São Paulo, sábado, 28 de fevereiro de 2009

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Obama anuncia saída do Iraque para 2011

Ao menos dois terços das tropas americanas deixarão país até agosto de 2010; movimento encerrará oficialmente guerra iniciada em 2003

Mas prazo e contingente "residual" de 35 mil a 50 mil homens que permanecerá até a retirada total superam o prometido em campanha

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Pelo menos 91 mil iraquianos e 4.500 soldados norte-americanos mortos, US$ 656 bilhões gastos e quase seis anos depois de os EUA invadirem o Iraque sob falso pretexto, no dia 20 de março de 2003, o país fixa um prazo para a retirada da maior parte de suas tropas. Será até o dia 31 de agosto de 2010, anunciou ontem o presidente Barack Obama. O restante sairá no final de 2011, prometeu.
O democrata cumpre assim, parcialmente, sua promessa de campanha, de que retiraria em 16 meses a maior parte dos soldados do Iraque. Serão 19 meses, e entre 35 mil e 50 mil militares devem continuar naquele país -não em missão de combate, segundo Obama, mas de "apoio". Na hipótese maior, é ligeiramente mais do que um terço dos atuais 142 mil homens e mulheres de farda hoje, o que foge da definição de "força residual" com a qual o então candidato acenava dos palanques, no ano passado.
Ainda assim, é um avanço, a primeira vez que uma data oficial de retirada é anunciada por um ocupante da Casa Branca desde a invasão. "Deixe-me dizer tão diretamente quanto possível: em 31 de agosto de 2010, nossa missão de combate no Iraque terminará", afirmou Obama, sob aplausos, em cerimônia no campo Lejeune, de fuzileiros navais, na Carolina do Norte. No início do discurso, ele havia avisado: "Hoje, eu venho aqui falar a vocês como a guerra no Iraque terminará".
Mas Obama evitou dizer que a guerra acabou. Ele se lembra do custo político do anúncio de George W. Bush, feito em 1º de maio de 2003 no porta-aviões Abraham Lincoln, tendo como pano de fundo uma faixa que dizia "Missão Cumprida": "As principais operações de combate no Iraque terminaram".
Nos próximos anos, o país sairia de controle, e a organização terrorista Al Qaeda, até então ausente do Iraque, se instalaria ali. Hoje, Obama se aproveita da relativa calma e do relativo sucesso proporcionado tanto pela escalada de tropas ordenada por Bush em 2007 como pela série de acordos entre líderes sunitas para coibir a violência, iniciados em 2005.

Irã e Síria
Obama fez um resumo positivo da intervenção americana. A situação melhorou, disse, a violência foi reduzida, a Al Qaeda sofreu perdas importantes, a capacidade das forças de segurança e o processo político iraquianos evoluíram.
"Mas que não haja dúvida: o Iraque ainda não está seguro, e vai haver dias difíceis pela frente", afirmou, para enumerar: a violência vai continuar a fazer parte do dia-a-dia, questões políticas fundamentais continuam sem solução, há muitos iraquianos deslocados, a queda do preço do petróleo vai piorar a crise no país, e nem todos os países vizinhos colaboram com sua estabilidade.
Ele se referia indiretamente ao Irã e à Síria, que os EUA acusam de fornecerem armas para os insurgentes iraquianos e de facilitar a entrada de militantes em missões suicidas. Mais adiante, Obama citaria nominalmente os países ao convocá-los para negociar. "Os EUA querem promover envolvimento sustentável e de princípios com todas as nações da região, e isso incluirá Irã e Síria."
Depois que os EUA removerem suas brigadas de combate, após agosto de 2010, disse Obama, "nossa missão vai mudar de combate para apoio ao governo do Iraque e às Forças de Segurança". Essas cumprirão três funções, segundo o democrata: treinar, equipar e aconselhar as forças, "desde que permaneçam não sectárias".
A preocupação com o sectarismo se explica num país que por décadas só existiu no mapa, palco de tensão entre árabes xiitas, árabes sunitas e curdos, só adormecidas durante os 25 anos da ditadura sangrenta de Saddam Hussein.
Obama mencionou o líder árabe, executado no dia 30 de dezembro de 2006, dizendo que sua queda foi "serviço benfeito" dos soldados dos EUA.
Ontem ainda, na mesma cerimônia, Obama anunciou o novo nome para a Embaixada do Iraque. Será Christopher Hill, ex-embaixador na Polônia, na Coreia do Sul e na Macedônia.


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