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Redes privadas terão de pagar por imagens de TV de Chávez
Hora de retransmissão passará a custar R$ 335 mil; uso só será permitido em noticiários
Ministro da Comunicação se demite; para TV opositora, decisão é freio à campanha que apontava contradição em discursos de presidente
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
O canal estatal VTV, que detém o monopólio na cobertura
da maioria dos eventos do presidente venezuelano, Hugo
Chávez, informou anteontem
às emissoras privadas que passará a cobrar pela retransmissão de suas imagens, a um preço de R$ 335 mil por hora. Segundo o canal oposicionista
Globovisión, a medida inviabiliza a cobertura de atos oficiais.
Em carta dirigida às TVs privadas, a VTV afirma que, a partir de 1º de junho, cobrará o
equivalente a R$ 93 por segundo de retransmissão de sua
imagem. Ou seja, uma entrevista coletiva de meia hora com
um ministro de Chávez, por
exemplo, custará R$ 167.500.
A única exceção fica por conta de "discursos, declarações
públicas, atos oficiais e similares" feitos por Chávez, desde
que as imagens sejam usadas
"única e exclusivamente" em
programas de notícias "claramente identificados". Ou seja,
se forem usadas numa propaganda institucional ou num documentário, por exemplo, é necessário pagar.
O comunicado da VTV afirma que o canal "se reserva o direito de proibir total ou parcialmente o uso e retransmissão de
seu sinal a qualquer momento".
Até agora, as regras na Venezuela eram similares às do Brasil, onde os canais privados têm
acesso gratuito e sem restrições
às imagens de coberturas presidenciais da estatal TV Brasil.
Após o anúncio, o ministro
da Comunicação, Andrés Izarra, pediu demissão porque disse ter tomado a decisão sobre a
cobrança "sem consultar as demais instâncias do governo nacional", informou em breve fala
a jornalistas.
A Folha procurou durante a
tarde a direção da VTV, mas
ninguém respondeu aos pedidos de entrevista.
Para o diretor-geral da Globovisión, Alberto Federico Ravell, a cobrança impedirá seu
canal de cobrir o governo. "As
informações do setor oficial
não poderão mais sair em nossa tela", disse ontem à Folha.
"Não somos convocados a
eventos oficiais. Se vamos, não
nos deixam entrar. Nos atos
populares do partido do governo, agridem nossos repórteres.
Por isso, usamos o sinal da
VTV, para que os telespectadores tenham a outra face da
moeda. Mas não podemos pagar essa tarifa."
Como exemplo, Ravell cita o
"Alô, Presidente", programa
dominical de Chávez, que pode
durar até sete horas e não é tecnicamente um ato oficial. Caso
seja retransmitido por cinco
horas, por exemplo, o custo será de R$1,67 milhão.
Ravell diz que a medida tem
como alvo a propaganda institucional "Usted lo Vió" (você
viu). Transmitida durante os
intervalos, mostra declarações
constrangedoras para o chavismo, geralmente usando imagens da VTV.
É o caso de um discurso de
Chávez feito em 2004 na Colômbia no qual ele jura "por
Deus e pela minha santa mãe
que, se eu apoiasse a guerrilha
[Farc], não teria cara para vir
aqui a Cartagena".
"Isso é o que mais incomoda
o governo. Pegamos uma frase
que alguém disse sem editá-la,
sem modificá-la e a repetimos
várias vezes. Os presidentes
muitas vezes dizem coisas de
que se arrependem. Então simplesmente colocamos "você viu
pela Globovisión" e passamos
várias vezes por dia. Parece que
todos os tiros vão dirigidos a isso", disse Ravell.
Um ano sem RCTV
As mudanças nas regras de
retransmissão coincidiram
com o primeiro aniversário da
não-renovação da concessão da
emissora RCTV, sob a justificativa de que ela participou da
tentativa de golpe de Estado
contra Chávez em 2002.
Em entrevista coletiva, o presidente da emissora, Marcel
Granier, disse ontem que, ao
encerrar a concessão, "o presidente ficou nu em seu patético
projeto totalitarista".
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