São Paulo, quarta-feira, 28 de março de 2001

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ÁFRICA

Relatório da Human Rights Watch mostra que as estudantes são atacadas por colegas e professores em todo o país

Estupro se espalha em escolas sul-africanas

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Estudantes sul-africanas estão sendo estupradas por colegas e professores em números alarmantes, segundo um relatório divulgado ontem pela organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch, com sede em Nova York.
O documento relata casos generalizados de violações aos direitos humanos nas escolas do país e traz novas provas da violência sexual que assola a África do Sul.
"Garotas estão sendo estupradas, abusadas sexualmente, assediadas e atacadas", disse Erika George, autora do estudo.
A Human Rights Watch entrevistou 36 vítimas de violência sexual, entre elas uma menina de nove anos estuprada por um grupo de colegas de aula e uma adolescente de 15 anos estuprada pelo professor.
As garotas, segundo o relatório, são atacadas nos banheiros das escolas, em classes vazias, corredores e dormitórios. Professores abusam de sua autoridade para molestar as meninas, muitas vezes ameaçando agredi-las ou prometendo melhores notas ou até mesmo dinheiro.
A Human Rights Watch fez um apelo ao governo sul-africano para que desenvolva um plano de ação nacional para combater o problema. A ONG sugere a adoção de procedimentos para selecionar melhor os professores e de medidas punitivas contra os que cometerem abusos sexuais.
O governo sul-africano, segundo a Human Rights Watch, tem feito esforços significativos para melhorar a resposta do Estado à violência contra a mulher. Mas é preciso que haja uma vigilância maior nas escolas.
De acordo com o relatório, na maioria dos casos de abuso sexual as autoridades escolares reagiram de forma hostil ou indiferente às reclamações das vítimas. Muitas garotas tiveram, inclusive, de abandonar os estudos por causa do trauma.
"Tudo me faz lembrar, o uniforme me lembra o que aconteceu...Posso ouvir o professor rindo de mim nos meus sonhos", contou uma aluna vítima de estupro.
A Human Rights Watch atribui a cultura de violência endêmica nas escolas e na sociedade sul-africanas ao legado do apartheid (1948-1994), período de segregação racial no qual os conflitos políticos e sociais eram resolvidos por métodos violentos.
A epidemia de Aids na África do Sul, que possui 4,7 milhões de infectados -o maior número de pessoas vivendo com o vírus HIV no mundo-, agrava ainda mais o problema. Muitas vítimas de estupro estão morrendo de Aids.
Johannesburgo, o centro comercial do país, ganhou fama de "capital mundial do estupro".
Há denúncias de bebês de apenas alguns meses que morreram ao ser estuprados, e muitas vítimas temem sofrer represálias do estuprador e de amigos dele se denunciarem o crime à polícia.
Um site criado na Internet para ajudar as vítimas de abuso sexual (www.rape.co.za) diz que uma mulher é estuprada na África do Sul a cada 23 segundos, mas apenas 1 em 37 vítimas denuncia o crime à polícia.
De acordo com um estudo realizado por autoridades municipais de Johannesburgo, 1 em cada 4 sul-africanos cometeu o crime de estupro antes de completar 18 anos. Cerca de 80% dos entrevistados acreditam que as mulheres tenham sido responsáveis pela violência sexual, e 30% disseram que elas "pediram" para ser estupradas.
Dos 28 mil homens entrevistados, 1 em cada 5 acha que as mulheres gostaram do estupro.


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