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Divorciada aos 9 vira militante feminista
DO ENVIADO A SANAA
Nojoud Ali tinha nove anos
no dia em que se deparou, ao
voltar da escola, com a casa
cheia de convidados dançando
e comendo. Ela adorou ser maquiada, penteada e vestida pelas mulheres do vilarejo. A alegria de Nojoud se esvaiu quando ela descobriu, já no final da
noite, que a festa era para celebrar o seu casamento com um
homem desconhecido.
Após dois meses lutando para escapar dos abusos do marido, Nojoud conseguiu fugir e
ganhou na Justiça o direito de
se divorciar. O caso, ocorrido
em 2008, teve repercussão internacional e abriu um precedente histórico no pobre e conservador Iêmen.
Há três semanas, uma segunda criança casada à força teve
seu pedido de divórcio acatado
pela Justiça, acirrando o atual
debate em torno de uma proposta parlamentar para proibir
matrimônios antes dos 17 anos.
A legislação em vigor não determina idade mínima para casamento, mas estipula que só
pode haver relações sexuais
após a puberdade da mulher.
Nojoud ganhou a causa alegando que o marido teve sexo com
ela antes da hora.
"Eu só queria ir para a escola
e brincar e, da noite para o dia,
me tornei esposa, longe da família e de tudo o que eu gostava", disse Nojoud à Folha, em
entrevista concedida na casa de
amigos seus, em Sanaa. "É preciso reformar a lei, para evitar
que outras meninas passem
pelo que passei."
O inferno começou na noite
de núpcias, assim que o marido
apagou a luz, relata Nojoud.
"Ele corria atrás de mim, enquanto eu chorava e gritava.
Foi assim todo o tempo em que
moramos juntos", afirmou.
Nojoud aproveitou um final
de semana na casa dos tios para
ir ao tribunal. Ela passou a manhã sentada sozinha num banco de madeira até que um juiz
perguntou o que ela queria.
"Largar meu marido", disse.
Pobres e analfabetos, os pais
relutaram em apoiar a filha.
Além do sentimento de honra
ferida, eles encaravam como
uma pequena fortuna os US$
750 de dote e apostavam numa
vida melhor para Nojoud, cujo
marido ao menos tinha um emprego -era motoboy.
A história chegou aos ouvidos da advogada Shatha Nasser, uma conhecida feminista
do Iêmen, que assumiu o caso.
Meses após a vitória na Justiça, Nasser e Nojoud viajaram
aos EUA para receber em conjunto o prêmio de Mulher do
Ano concedido pela revista
americana "Glamour". "Adorei
os EUA, mas quero morar no
Iêmen", diz Nojoud.
Hoje reinstalada com os pais,
Nojoud divide o tempo entre a
escola, onde diz tirar notas
boas, e as viagens pelo mundo
para promover sua biografia,
redigida por uma jornalista
francesa. Direitos autorais para
um projeto de filme permitiram à família comprar uma casa na capital iemenita.
"Sonho em me tornar uma
advogada para defender crianças", diz Nojoud. Planos de algum dia se casar de novo? "A
princípio não, mas é cedo para
pensar nisso."
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