São Paulo, domingo, 28 de março de 2010

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Obama busca consolidar virada após reforma

Aprovação de pacote para o sistema de saúde pode virar marco para afastar democrata de Carter e aproximá-lo de Roosevelt

Presidente já conseguiu gravar seu nome na história das legislações sociais nos EUA, mas efeitos eleitorais são incertos, dizem analistas

Saul Loeb - 25.mar.10/France Presse
O presidente Barack Obama cumprimenta simpatizantes em ato em defesa da reforma do sistema de saúde na Universidade de Iowa

ANDREA MURTA
DE WASHINGTON

A aprovação e ratificação da reforma do sistema de saúde americano na última semana assegurou ao presidente Barack Obama mais do que a vitória em sua bandeira doméstica número um. Também marcou um potencial momento de virada política, que elevou expectativas de que a Casa Branca controlará a agenda política nos EUA de forma mais decisiva daqui para a frente.
Já há sinais de ventos mais favoráveis. Nos dias após a aprovação da lei de reforma na Câmara, no domingo passado, Obama coroou a boa fase anunciando nova lei de apoio aos mutuários e fechando complicado acordo com a Rússia sobre redução de arsenais nucleares.
Por sua vez, os democratas conseguiram avanços até na empacada reforma financeira, que passou na Comissão do Sistema Bancário do Senado.
Antes da vitória legislativa, Obama viu sua popularidade cair de 63% em janeiro para 47% hoje, segundo a média das pesquisas tabulada pelo site Real Clear Politics. A deterioração das relações partidárias praticamente engessou o Congresso. Para os que esperavam recuperação econômica rápida, seu pacote de estímulo de US$ 787 bilhões decepcionou. Obama ainda testemunhou o crescimento de movimentos opositores ultraconservadores e passou a ser classificado como socialista por defender maior papel do governo na sociedade.
Agora, além do status de vencedores dos democratas e do golpe na autoestima republicana, o significado da lei da saúde em si pode transformar a relação de forças no governo. A reforma, que levará planos de saúde a mais 32 milhões de pessoas, vem sendo considerada a maior legislação social dos EUA desde a criação da seguridade social, nos anos 1930. É também a maior mudança no sistema de saúde desde 1965.

Síndrome de Carter
Especialistas concordam que, na melhor das hipóteses, Obama entrou para a história como um dos presidentes que mais contribuíram para a rede de segurança social no país. Na pior, evitou entrar para a categoria dos líderes que não conseguem promover suas agendas -apelidada entre analistas de "síndrome de Jimmy Carter" (democrata que governou o país entre 1977 e 1981 e não conseguiu se reeleger).
Alexander Keyssar, analista político da Universidade Harvard, é um dos partidários da segunda opção. Ele diz que Obama precisou ceder em muitos pontos para aprovar a lei, como na ideia de agência de seguros pública. "Obama não teve uma grande vitória, mas evitou uma grande derrota. Há poucos meses, percebia-se um sério risco de paralisia no governo", disse Keyssar à Folha.
Ainda assim, o analista vê efeitos de longo prazo. "A aprovação da reforma despertou o apetite de Obama por vitórias. Ele escolheu conseguir aprovações em detrimento da ação bipartidária. Nesse sentido, é realmente uma virada."
Comentaristas mais progressistas vão além. Michael Cohen, da New America Foundation, afirmou à Folha crer que a reforma do sistema da saúde "eleva Obama ao patamar de [os ex-presidentes democratas] Lyndon Johnson [1963-1969, que ratificou a lei dos direitos civis] e Franklin Delano Roosevelt [1933-1945, que instituiu a seguridade social]".
"O que quer que aconteça no resto de seu mandato, essa provavelmente será sua conquista mais impressionante. É certamente a mais significativa vitória democrata que eu já testemunhei na vida", diz Cohen.
Sobre os efeitos da reforma nas eleições legislativas e nos índices de popularidade de Obama, poucos se arriscam a fazer previsões. Segundo a média do Real Clear Politics, atualmente 50,7% dos americanos desaprovam a reforma, contra 39,4% que a aprovam. E dada a forte campanha contra dos republicanos, não há garantias de que o discurso de vitória democrata será o preponderante até novembro.


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