São Paulo, quarta-feira, 28 de abril de 2010

Próximo Texto | Índice

Paraguai detém 2 brasileiros após atentado

Ataque a senador aconteceu sob estado de exceção em cidade marcada pelo tráfico de drogas situada na fronteira com Ponta Porã

Polícia paraguaia investiga elo entre suspeitos e o PCC; carro supostamente usado na ação era clone de outro, que tem placas de São Paulo


Daniel Figueredo/Reuters
Criminosos dispararam dezenas de vezes contra veículo de senador paraguaio; o motorista e o guarda-costas morreram na hora

DA REDAÇÃO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE

Dois brasileiros foram presos no Paraguai suspeitos de envolvimento na tentativa de assassinato do senador Robert Acevedo, anteontem, na cidade de Pedro Juan Caballero, na fronteira com Ponta Porã (MS).
Os suspeitos são Eduardo da Silva e Marcos Cordeiro Pereira -o segundo com antecedentes no Brasil por roubo e narcotráfico. Segundo a procuradora paraguaia Lourdes Peña, que comanda as investigações, há indícios de que os dois sejam integrantes da facção criminosa paulista PCC (Primeiro Comando da Capital).
Pedro Juan Caballero é epicentro de uma das maiores zonas produtoras de maconha da América do Sul e entreposto da cocaína da Bolívia com destino ao mercado brasileiro e argentino. É ainda capital do departamento (Estado) de Amambay, 1 dos 5 do país sob estado de exceção desde sábado.
O ataque ao senador foi anteontem à tarde, a três quarteirões da casa dele. Ele estava no carro quando atiradores abriram fogo -foram ao menos 30 tiros. O motorista e um guarda-costas morreram na hora.
O senador, porém, conseguiu sair do carro e escapar. Ele foi atingido em um braço e, de raspão, na cabeça. Acevedo passa bem, mas segue em observação no Hospital São Lucas, de onde falou à Folha. Ele afirma que um informante o avisou da oferta de US$ 300 mil a "pistoleiros" para matar uma autoridade. Ele diz acreditar que os criminosos sejam fora, porque não o reconheceram. Acevedo, ex-governador de Amambay, e o seu irmão, José, prefeito de Pedro Juan Caballero, denunciam com frequência o tráfico.
Em 2004, a polícia brasileira descobriu um plano para assassinar o senador e o juiz federal Odilon de Oliveira, responsável por condenar mais de cem traficantes da região. Desde então, Oliveira foi para Campo Grande, e Acevedo anda escoltado.
Horas antes do ataque de segunda-feira, Acevedo havia desafiado os traficantes a enfrentá-lo, em declarações a uma rádio. "Se são machos, venham à minha casa, bandidos. Não irão me pegar os narcos de merda."
Não há confirmação sobre as circunstâncias da captura dos brasileiros. Ontem, os investigadores foram à casa em que eles moravam e acharam vestígios de maconha e oito carros com placas brasileiras e paraguaias cujas origens estão sendo averiguadas. O dono do imóvel, brasileiro, está foragido.
Outra pista na investigação do crime é uma caminhonete Ranger cinza encontrada carbonizada perto do local, horas depois. Segundo Peña, dentro dela, foram apreendidas cápsulas de metralhadoras. Levantamento realizado no Brasil, diz Peña, revelou que o veículo teve as placas de São Paulo clonadas de outro carro, com queixa de roubo, que é do banco Itaú.
Os suspeitos capturados não falaram às autoridades paraguaias, ainda segundo Peña.
Os dois podem ficar até seis meses presos -prazo para conclusão da investigação. Eles foram indiciados por homicídio e associação para o crime.
Ontem, a polícia encontrou os corpos de dois primos a 90 km da fronteira. A eventual relação dos casos é investigada.
O estado de exceção foi decretado a pedido do presidente Fernando Lugo com intuito de conter outra quadrilha, o EPP (Exército do Povo Paraguaio). O ministro do Interior, Rafael Filizzola, disse que o ataque faz a "sociedade tomar consciência da situação do país". (GABRIELA MANZINI E GRACILIANO ROCHA)


Próximo Texto: Entrevista: Senador culpa "cooperativa narcotraficante"
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.