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São Paulo, quarta-feira, 28 de maio de 2003

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"Não seremos derrotados", diz Vieira de Mello

ROBERTO DIAS
DE NOVA YORK

A resolução do Conselho de Segurança sobre a reconstrução do Iraque é vaga no que se refere ao papel da ONU, o poder real da entidade no Iraque só vai ser decidido no dia-a-dia, e o escolhido para a missão tem experiência de sobra para se sair bem em casos do gênero.
Esse foi o tom do evento em que o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, formalizou a nomeação do diplomata brasileiro Sérgio Vieira de Mello, 55, como seu representante para o Iraque.
"Vocês verão que não seremos derrotados de maneira alguma", disse Vieira de Mello, ontem, ao afirmar que seu trabalho fará diferença mesmo tendo um mandato de apenas quatro meses.
Ele deixou claro que quer expandir as funções que lhe foram reservadas pela resolução aprovada no Conselho de Segurança. "Extensão é o nome do jogo. O parágrafo 8 [trecho da resolução que regula sua função] talvez seja deliberadamente vago sobre o papel da ONU", afirmou ele.
Tal postura foi abertamente endossada por Annan, que destinou a seu enviado a responsabilidade por definir os termos da resolução do Conselho de Segurança.
"Temos que definir nossa relação com a força ocupante. O mandato humanitário é muito claro. Em outras áreas, temos de trabalhar em parceria com a coalizão e com a sociedade civil iraquiana. É claro que esses relacionamentos terão de ser acertados no local. Não podemos decidi-los antes de o sr. Vieira de Mello chegar."
Ao enviar um de seus principais diplomatas para o Iraque, Annan tenta ganhar espaço para a ONU no pós-guerra. "Ninguém tem mais experiência na área. Eu precisava de alguém que chegasse já trabalhando. Vocês o viram em Kosovo e em Timor Leste".
Vieira de Mello pretende chegar no máximo até a manhã de segunda-feira ao Iraque. O diplomata mora em Genebra, onde ocupa o posto de alto comissário da ONU para os Direitos Humanos -situação que fez sua escolha se tornar uma decisão "difícil", segundo definiu Annan.
O brasileiro disse que sua primeira missão será aumentar o nível de segurança do país. Sua série inicial de tarefas terá, pela ordem, encontros com representantes iraquianos, reuniões com os membros da administração anglo-americana e viagens pelo país.
Durante sua apresentação, Vieira de Mello insistiu em que considera fundamental desenvolver o respeito pelos direitos humanos no país. "É a única fundação sólida para a paz e o desenvolvimento. Dou particular importância à necessidade de assegurar os direitos das mulheres", afirmou.
O brasileiro comparou a situação de agora às condições que tinha em sua última grande missão do gênero. "Diziam, em Timor Leste, que eu era um ditador benevolente. Não é o caso no Iraque e nem deveria ser", afirmou.
Sobre o apoio dos EUA a seu nome, Vieira de Mello disse que não sabe se isso pesou ou não. "A verdade é que os americanos jamais me contataram", disse.
O diplomata se mostrou ainda favorável a que os crimes do regime de Saddam Hussein sejam julgados no país. "Preferivelmente, esse tipo de justiça deve ser feita nacionalmente", afirmou.


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