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Chávez recebe mais quatro reféns das Farc
Libertação será a última feita sem negociações, afirma a guerrilha colombiana; Bogotá não concorda com precondições
Ex-parlamentares soltos
dizem que estado de Ingrid
Betancourt é crítico; como o
colega venezuelano, Uribe
comemora em rede de TV
Palácio Miraflores/Reuters
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Eladio Pérez (esq.), Orlando Beltrán (ao lado de Chávez) e Gloria Polanco (com flores) cantam hinos da Venezuela e da Colômbia em cerimônia em Caracas
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
Depois de mais de seis anos
de cativeiro, as Farc (Forças
Armadas Revolucionárias da
Colômbia) entregaram ontem
quatro ex-parlamentares a
uma comitiva liderada pelo governo venezuelano e pela senadora oposicionista colombiana
Piedad Córdoba. No final da
tarde, eles desembarcaram em
Caracas, onde foram recebidos
no aeroporto por familiares e
no Palácio Miraflores pelo presidente Hugo Chávez.
"Não sei como consegui sobreviver, mas estou feliz de estar aqui. Suportei um enfarte
cardíaco, suportei três comas
diabéticos, suportei uma parada dos rins. Tive todas as doenças que o trópico colombiano
possa gerar, mas aqui estou
com vontade de viver, com vontade de lutar", disse o ex-senador Luis Eladio Pérez, no aeroporto, em conversa gravada pela TV estatal VTV -apenas os
meios de comunicação oficiais
tiveram acesso à pista.
"Eu sempre disse que eles
são a minha vida inteira e o
meu amor infinito. Voltei a viver, estava morta em vida", disse a ex-deputada Gloria Polanco, ao reencontrar seus três filhos. Tanto Polanco quanto Pérez enfatizaram que a ex-candidata presidencial Ingrid Betancourt, seqüestrada há seis anos,
está em péssimas condições
(veja texto nesta página).
Do aeroporto, Polanco, Pérez, Orlando Beltrán e Jorge
Eduardo Gechem foram ao Palácio Milaflores, onde Chávez
os recebeu. Em cadeia nacional
de rádio e TV, eles se cumprimentaram e ouviram os hinos
de Colômbia e Venezuela.
No trecho do encontro transmitido pela estatal VTV, Chávez voltou a dizer que continuará "fazendo tudo o que pudermos para liberar até o último dos seqüestrados", apesar
de o colega colombiano Álvaro
Uribe ter encerrado em novembro sua mediação entre
Bogotá e as Farc, iniciando uma
grave crise diplomática.
O roteiro de ontem foi semelhante ao de 10 de janeiro,
quando foram soltas Clara Rojas e Consuelo González. A diferença foi que, desta vez, Chávez delegou aos seus ministros
o anúncio de informações sobre o desenrolar da operação.
Na Colômbia, Uribe também
convocou uma cadeia nacional
de rádio e TV à noite para dizer
que seu governo "não operou
militarmente" no caso. Segundo ele, houve uma "localização
humanitária" do acampamento
dos reféns para ajudar na missão. "É um momento de felicidade para toda a pátria", disse.
Flores e choro
A operação começou por por
volta das 7h30 locais, quando
dois helicópteros deixaram o
aeroporto venezuelano de Santo Domingo, perto da fronteira
colombiana. Duas horas mais
tarde, aterrissaram em San José del Guaviare (390 km a sudeste de Bogotá) e partiram ao
local indicado pela guerrilha.
Nas imagens da entrega na
Amazônia colombiana, gravadas com exclusividade pela TV
chavista Telesur, quase todos
aparentavam estar bem de saúde, à exceção do ex-senador Gechem, magro e envelhecido.
A mais emocionada era a ex-deputada Gloria Polanco. Chorando, disse várias vezes "obrigada" a Córdoba e ao ministro
do Interior venezuelano, Ramón Rodríguez Chacín.
Ao receber flores de uma
guerrilheira, Polanco, com a
voz embargada, disse: "Muito
obrigado, vou depositar no túmulo de meu marido, os quatro
ramos, um para cada um dos
meus filhos e o outro meu. É só
isso que quero levar da selva".
Seu marido, o ex-governador
Jaime Lozada, foi assassinado
pelas Farc em 2005 .
Além de Rodríguez Chacín e
de Córdoba, havia dois médicos, representantes da Comissão Internacional da Cruz Vermelha (CICV), e jornalistas da
Telesur, além de um grupo de
guerrilheiros.
Logo após a liberação, as Farc
divulgaram um comunicado
afirmando que não haverá mais
liberações unilaterais e voltaram a exigir a desmilitarização
dos municípios de Pradera e
Florida por 45 dias para "pactar
com o governo nesse espaço a
liberação dos guerrilheiros e
dos prisioneiros de guerra".
O governo colombiano voltou a dizer que não aceita desmilitarizar os dois municípios,
próximos de Cali, terceira
maior cidade do país. Oferece
uma "zona de encontro" em
área despovoada, mas a proposta já foi rejeitada pelas Farc,
que querem trocar 39 reféns
por 500 guerrilheiros presos.
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