São Paulo, domingo, 28 de fevereiro de 2010

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Iraque tenta se legitimar com eleições legislativas sem EUA

Bagdá usa pleito para mostrar que pode cuidar do país sem ajuda americana

SAMY ADGHIRNI
DA REPORTAGEM LOCAL

Autoridades iraquianas articulam em duas frentes os esforços para que a eleição parlamentar do próximo domingo tenha a legitimidade indispensável para fortalecer o governo e amenizar o risco de aumento das tensões étnicas e religiosas no lastro da já iniciada saída das tropas americanas do país.
No campo da segurança, os esforços visam montar um dispositivo capaz de dar à população a impressão de que ela poderá comparecer às urnas sem medo das reiteradas ameaças de ataques insurgentes.
Na esfera política, o governo manobra para assegurar que o resultado do pleito seja visto como justo pela população e aceito pelas principais facções.
Aos olhos de Bagdá, somente a perspectiva de uma eleição segura e limpa poderá levar a um comparecimento em massa às urnas. Nessa ótica, quanto maior o número de votantes, mais legítimo será o governo.
A operação montada para o dia da eleição inclui o fechamento das fronteiras nacionais e regionais. Haverá toque de recolher noturno já na véspera do pleito, que mobilizará centenas de milhares de agentes oficiais.
Mas a sensação de medo dificilmente será apagada. Grupos insurgentes consideram o pleito ilegítimo e prometem força total para impedi-lo. Atentados despencaram desde 2007, graças a uma estratégia que combinou aumento de tropas americanas e cooptação de milícias tribais. Mas os ataques de hoje estão mais ambiciosos e certeiros. Os mais recentes causaram carnificinas em prédios oficiais, deixando a mensagem de que um governo que não consegue proteger suas próprias instalações jamais poderá prover segurança à população.
Oficialmente, as tropas americanas acompanham os preparativos de segurança à distância, para não ferir a retórica de soberania martelada pelo premiê Nuri al Maliki, um xiita nacionalista que quer reeleger-se.
Em virtude de um pacto firmado com Bagdá em 2008, as tropas dos EUA estão desde junho confinadas às bases, podendo sair delas só por razões logísticas ou a pedido do governo iraquiano. Pelo acordo, os americanos encerrarão sua presença no Iraque até 2011.
Mas, na prática, o governo iraquiano ainda é dependente das informações de Inteligência e dos treinamentos de segurança fornecidos pelos EUA. Washington já admite abertamente a possibilidade de estender sua missão no Iraque.
Os americanos também estão envolvidos nos preparativos para o pleito, treinando autoridades eleitorais iraquianas e ajudando na formação dos encarregados de monitorar a lisura do processo.
Paralelamente às iniciativas de segurança, Maliki vem estendendo a mão à minoria sunita, favorecida na era Saddam Hussein e que vê como revanchista o atual governo dominado por xiitas, alimentando tensões sectárias. Na semana passada, o premiê reintegrou 20 mil soldados (sunitas em sua maioria) que haviam sido expulsos do Exército com o desmantelamento das Forças Armadas do antigo regime. Maliki também reuniu em Bagdá líderes tribais sunitas para pedir o fim das velhas clivagens.
As manobras do premiê se explicam em parte pela busca de votos e em parte pela necessidade de tranquilizar os sunitas, furiosos com a recente decisão da Justiça de banir da eleição 511 candidatos por terem sido membros do partido Baath, de Saddam.



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