São Paulo, domingo, 28 de março de 2010

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Apartamento em área disputada valorizou cinco vezes em 10 anos

DE JERUSALÉM

Talvez a indicação mais sólida da percepção entre os israelenses de que os bairros judeus de Jerusalém Oriental são um fato consumado seja a sua supervalorização imobiliária. Ela ignora pressões externas e resiste às oscilações do conflito.
Há dez anos, quando imigrou para Israel, um analista de sistemas carioca comprou um apartamento de três quartos em Ramat Shlomo por US$ 80 mil. Hoje, ele vale US$ 400 mil.
"A velha lei de mercado vale para qualquer parte da cidade, ocidental ou oriental: há muito mais demanda do que oferta", disse ele à Folha, pedindo para não ser identificado.
Assim como ele, boa parte dos 190 mil judeus que vivem em Jerusalém Oriental está lá por motivos econômicos, não ideológicos, encorajados por incentivos do governo.
A grande concentração de judeus ultraortodoxos e árabes, populações com os mais altos índices de pobreza do país, faz de Jerusalém a cidade de menor renda em Israel, o que reforça o fator econômico da expansão imobiliária rumo ao leste. De acordo com dados recentes, 32,3% dos residentes são considerados pobres.
A falta de acesso aos bairros mais centrais de Jerusalém, supervalorizados pelo desequilíbrio entre demanda e oferta e pelos investimentos de judeus estrangeiros, obriga famílias de baixa renda, estudantes e jovens casais a buscar um teto na periferia da cidade.
Em qualquer cidade seria um movimento natural. Mas em Jerusalém aumenta as tensões políticas, pois é usado pela prefeitura para ampliar bairros na parte oriental da cidade, reivindicada pelos palestinos para ser a capital de seu Estado.
Mas o principal objetivo israelense em Jerusalém é consolidar o seu caráter judaico e tornar uma divisão impossível, dizem os palestinos. "Além dos grandes blocos habitacionais judaicos em Jerusalém Oriental, existem 26 pontos de ocupação no coração dos bairros árabes da cidade", diz o cientista político Rami Nasrallah, morador de Beit Hanina, bairro vizinho a Ramat Shlomo.
Segundo ele, o plano israelense é manter focos de presença judaica nas áreas árabes em torno da Cidade Velha -onde estão os locais sagrados das três principais religiões monoteístas-, para garantir seu controle.
Israel afirma que sua preocupação é preservar a liberdade de culto na cidade para evitar um retorno à situação pré-1967. Na época, com a Cidade Velha sob domínio jordaniano, os judeus tinham acesso limitado a seu local mais sagrado, o Muro das Lamentações. (MN)


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