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Iraque tenta se legitimar com eleições legislativas sem EUA
Bagdá usa pleito para mostrar que pode cuidar do país sem ajuda americana
SAMY ADGHIRNI
DA REPORTAGEM LOCAL
Autoridades iraquianas articulam em duas frentes os esforços para que a eleição parlamentar do próximo domingo
tenha a legitimidade indispensável para fortalecer o governo
e amenizar o risco de aumento
das tensões étnicas e religiosas
no lastro da já iniciada saída das
tropas americanas do país.
No campo da segurança, os
esforços visam montar um dispositivo capaz de dar à população a impressão de que ela poderá comparecer às urnas sem
medo das reiteradas ameaças
de ataques insurgentes.
Na esfera política, o governo
manobra para assegurar que o
resultado do pleito seja visto
como justo pela população e
aceito pelas principais facções.
Aos olhos de Bagdá, somente
a perspectiva de uma eleição
segura e limpa poderá levar a
um comparecimento em massa
às urnas. Nessa ótica, quanto
maior o número de votantes,
mais legítimo será o governo.
A operação montada para o
dia da eleição inclui o fechamento das fronteiras nacionais
e regionais. Haverá toque de recolher noturno já na véspera do
pleito, que mobilizará centenas
de milhares de agentes oficiais.
Mas a sensação de medo dificilmente será apagada. Grupos
insurgentes consideram o pleito ilegítimo e prometem força
total para impedi-lo. Atentados
despencaram desde 2007, graças a uma estratégia que combinou aumento de tropas americanas e cooptação de milícias
tribais. Mas os ataques de hoje
estão mais ambiciosos e certeiros. Os mais recentes causaram
carnificinas em prédios oficiais, deixando a mensagem de
que um governo que não consegue proteger suas próprias instalações jamais poderá prover
segurança à população.
Oficialmente, as tropas americanas acompanham os preparativos de segurança à distância, para não ferir a retórica de
soberania martelada pelo premiê Nuri al Maliki, um xiita nacionalista que quer reeleger-se.
Em virtude de um pacto firmado com Bagdá em 2008, as
tropas dos EUA estão desde junho confinadas às bases, podendo sair delas só por razões
logísticas ou a pedido do governo iraquiano. Pelo acordo, os
americanos encerrarão sua
presença no Iraque até 2011.
Mas, na prática, o governo
iraquiano ainda é dependente
das informações de Inteligência e dos treinamentos de segurança fornecidos pelos EUA.
Washington já admite abertamente a possibilidade de estender sua missão no Iraque.
Os americanos também estão envolvidos nos preparativos para o pleito, treinando autoridades eleitorais iraquianas
e ajudando na formação dos encarregados de monitorar a lisura do processo.
Paralelamente às iniciativas
de segurança, Maliki vem estendendo a mão à minoria sunita, favorecida na era Saddam
Hussein e que vê como revanchista o atual governo dominado por xiitas, alimentando tensões sectárias. Na semana passada, o premiê reintegrou 20
mil soldados (sunitas em sua
maioria) que haviam sido expulsos do Exército com o desmantelamento das Forças Armadas do antigo regime. Maliki
também reuniu em Bagdá líderes tribais sunitas para pedir o
fim das velhas clivagens.
As manobras do premiê se
explicam em parte pela busca
de votos e em parte pela necessidade de tranquilizar os sunitas, furiosos com a recente decisão da Justiça de banir da
eleição 511 candidatos por terem sido membros do partido
Baath, de Saddam.
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