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São Paulo, sexta-feira, 28 de março de 2003

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ESTRATÉGIA

Segundo oficiais, cronograma da guerra está três dias defasado; Pentágono não previu resistência

Atraso dos EUA reflete erro nos planos

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Prever o desenrolar de uma campanha militar está muito longe de ser uma ciência exata. Os conflitos rápidos em que os EUA se envolveram em anos recentes desacostumaram a opinião pública mundial de algo que antes era óbvio: a guerra é o terreno por excelência do imprevisto e do inesperado, não tem data marcada para terminar nem número de baixas preestabelecido.
O curioso é que essa crença em conflitos rápidos e "cirúrgicos" tenha afetado também a liderança político-militar dos EUA, que somaram a inépcia militar tradicional do Iraque com a rápida vitória sobre o Taleban para concluir que a atual guerra seria um "passeio" em meio a milhares de iraquianos se rendendo e saudando seus "libertadores".
Antes da invasão do Iraque alguns analistas previam que ela duraria dias, outros falavam em semanas. Começada a guerra, ambas previsões continuam sendo divulgadas, e não há como cravar com certeza quem teve acesso à melhor bola de cristal.
E há mesmo quem fale em um conflito de meses de duração, como alguns generais aposentados ouvidos pelo jornal americano "The Washington Post".
"Neblina da guerra" era a expressão usada no século 19 pelo pensador alemão Carl von Clausewitz para representar essa situação. Os campos de batalha de então ficavam cobertos com a fumaça dos combates, impedindo sua visão e a compreensão do que ocorria. Algo parecido com o que as tempestades de areia fazem agora no Iraque.
Os aliados planejaram tomar a cidade de Caen no próprio Dia D, a invasão da França na Segunda Guerra em 1944. Os britânicos levaram mais de um mês para tomar a cidade e destruir 80% dela.
O prazo otimista de que as forças da coalizão anglo-americana estariam chutando as portas de Bagdá em uma semana não levou em conta as tempestades de areia, a resistência de forças irregulares, o terror que Saddam Hussein impõe à população e aos seus soldados e o fato de que as tropas atacantes têm bem menos poderio em terra do que a doutrina militar tradicional recomendaria.
O correspondente do "New York Times" junto à 1ª Divisão de Marines (fuzileiros navais) relatou declarações de oficiais, que não se identificaram, de que o avanço está três dias atrasado.
Toda operação militar tem um cronograma de vários dias previamente estabelecido. "Dia D" e "Hora H" são os termos usados para descrever o dia e o momento inicial de um ataque, mas o planejamento vai além.
Ontem, o oitavo dia da guerra, seria descrito como "Dia D +8" no planejamento dos marines. Mas eles estavam no ponto previsto para "Dia D +5".
Todo comandante sensato ataca mantendo uma força de reserva. Se ele tem três divisões, duas podem estar na linha de frente e uma na reserva, esperando o momento para ser empregada com sucesso, para "explorar o êxito".
Marines e a 3ª Divisão de Infantaria são as tropas mais engajadas em combate. A 101ª Divisão Aerotransportada, equipada com grande número de helicópteros, está tendo o papel de reserva.
O avanço se faz em "pinças", em colunas paralelas procurando atingir os iraquianos por dois lados. A 101ª pode ter o papel de fechar o cerco a Bagdá. Seus homens seriam levados para pontos ao norte da capital iraquiana, ou mesmo para o aeroporto internacional, onde poderiam começar a receber reforços e suprimentos por via aérea.
Em 1967 os israelenses venceram os árabes depois de apenas seis dias de combate. Em 1991, foram apenas cem horas de combates terrestres.
A aposta americana ainda é vencer com apenas as forças presentes no teatro de operações. Há reforços a caminho e o fato de terem demorado tanto para ser enviados é uma das maiores falhas do planejamento da coalizão.


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