Uribe comemora em rede de TV

Palácio Miraflores/Reuters
Eladio Pérez (esq.), Orlando Beltrán (ao lado de Chávez) e Gloria Polanco (com flores) cantam hinos da Venezuela e da Colômbia em cerimônia em Caracas

FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

Depois de mais de seis anos de cativeiro, as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) entregaram ontem quatro ex-parlamentares a uma comitiva liderada pelo governo venezuelano e pela senadora oposicionista colombiana Piedad Córdoba. No final da tarde, eles desembarcaram em Caracas, onde foram recebidos no aeroporto por familiares e no Palácio Miraflores pelo presidente Hugo Chávez.
"Não sei como consegui sobreviver, mas estou feliz de estar aqui. Suportei um enfarte cardíaco, suportei três comas diabéticos, suportei uma parada dos rins. Tive todas as doenças que o trópico colombiano possa gerar, mas aqui estou com vontade de viver, com vontade de lutar", disse o ex-senador Luis Eladio Pérez, no aeroporto, em conversa gravada pela TV estatal VTV -apenas os meios de comunicação oficiais tiveram acesso à pista.
"Eu sempre disse que eles são a minha vida inteira e o meu amor infinito. Voltei a viver, estava morta em vida", disse a ex-deputada Gloria Polanco, ao reencontrar seus três filhos. Tanto Polanco quanto Pérez enfatizaram que a ex-candidata presidencial Ingrid Betancourt, seqüestrada há seis anos, está em péssimas condições (veja texto nesta página).
Do aeroporto, Polanco, Pérez, Orlando Beltrán e Jorge Eduardo Gechem foram ao Palácio Milaflores, onde Chávez os recebeu. Em cadeia nacional de rádio e TV, eles se cumprimentaram e ouviram os hinos de Colômbia e Venezuela.
No trecho do encontro transmitido pela estatal VTV, Chávez voltou a dizer que continuará "fazendo tudo o que pudermos para liberar até o último dos seqüestrados", apesar de o colega colombiano Álvaro Uribe ter encerrado em novembro sua mediação entre Bogotá e as Farc, iniciando uma grave crise diplomática.
O roteiro de ontem foi semelhante ao de 10 de janeiro, quando foram soltas Clara Rojas e Consuelo González. A diferença foi que, desta vez, Chávez delegou aos seus ministros o anúncio de informações sobre o desenrolar da operação.
Na Colômbia, Uribe também convocou uma cadeia nacional de rádio e TV à noite para dizer que seu governo "não operou militarmente" no caso. Segundo ele, houve uma "localização humanitária" do acampamento dos reféns para ajudar na missão. "É um momento de felicidade para toda a pátria", disse.

Flores e choro
A operação começou por por volta das 7h30 locais, quando dois helicópteros deixaram o aeroporto venezuelano de Santo Domingo, perto da fronteira colombiana. Duas horas mais tarde, aterrissaram em San José del Guaviare (390 km a sudeste de Bogotá) e partiram ao local indicado pela guerrilha.
Nas imagens da entrega na Amazônia colombiana, gravadas com exclusividade pela TV chavista Telesur, quase todos aparentavam estar bem de saúde, à exceção do ex-senador Gechem, magro e envelhecido.
A mais emocionada era a ex-deputada Gloria Polanco. Chorando, disse várias vezes "obrigada" a Córdoba e ao ministro do Interior venezuelano, Ramón Rodríguez Chacín.
Ao receber flores de uma guerrilheira, Polanco, com a voz embargada, disse: "Muito obrigado, vou depositar no túmulo de meu marido, os quatro ramos, um para cada um dos meus filhos e o outro meu. É só isso que quero levar da selva". Seu marido, o ex-governador Jaime Lozada, foi assassinado pelas Farc em 2005 .
Além de Rodríguez Chacín e de Córdoba, havia dois médicos, representantes da Comissão Internacional da Cruz Vermelha (CICV), e jornalistas da Telesur, além de um grupo de guerrilheiros.
Logo após a liberação, as Farc divulgaram um comunicado afirmando que não haverá mais liberações unilaterais e voltaram a exigir a desmilitarização dos municípios de Pradera e Florida por 45 dias para "pactar com o governo nesse espaço a liberação dos guerrilheiros e dos prisioneiros de guerra".
O governo colombiano voltou a dizer que não aceita desmilitarizar os dois municípios, próximos de Cali, terceira maior cidade do país. Oferece uma "zona de encontro" em área despovoada, mas a proposta já foi rejeitada pelas Farc, que querem trocar 39 reféns por 500 guerrilheiros presos.


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