São Paulo, terça-feira, 28 de março de 2006

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ORIENTE MÉDIO

Com plano unilateral, partido do premiê em coma deve formar governo e preferir trabalhistas na coalizão

Israel decide nas urnas legado de Sharon

Pedro Ugarte/France Presse
Ativista do Kadima ajeita pôster de Sharon no palco onde o partido centrista encerrou campanha


MICHEL GAWENDO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE JERUSALÉM

Criado há quatro meses para ser o partido de Ariel Sharon, o Kadima enfrenta hoje sua primeira eleição e põe em teste a proposta de levar adiante o legado do premiê em coma e demarcar as fronteiras finais de Israel sem negociar com os palestinos.
O partido, que já teve 44 cadeiras nas pesquisas, perdeu terreno nos últimos dez dias, mas na véspera da eleição parou de cair e chega ao dia da votação com 36 vagas previstas para o Parlamento de 120. Se não houver surpresa de última hora, o Kadima será confirmado como o maior partido e terá os trabalhistas, com algo em torno de 20 cadeiras, como grande parceiro de coalizão.
O Likud, partido nacionalista de direita liderado por Binyamin Netanyahu, deve perder espaço, de acordo com as sondagens, para outro partido de direita, o Israel Beiteinu (Nossa Casa).
Com as atuais previsões, o bloco governista teria partidos de tendências diferentes, como o religioso Shas, com previsão de eleger 11 deputados, e o secular Meretz, que pode fazer 6.
O que vai determinar a participação no governo e o apoio no Parlamento é a aceitação da plataforma do Kadima, que foi o principal tema da campanha: retirar assentamentos isolados da Cisjordânia e reunir os colonos nas grandes cidades judaicas do território palestino -e anexá-las. Olmert não disse como pretende fazer isso. Só anunciou que não vai agir antes de um debate interno em Israel e com a comunidade internacional. O objetivo final declarado pelo premiê interino é manter Israel como um país de maioria de população judia.

Rejeição palestina
Os palestinos são contra o projeto e acham que medidas unilaterais não têm como trazer paz. As eleições em Israel coincidem com a posse do gabinete do Hamas, dirigido por Ismail Haniyeh.
Os trabalhistas exigem em troca do apoio medidas de caráter social. A situação em Israel, onde 1,5 milhão de pessoas são consideradas pobres, foi o segundo tema mais debatido na campanha.
"Nossa vitória foi ter conseguido incluir os temas sociais na agenda. Nos próximos quatro anos isso vai ser debatido em Israel, não importa quem forme o governo", disse o líder Amir Peretz, que defende o aumento do salário mínimo de US$ 750 para US$ 1.000.
No tema das fronteiras, os trabalhistas não divergem do Kadima, mas preferem uma atitude de incentivo ao presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, e não de boicote, como Olmert vem fazendo. O Kadima prefere esperar até que o Hamas abra mão do terror.
Mas o partido não fixou calendários, passando a impressão de que está disposto a adotar o unilateralismo de qualquer maneira.
Shimon Peres, número dois da lista de candidatos, afirma que o Kadima terá "a paciência que for necessária". Já Chaim Ramon, um dos idealizadores do Kadima, cogitou um período de entre seis meses e um ano.
Olmert tem ainda a opção de receber apoio do Israel Beitenu, liderado pelo radical de direita Avigdor Liberman, partidário da separação entre judeus e árabes.
A maior preocupação dos partidos nos últimos dias foi com o baixo índice de participação e com os indecisos, que têm potencial para mudar o cenário. As principais sondagens dizem que 35% dos eleitores não pretendem votar e que há 22% de indecisos.
Para o governo, a maior preocupação é com segurança. A inteligência afirma ter 16 alertas de atentados. A entrada de palestinos da Cisjordânia e da Faixa de Gaza a Israel está proibida pelo menos até sábado.
No último dia de campanha, o Kadima apostou no carisma da chanceler Tzipi Livni, apontada por Olmert para ser vice-premiê em seu futuro governo. Livni foi à principal feira livre de Jerusalém Ocidental, reduto da direita religiosa. Mas não conseguiu andar muito: adolescentes do partido Mafdal, nacionalista religioso, impediram que ela terminasse seu percurso.
"Livni é de esquerda e Kadima é de corruptos", gritaram, e fecharam a rua. Retirada pela segurança, Livni teve que continuar a campanha em um shopping.


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