|
Próximo Texto | Índice
Obama anuncia saída do Iraque para 2011
Ao menos dois terços das tropas americanas deixarão país até agosto de 2010; movimento encerrará oficialmente guerra iniciada em 2003
Mas prazo e contingente "residual" de 35 mil a 50 mil homens que permanecerá até a retirada total superam o prometido em campanha
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Pelo menos 91 mil iraquianos
e 4.500 soldados norte-americanos mortos, US$ 656 bilhões
gastos e quase seis anos depois
de os EUA invadirem o Iraque
sob falso pretexto, no dia 20 de
março de 2003, o país fixa um
prazo para a retirada da maior
parte de suas tropas. Será até o
dia 31 de agosto de 2010, anunciou ontem o presidente Barack Obama. O restante sairá
no final de 2011, prometeu.
O democrata cumpre assim,
parcialmente, sua promessa de
campanha, de que retiraria em
16 meses a maior parte dos soldados do Iraque. Serão 19 meses, e entre 35 mil e 50 mil militares devem continuar naquele
país -não em missão de combate, segundo Obama, mas de
"apoio". Na hipótese maior, é ligeiramente mais do que um
terço dos atuais 142 mil homens e mulheres de farda hoje,
o que foge da definição de "força residual" com a qual o então
candidato acenava dos palanques, no ano passado.
Ainda assim, é um avanço, a
primeira vez que uma data oficial de retirada é anunciada por
um ocupante da Casa Branca
desde a invasão. "Deixe-me dizer tão diretamente quanto
possível: em 31 de agosto de
2010, nossa missão de combate
no Iraque terminará", afirmou
Obama, sob aplausos, em cerimônia no campo Lejeune, de
fuzileiros navais, na Carolina
do Norte. No início do discurso,
ele havia avisado: "Hoje, eu venho aqui falar a vocês como a
guerra no Iraque terminará".
Mas Obama evitou dizer que
a guerra acabou. Ele se lembra
do custo político do anúncio de
George W. Bush, feito em 1º de
maio de 2003 no porta-aviões
Abraham Lincoln, tendo como
pano de fundo uma faixa que
dizia "Missão Cumprida": "As
principais operações de combate no Iraque terminaram".
Nos próximos anos, o país
sairia de controle, e a organização terrorista Al Qaeda, até então ausente do Iraque, se instalaria ali. Hoje, Obama se aproveita da relativa calma e do relativo sucesso proporcionado
tanto pela escalada de tropas
ordenada por Bush em 2007
como pela série de acordos entre líderes sunitas para coibir a
violência, iniciados em 2005.
Irã e Síria
Obama fez um resumo positivo da intervenção americana.
A situação melhorou, disse, a
violência foi reduzida, a Al Qaeda sofreu perdas importantes, a
capacidade das forças de segurança e o processo político iraquianos evoluíram.
"Mas que não haja dúvida: o
Iraque ainda não está seguro, e
vai haver dias difíceis pela frente", afirmou, para enumerar: a
violência vai continuar a fazer
parte do dia-a-dia, questões políticas fundamentais continuam sem solução, há muitos
iraquianos deslocados, a queda
do preço do petróleo vai piorar
a crise no país, e nem todos os
países vizinhos colaboram com
sua estabilidade.
Ele se referia indiretamente
ao Irã e à Síria, que os EUA acusam de fornecerem armas para
os insurgentes iraquianos e de
facilitar a entrada de militantes
em missões suicidas. Mais
adiante, Obama citaria nominalmente os países ao convocá-los para negociar. "Os EUA
querem promover envolvimento sustentável e de princípios com todas as nações da região, e isso incluirá Irã e Síria."
Depois que os EUA removerem suas brigadas de combate,
após agosto de 2010, disse Obama, "nossa missão vai mudar de
combate para apoio ao governo
do Iraque e às Forças de Segurança". Essas cumprirão três
funções, segundo o democrata:
treinar, equipar e aconselhar as
forças, "desde que permaneçam não sectárias".
A preocupação com o sectarismo se explica num país que
por décadas só existiu no mapa,
palco de tensão entre árabes
xiitas, árabes sunitas e curdos,
só adormecidas durante os 25
anos da ditadura sangrenta de
Saddam Hussein.
Obama mencionou o líder
árabe, executado no dia 30 de
dezembro de 2006, dizendo
que sua queda foi "serviço benfeito" dos soldados dos EUA.
Ontem ainda, na mesma cerimônia, Obama anunciou o novo nome para a Embaixada do
Iraque. Será Christopher Hill,
ex-embaixador na Polônia, na
Coreia do Sul e na Macedônia.
Próximo Texto: Frase Índice
|