São Paulo, sexta-feira, 28 de março de 2008

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Protesto de monges foge a roteiro chinês

Pequim tenta mostrar a jornalistas que situação no Tibete está normal, mas não impede manifestação

GEOFF DYER
DO "FINANCIAL TIMES", EM LHASA

As tensões políticas que fervilham no Tibete explodiram ontem em um dos mais importantes templos de Lhasa, quando um grupo de 30 jovens monges budistas interrompeu uma visita de jornalistas internacionais organizada pelo governo chinês, com gritos sobre a falta de liberdade no país.
Agitados, os monges não escondiam as lágrimas ao acusar as autoridades chinesas de mentir aos jornalistas visitantes. "Desejamos um Tibete livre", gritava um deles.
A intrusão dos monges, que reconheceram que estavam assumindo consideráveis riscos, perturbou uma visita cuidadosamente coreografada, cujo objetivo era demonstrar que a vida estava voltando ao normal em Lhasa, depois da onda de protestos contra o governo chinês nas duas últimas semanas.
O "Financial Times" era parte do pequeno grupo de jornais convidados a enviar correspondentes à capital tibetana pela primeira vez desde os tumultos de 14 de março. Com a proximidade da Olimpíada de Pequim, o governo chinês vem sofrendo pressão para oferecer mais liberdade de ação aos jornalistas.
A dramática intervenção dos monges aconteceu no templo de Jokhang, na hora em que os jornalistas conversavam com Quzhe, vice-diretor do escritório de administração do templo, que dizia que os mosteiros da cidade estavam calmos.
Enquanto ele falava, os monges abriram caminho até os jornalistas e começaram a expressar suas queixas. Além de pedir pela libertação do Tibete, os monges se queixaram de estarem trancados no templo desde os tumultos de 14 de março.
Os monges também disseram que a pesada presença de forças de segurança em torno do tempo só havia sido reduzida para a visita da mídia e que muitas das pessoas que estavam presentes no templo não eram verdadeiros fiéis, e sim convidados dos funcionários do governo, que queriam gerar a impressão de que a vida religiosa havia voltado ao normal.
"Sabemos que é provável que sejamos presos, mas temos de continuar lutando", disse um deles. O grupo não demorou a ser cercado por seguranças que começaram a tentar interromper a fala deles aos gritos.
Baima Chilin, vice-presidente do Conselho de Governo do Tibete, negou que as autoridades tivessem criado artificialmente a impressão de que havia movimento de fiéis no templo e disse que os monges não seriam detidos por suas ações.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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