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Apartamento em área disputada valorizou cinco vezes em 10 anos
DE JERUSALÉM
Talvez a indicação mais sólida da percepção entre os israelenses de que os bairros judeus
de Jerusalém Oriental são um
fato consumado seja a sua supervalorização imobiliária. Ela
ignora pressões externas e resiste às oscilações do conflito.
Há dez anos, quando imigrou
para Israel, um analista de sistemas carioca comprou um
apartamento de três quartos
em Ramat Shlomo por US$ 80
mil. Hoje, ele vale US$ 400 mil.
"A velha lei de mercado vale
para qualquer parte da cidade,
ocidental ou oriental: há muito
mais demanda do que oferta",
disse ele à Folha, pedindo para
não ser identificado.
Assim como ele, boa parte
dos 190 mil judeus que vivem
em Jerusalém Oriental está lá
por motivos econômicos, não
ideológicos, encorajados por
incentivos do governo.
A grande concentração de judeus ultraortodoxos e árabes,
populações com os mais altos
índices de pobreza do país, faz
de Jerusalém a cidade de menor renda em Israel, o que reforça o fator econômico da expansão imobiliária rumo ao
leste. De acordo com dados recentes, 32,3% dos residentes
são considerados pobres.
A falta de acesso aos bairros
mais centrais de Jerusalém, supervalorizados pelo desequilíbrio entre demanda e oferta e
pelos investimentos de judeus
estrangeiros, obriga famílias de
baixa renda, estudantes e jovens casais a buscar um teto na
periferia da cidade.
Em qualquer cidade seria um
movimento natural. Mas em
Jerusalém aumenta as tensões
políticas, pois é usado pela prefeitura para ampliar bairros na
parte oriental da cidade, reivindicada pelos palestinos para
ser a capital de seu Estado.
Mas o principal objetivo israelense em Jerusalém é consolidar o seu caráter judaico e
tornar uma divisão impossível,
dizem os palestinos. "Além dos
grandes blocos habitacionais
judaicos em Jerusalém Oriental, existem 26 pontos de ocupação no coração dos bairros
árabes da cidade", diz o cientista político Rami Nasrallah, morador de Beit Hanina, bairro vizinho a Ramat Shlomo.
Segundo ele, o plano israelense é manter focos de presença judaica nas áreas árabes
em torno da Cidade Velha
-onde estão os locais sagrados
das três principais religiões
monoteístas-, para garantir
seu controle.
Israel afirma que sua preocupação é preservar a liberdade
de culto na cidade para evitar
um retorno à situação pré-1967. Na época, com a Cidade
Velha sob domínio jordaniano,
os judeus tinham acesso limitado a seu local mais sagrado, o
Muro das Lamentações.
(MN)
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