São Paulo, domingo, 28 de abril de 2002

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CHOQUE NA FRANÇA

Diversos institutos desistem de fazer projeções para o 2º turno; França tem atos contra Le Pen

Pesquisa dá 81% dos votos para Chirac

ALCINO LEITE NETO
DE PARIS

O presidente Jacques Chirac deve alcançar 81% dos votos, e o candidato de extrema direita Jean-Marie Le Pen terá 19% no segundo turno das eleições francesas, no próximo domingo, segundo pesquisa do instituto CSA. Le Pen caiu 4 pontos, em relação à sondagem anterior do instituto.
A pesquisa foi divulgada pelo jornal "Le Parisien" na sua edição de ontem, quando novas manifestações contra Le Pen foram realizadas no país. O prefeito de Paris, Bertrand Delanoë, participou de passeata, ao lado das atrizes Jane Birkin e Isabelle Adjani.
A pesquisa do CSA é uma das raras divulgadas até agora sobre o segundo turno. Os institutos de opinião foram colocados em xeque na França, depois que erraram para o primeiro turno.
Todos eles minimizaram o avanço de Le Pen e apontaram em sucessivas sondagens que Chirac competiria com o primeiro-ministro Lionel Jospin. Muitos eleitores se abstiveram ou dispersaram seus votos entre partidos menores, achando que o segundo turno já estava definido e que Le Pen não representava risco.
Jospin foi eliminado, e pela primeira vez um candidato de extrema direita concorre no segundo turno das eleições presidenciais.
Um grupo de jornalistas e outros profissionais estão processando os quatro principais institutos franceses -CSA, Ipsos, Ifop e BVA, que se apresentam à Justiça na terça-feira. O grupo defende que os institutos passem a divulgar de maneira precisa sua metodologia, as cifras brutas obtidas e as margens de erro.
O co-presidente do Ipsos, Jean-Marc Lech, disse à Folha que o método baseado em cotas populacionais a partir do censo, e não em entrevistas ao acaso, "exclui a margem de erro e é o melhor do mundo".
O canal público de televisão France 2 decidiu não divulgar nenhuma pesquisa eleitoral, assim como a emissora Radio France. O jornal "Libération" também anunciou ontem que não vai encomendar sondagens. O jornal "Le Figaro" deve divulgar uma pesquisa amanhã. Os institutos Ifop, Sofres e Louis Harris disseram que não estão realizando sondagens.
O instituto Sofres afirmou que existe um debate interno sobre o assunto, reconhecendo que "não se pode ignorar os efeitos" das pesquisas sobre a abstenção e sobre o voto dos franceses.
O jornal "Le Parisien" notificou que sua pesquisa teve por objetivo acabar com rumores que se espalharam nas redações do país e pela internet de que uma sondagem encomendada pelo governo constatava que 42% de votos seriam dados a Le Pen. O governo confirmou a realização de uma "mensuração de opinião", para uso interno, mas na qual Le Pen teria no máximo 30% dos votos.
"Sentimos que Le Pen sobe lentamente, mas com firmeza, depois de domingo, com a sua diabolização e vitimização tendo importante papel nessa escalada", afirmou um funcionário do governo ao "Libération".
Ontem, mais de 80 organizações convocaram para a "mobilização cidadã e republicana" na França, contra a extrema direita. A manifestação foi considerada um ensaio para os megaprotestos que deverão ser realizados em Primeiro de Maio, Dia do Trabalho. Vários artistas participaram em Paris. Jane Birkin declarou que vai votar em Jacques Chirac.
As manifestações, que continuam hoje, foram consideradas de alto risco pela polícia francesa. Ela tomou medidas excepcionais de segurança no país.
A mobilização contra Le Pen culmina em ato no Dia do Trabalho, quando está previsto um megaprotesto em Paris, à tarde. No mesmo dia, pela manhã, a Frente Nacional, partido de Le Pen, faz uma passeata em homenagem a Joana d'Arc.


Com agências internacionais

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