São Paulo, segunda-feira, 28 de março de 2011

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Obama tenta reduzir impacto de conflito

Presidente luta para afastar impressão de que está entrando em guerra antes de deixar o Afeganistão e o Iraque

Acertada transferência do comando da ação à Otan, americano vai à TV para fazer discursoa respeito da operação


ANDREA MURTA
DE WASHINGTON

O presidente dos EUA, Barack Obama, tentou, mas não conseguiu evitar que a intervenção militar na Líbia fosse mais uma dor de cabeça na política doméstica americana, com possíveis reflexos nas campanhas de 2012.
Os receios ficaram claros na última semana. Primeiro, por sua insistência em transferir a liderança oficial da missão para a Otan (aliança militar ocidental), evitando a impressão de que os EUA estavam começando outra guerra enquanto enfrentam deficits recordes e atuam no Iraque e no Afeganistão.
Ontem, a Otan concordou em assumir por completo as ações, o que levaria até três dias para ser implementado.
A preocupação de Obama também se manifestou no encontro que o presidente teve na sexta com líderes do Congresso, além das falas direcionadas ao público interno -um discurso marcado para esta noite e a mensagem de rádio semanal de sábado.
A secretária de Estado, Hillary Clinton, e o secretário da Defesa, Robert Gates, também defenderam ontem, na televisão, a intervenção.
Gates afirmou que, enquanto a política de Obama é que o ditador Muammar Gaddafi deve sair do poder, não é essa a missão militar, mais limitada. Ele negou que a ação tenha causado mortes "significativas" de civis e acusou Gaddafi de "plantar" corpos para dar essa impressão.
"[A intervenção] não é de interesse vital dos EUA", afirmou, mas se justifica "pela questão humanitária".
Já Hillary disse que a ação evitou milhares de mortes e uma crise de refugiados.
Por enquanto, o público apoia a ação, caracterizada pela Casa Branca como intervenção humanitária. Mas as críticas vêm crescendo.
Inicialmente, houve pressão entre conservadores a favor de uma intervenção. Agora, muitos (inclusive esquerda) estão irritados porque o presidente agiu sem aprovação prévia do Congresso.
Até democratas reclamaram. O deputado Dennis Kucinich (Ohio) sugeriu o impeachment de Obama.
Clyde Wilcox, professor da Universidade Georgetown, concorda que o presidente deveria ter consultado o Capitólio não só pelos riscos mas porque não há definição clara de sucesso.
O presidente também foi atacado por passar a implantação da zona de exclusão aérea à Otan, o que, para parte da direita, mina a liderança global dos EUA.
"Republicanos estão em uma posição difícil", afirmou Wilcox. "Podem dizer que a ação inteira é injustificada, mas [soa estranho, pois] são o partido da força militar. Podem criticar a entrega de comando, mas daí estariam defendendo que os EUA liderem outra ação, algo que o país não quer."
Potenciais rivais de Obama para a eleição de 2012 saíram às críticas. Os ex-governadores Mitt Romney (Massachusetts), Tim Pawlenty (Minnesota), Sarah Palin (Alasca) e Newt Gingrich, ex-líder da Câmara, disseram que o presidente "enrolou".
"A intervenção vai ter um impacto dramático nas perspectivas de reeleição de Obama e em sua relação com democratas no Congresso", afirmou à Folha Brian Darling, diretor de relações governamentais da conservadora Heritage Foundation.
Para Wilcox, há chances de o tema influenciar 2012, mas não se sabe para que lado: "Se Gaddafi cair, pode ajudar Obama. Se houver banho de sangue, atrapalhará".
"Mas, se ficar em alguns mísseis e ataques aéreos, esse não é o tipo de coisa que move votos americanos quando há tantas tropas e gastos no Afeganistão."


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