São Paulo, domingo, 28 de fevereiro de 2010 |
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Forte terremoto mata mais de 300 no Chile
Tremor na madrugada atinge 8,8 graus, causa grandes danos na região central do país e assusta moradores de Santiago
CRIS BERGER COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE SANTIAGO
Tremores de terra não são
novidades para os moradores
do Chile. Um terremoto com
8,8 graus na escala Richter, sim.
O último abalo sísmico expressivo acontecera há 25 anos, tema esquecido entre os santiaguinos até a madrugada de ontem quando às 3h44 chão e paredes começaram a tremer, os
móveis a cair, objetos de vidro a
estilhaçar por um minuto e
meio, tempo demais para não
saber o que vinha pela frente.
"O terremoto de 85 começou
devagar e foi crescendo de intensidade. Este iniciou forte e
se manteve assim todo o tempo", relata Gean Paolo Sanino,
que diz se lembrar do antigo e
sentencia: o de ontem, o quinto
mais forte da história, segundo
o Centro de Pesquisa Geológica
dos EUA, foi muito pior.
O grande estrago aconteceu
em Concepción, 120 km a sudeste do epicentro que ocorreu
no mar a 35 km de profundidade. Até agora foram contabilizadas mais de 300 mortos, 15
desaparecidos e até 2 milhões
de pessoas atingidas. Em Santiago, o sismo teve magnitude
de 7 graus, número semelhante
ao do tremor no Haiti em janeiro, no qual morreram 217 mil.
A presidente Michelle Bachelet estabeleceu "estado de
catástrofe" na região central do
país. O governo estima que pelo
menos meio milhão de residências tenham sido danificadas.
As ruas de Providência, um
bairro abonado da capital, pareciam calmas no sábado ensolarado. Tranquilas demais. Um
medo silencioso pairava no ar.
Durante o dia, pequenas réplicas lembravam o que ninguém
queria: a qualquer hora outro
abalo forte poderia acontecer.
Nenhum prédio nos principais bairros comerciais, turísticos e de nível alto de Santiago
ruíram. O que se viu foram rachaduras nas paredes e a parte
interior das casas com objetos
quebrados, como relata a escultora brasileira radicada na cidade Sandra Scola, que teve duas
obras de bronze partidas ao
meio. Pontes e viadutos vieram
abaixo e estradas principais de
entrada e saída da cidade foram
seriamente afetadas.
Depois do terremoto de 1960
(o maior do mundo, com 9,5 na
escala Richter) se estabeleceu
uma cultura antissísmica, com
a implementação de regras para as novas construções -diferentemente do que aconteceu
nas partes menos privilegiadas
da cidade, na qual casas vieram
abaixo com o abalo.
No parque Uruguai, na beira
do rio Mapocho, que atravessa
a cidade, estava o casal Miriam
Marro e Jorge Barbosa, moradores de Punta Arenas, cidade
localizada no extremo sul do
Chile que não foi afetada pelo
terremoto. Eles vieram para a
capital a trabalho e vivenciaram uma noite de pânico.
"Estávamos sem luz, não havia como descer do 12º andar, o
que fizemos foi nos abraçar e
rezar." No sábado, resolveram
ficar no lugar mais seguro de
Santiago, numa praça longe de
prédios, postes de luz e marquises. O clima era de apreensão.
O relato é semelhante em todas as partes. Primeiro veio o
tremor e logo o barulho de coisas quebrando e lajes rachando.
Todos parecem saber como
agir: ficar embaixo do batente
da porta principal da casa ou
apartamento, deixar pronta
uma mochila com roupas, água
e comida, abandonar os edifícios assim que o tremor cesse e
procurar por uma área isolada
longe de prédios, como aconselha Ricardo Mella, do Grupo de
Reação, Intervenção e Emergência do Chile, que coordenava o trânsito da avenida Providência sob o temor de novos
abalos sísmicos.
Quem passa e vê Maria Eugência Benson e a filha Denise
deitadas no parque pode pensar que estão só descansando.
Como boa parte de quem estava em Santiago ontem, elas não
dormiram depois do terremoto. O que estavam tentando fazer era relaxar, apesar do "pânico controlado" que toma conta
da cidade. "Esse terremoto estava pendente, a cada dez, 20
anos temos um. Vai ser algo forte que vamos lembrar e temer
por um longo período."
Folha Online
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