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ESTRATÉGIA
Segundo oficiais, cronograma da guerra está três dias defasado; Pentágono não previu resistência
Atraso dos EUA reflete erro nos planos
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Prever o desenrolar de uma
campanha militar está muito longe de ser uma ciência exata. Os
conflitos rápidos em que os EUA
se envolveram em anos recentes
desacostumaram a opinião pública mundial de algo que antes era
óbvio: a guerra é o terreno por excelência do imprevisto e do inesperado, não tem data marcada
para terminar nem número de
baixas preestabelecido.
O curioso é que essa crença em
conflitos rápidos e "cirúrgicos"
tenha afetado também a liderança
político-militar dos EUA, que somaram a inépcia militar tradicional do Iraque com a rápida vitória
sobre o Taleban para concluir que
a atual guerra seria um "passeio"
em meio a milhares de iraquianos
se rendendo e saudando seus "libertadores".
Antes da invasão do Iraque alguns analistas previam que ela
duraria dias, outros falavam em
semanas. Começada a guerra,
ambas previsões continuam sendo divulgadas, e não há como cravar com certeza quem teve acesso
à melhor bola de cristal.
E há mesmo quem fale em um
conflito de meses de duração, como alguns generais aposentados
ouvidos pelo jornal americano
"The Washington Post".
"Neblina da guerra" era a expressão usada no século 19 pelo
pensador alemão Carl von Clausewitz para representar essa situação. Os campos de batalha de então ficavam cobertos com a fumaça dos combates, impedindo sua
visão e a compreensão do que
ocorria. Algo parecido com o que
as tempestades de areia fazem
agora no Iraque.
Os aliados planejaram tomar a
cidade de Caen no próprio Dia D,
a invasão da França na Segunda
Guerra em 1944. Os britânicos levaram mais de um mês para tomar a cidade e destruir 80% dela.
O prazo otimista de que as forças da coalizão anglo-americana
estariam chutando as portas de
Bagdá em uma semana não levou
em conta as tempestades de areia,
a resistência de forças irregulares,
o terror que Saddam Hussein impõe à população e aos seus soldados e o fato de que as tropas atacantes têm bem menos poderio
em terra do que a doutrina militar
tradicional recomendaria.
O correspondente do "New
York Times" junto à 1ª Divisão de
Marines (fuzileiros navais) relatou declarações de oficiais, que
não se identificaram, de que o
avanço está três dias atrasado.
Toda operação militar tem um
cronograma de vários dias previamente estabelecido. "Dia D" e
"Hora H" são os termos usados
para descrever o dia e o momento
inicial de um ataque, mas o planejamento vai além.
Ontem, o oitavo dia da guerra,
seria descrito como "Dia D +8"
no planejamento dos marines.
Mas eles estavam no ponto previsto para "Dia D +5".
Todo comandante sensato ataca
mantendo uma força de reserva.
Se ele tem três divisões, duas podem estar na linha de frente e uma
na reserva, esperando o momento
para ser empregada com sucesso,
para "explorar o êxito".
Marines e a 3ª Divisão de Infantaria são as tropas mais engajadas
em combate. A 101ª Divisão Aerotransportada, equipada com
grande número de helicópteros,
está tendo o papel de reserva.
O avanço se faz em "pinças", em
colunas paralelas procurando
atingir os iraquianos por dois lados. A 101ª pode ter o papel de fechar o cerco a Bagdá. Seus homens seriam levados para pontos
ao norte da capital iraquiana, ou
mesmo para o aeroporto internacional, onde poderiam começar a
receber reforços e suprimentos
por via aérea.
Em 1967 os israelenses venceram os árabes depois de apenas
seis dias de combate. Em 1991, foram apenas cem horas de combates terrestres.
A aposta americana ainda é
vencer com apenas as forças presentes no teatro de operações. Há
reforços a caminho e o fato de terem demorado tanto para ser enviados é uma das maiores falhas
do planejamento da coalizão.
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