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Protesto de monges foge a roteiro chinês
Pequim tenta mostrar a jornalistas que situação no Tibete está normal, mas não impede manifestação
GEOFF DYER
DO "FINANCIAL TIMES", EM LHASA
As tensões políticas que fervilham no Tibete explodiram
ontem em um dos mais importantes templos de Lhasa, quando um grupo de 30 jovens monges budistas interrompeu uma
visita de jornalistas internacionais organizada pelo governo
chinês, com gritos sobre a falta
de liberdade no país.
Agitados, os monges não escondiam as lágrimas ao acusar
as autoridades chinesas de
mentir aos jornalistas visitantes. "Desejamos um Tibete livre", gritava um deles.
A intrusão dos monges, que
reconheceram que estavam assumindo consideráveis riscos,
perturbou uma visita cuidadosamente coreografada, cujo objetivo era demonstrar que a vida estava voltando ao normal
em Lhasa, depois da onda de
protestos contra o governo chinês nas duas últimas semanas.
O "Financial Times" era parte do pequeno grupo de jornais
convidados a enviar correspondentes à capital tibetana pela
primeira vez desde os tumultos
de 14 de março. Com a proximidade da Olimpíada de Pequim,
o governo chinês vem sofrendo
pressão para oferecer mais liberdade de ação aos jornalistas.
A dramática intervenção dos
monges aconteceu no templo
de Jokhang, na hora em que os
jornalistas conversavam com
Quzhe, vice-diretor do escritório de administração do templo, que dizia que os mosteiros
da cidade estavam calmos.
Enquanto ele falava, os monges abriram caminho até os jornalistas e começaram a expressar suas queixas. Além de pedir
pela libertação do Tibete, os
monges se queixaram de estarem trancados no templo desde
os tumultos de 14 de março.
Os monges também disseram que a pesada presença de
forças de segurança em torno
do tempo só havia sido reduzida para a visita da mídia e que
muitas das pessoas que estavam presentes no templo não
eram verdadeiros fiéis, e sim
convidados dos funcionários
do governo, que queriam gerar
a impressão de que a vida religiosa havia voltado ao normal.
"Sabemos que é provável que
sejamos presos, mas temos de
continuar lutando", disse um
deles. O grupo não demorou a
ser cercado por seguranças que
começaram a tentar interromper a fala deles aos gritos.
Baima Chilin, vice-presidente do Conselho de Governo do
Tibete, negou que as autoridades tivessem criado artificialmente a impressão de que havia movimento de fiéis no templo e disse que os monges não
seriam detidos por suas ações.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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