São Paulo, sábado, 28 de fevereiro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Plano agrada à oposição e frustra base democrata

Ex-rival McCain é um dos republicanos a expressar apoio à estratégia de Obama

Líderes democratas dizem que vão tentar convencer presidente a reduzir número de tropas residuais que permanecerão no Iraque

Logan Mock-Bunting/France Presse
Obama discursa ao lado da cúpula militar na base de Camp Lejeune, na Carolina do Norte


DE WASHINGTON

Mostra de que o anúncio de retirada do Iraque feito ontem pelo democrata Barack Obama ficou no meio do caminho do que sua base esperava, a decisão foi saudada com mais entusiasmo pela oposição republicana do que por membros do próprio partido do presidente.
A começar por John McCain, seu adversário nas eleições de 2008. "No geral, acho que o plano é razoável, pode funcionar e eu o apoio", disse o republicano. O que fazer em relação à Guerra do Iraque foi um dos pontos divisores das duas candidaturas em 2008. Não foi McCain que mudou, mas Obama, segundo o senador: "Isso [o anúncio feito ontem] é completamente diferente do que ele falava na campanha".
Obama se defendeu dizendo que recalibrou seu plano depois de diversas reuniões com o comando militar norte-americano e que pode mudar tudo de novo, se a situação no front assim exigir: "Vamos proceder com cautela, e eu vou me consultar de perto com meus comandantes militares no solo e com o governo iraquiano".
Foi o suficiente para os dois principais líderes democratas sugerirem que pediriam uma diminuição das tropas remanescentes em encontros futuros com Obama. "Espero discutir esse plano com mais profundidade com o presidente", disse Harry Reid, líder da maioria democrata no Senado. Anteontem, ele havia dito que entre 35 mil e 50 mil soldados era um número "bem maior" do que o que ele esperava.
Mesma linha seguiu a presidente do Congresso, representante (deputada federal) Nancy Pelosi. "Conforme a política do presidente Obama seja implantada, as missões das tropas remanescentes devem ser muito bem definidas para que o número de soldados necessários para realizá-las seja o mínimo possível", afirmou.
Outros foram mais diretos. O número "é inaceitável", disse o representante democrata Lynn Woolsey. "Temos de concluir logo esse lamentável capítulo da história americana", concordou seu colega e ex-pré-candidato democrata à presidência Dennis Kucinich.
Essa não é a primeira vez que Barack Obama deixa de cumprir na totalidade uma das promessas-chave de sua campanha, frustrando sua base mais progressista. Foi assim, por exemplo, com o desmanche do aparato principal da "guerra ao terror" de George W. Bush.
Com uma canetada, Obama ordenou o fechamento da prisão militar de Guantánamo, proibiu a tortura e as prisões secretas da CIA. Aos poucos, no entanto, a realidade tem se mostrado que a mudança não é tão ampla quanto o anunciado.
Em depoimentos recentes, o novo chefe da agência de inteligência deixou abertas as portas pra uso tanto de "técnicas reforçadas" de interrogatório. Como disse Richard Haass, presidente do influente centro de pensamento Council on Foreign Relations, em Nova York, "políticos fazem campanha em branco e preto e governam em tons de cinza". Cinza é o tom da "retirada do Iraque" de ontem.
(SÉRGIO DÁVILA)


Texto Anterior: Frase
Próximo Texto: Justiça: Único combatente inimigo preso nos EUA é denunciado
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.