|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Para neurocirurgiã cubana que não pode deixar ilha, tudo será igual após Fidel
ADRIANA KÜCHLER
DE BUENOS AIRES
Embora diga entender pouco e tenha desistido da política, a neurocirurgiã cubana
Hilda Molina, 64, entendeu
que, quando Fidel Castro falou em contar com a velha-guarda do regime na carta em
que informou sua renúncia,
tudo seguiria igual na ilha.
Para ela, isso significa não
saber quando voltará a ver o
filho ou quando conhecerá os
dois netos que vivem na Argentina. Há 13 anos, Hilda e
sua mãe, Hilda Morejón, 89,
tentam em vão uma autorização para ir de Havana a Buenos Aires. A justificativa para
negar a permissão à cirugiã é
que seu "cérebro pertence ao
país". Para a mãe, que mal enxerga e usa cadeira de rodas,
nunca foi dada uma desculpa.
Até 1994, Molina dirigia um
centro de restauração neurológica em Havana e era deputada. Começaram então a trazer a seu centro pacientes estrangeiros que pagavam por
um serviço melhor do que o
recebido pelos cubanos. "A
política não era problema
meu. Passou a ser quando
atingiu a minha profissão",
disse à Folha por telefone a
médica que abdicou dos cargos e se declarou dissidente.
Ao filho único, o também
cirurgião Roberto Quiñones,
45, recomendou que não voltasse ao país depois de uma
viagem de estudos. Quiñones
se mudou para a terra da mulher, Buenos Aires.
Hilda Molina teve a linha
telefônica cortada, foi vigiada
e teve todos os pedidos para
ir à Argentina negados. "Parece uma espécie de vingança
por eu deixar o cargo."
Durante anos, a família pediu a ajuda de presidentes e
do Vaticano para resolver o
caso. O ex-presidente argentino Néstor Kirchner enviou
duas cartas a Fidel. Ante a negativa do ditador, o chanceler
de Kirchner, Rafael Bielsa,
fez críticas públicas regime.
Agora, Quiñones planeja
escrever uma carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva em busca de ajuda. "Nunca
mandei porque pensava que
Lula era muito próximo de
Fidel e que não funcionaria."
Quiñones diz que a única
resposta de Fidel foi oferecer
que a família fosse a Cuba visitar as Hildas mãe e avó.
Convite recusado. "Se não
deixam sair a minha avó, de
89 anos, podem não me deixar sair também."
Texto Anterior: Sede da Arquidiocese de Caracas é alvo de jovens encapuzados Próximo Texto: Bombardeios em Gaza e disparos de mísseis contra Israel matam 11 Índice
|