São Paulo, quarta-feira, 28 de maio de 2008

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McCain quer acordo nuclear com Rússia

Em discurso que marca mudança de abordagem em relação à era Bush, candidato republicano ressalta importância de parcerias

Fala teve influência de ala pragmática de conselheiros, que inclui Kissinger e é rival de neocons que redigiram pronunciamentos prévios


Charles Dharapak/Associated Press
McCain e Bush em Phoenix, após o presidente ir a evento para arrecadar fundos para a campanha; à esq., a mulher do candidato, Cindy

DANIEL BERGAMASCO
DE NOVA YORK

O senador John McCain, virtual candidato republicano à Presidência dos EUA, se distanciou da política internacional unilateralista do presidente George W. Bush ao defender ontem em discurso que os Estados Unidos busquem "parcerias" globais para redução do arsenal de armas nucleares.
No pronunciamento em Denver, Colorado, McCain defendeu especialmente a negociação com a Rússia para redução de armas nucleares e também citou a abertura de diálogo com a China sobre o tema.
"A Rússia e os Estados Unidos não são mais inimigos mortais. Como nossos dois países possuem a esmagadora maioria de armas nucleares do mundo, nós temos uma responsabilidade especial de reduzir esse número", declarou, em uma clara ruptura com pronunciamentos anteriores em que foi muito mais duro com o antigo rival dos anos de Guerra Fria.
Em outro momento, o senador afirmou que os EUA devem ser "um modelo para os outros". "Isso significa não apenas perseguir nossos próprios interesses, mas reconhecer que compartilhamos interesses com povos ao redor do planeta", disse McCain, para quem a abertura diplomática se baseia no "grande e permanente poder da América de liderar".

Diferente de Bush
O pronunciamento de ontem foi o segundo no qual o senador do Arizona enfatizou sua visão sobre diálogo multilateral distinta da de Bush -que apóia sua candidatura e participou à noite de evento para levantar fundos para a campanha.
Na primeira vez em que pontuou diferenças, há algumas semanas, o candidato declarou que, como presidente, estaria disposto a fazer concessões para combater o aquecimento global. Bush, por sua vez, é pouco flexível sobre o tema, tendo retirado o país do Protocolo de Kyoto, destinado a reduzir a emissão de gases causadores do efeito estufa.
Já na política internacional sobre armas, Bush rompeu em 2002 o Tratado Antimísseis Balísticos (TAB), criado em 1972, no qual países concordavam em não construir sistemas de defesa antimísseis.
"O que McCain disse no discurso sobre armas nucleares soa muito mais próximo da política do [ex-presidente Richard] Nixon e de George Bush pai, que defendiam que os EUA deveriam ser um modelo e, assim, liderar o mundo. É um retorno à maneira de liderar do Partido Republicano", disse à Folha Matthew Bunn, especialista em política internacional e proliferação nuclear da Universidade Harvard.
"Já Bush filho não se importa em dar exemplo a ninguém e adotou uma política que o distancia do resto do mundo, como você pode ver por Guantánamo", afirmou, citando a prisão em base militar que os EUA mantêm em Cuba para suspeitos de terrorismo e onde prisioneiros denunciaram a prática de tortura.

Protesto
No salão da Universidade de Denver onde McCain fez o discurso, o candidato foi interrompido algumas vezes por manifestantes contra a Guerra do Iraque, cuja continuidade é apoiada pelo candidato. Em resposta, McCain repetiu: "Eu nunca me renderei no Iraque".
McCain ainda citou a Coréia do Norte e o Irã, com os quais "é preciso ser mais rígido" na verificação de armas nucleares, e voltou a refutar a proposta do rival democrata Barack Obama de dialogar com países "hostis".


NA INTERNET
www.folha.com.br/081482

Leia íntegra do discurso



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