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Hillary vê discordância séria com Brasil
Para americana, acordo entre Brasília e Teerã só ajuda o Irã a ganhar tempo e torna o mundo mais perigoso
Secretária de Estado dos EUA afirma já ter feito ao governo brasileiro alerta de que o país está sendo usado pelo Irã
Chip Somodevilla/Getty Images/France Presse
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A secretária de Estados dos EUA, Hillary Clinton, em evento no Instituto Brookings, em Washington, na qual falou sobre nova estratégia de segurança
ANDREA MURTA
DE WASHINGTON
Na maior exposição pública de contrariedade dos EUA
com o Brasil desde o anúncio
do acordo entre Brasília e
Teerã no início da semana
passada, a secretária de Estado dos EUA disse ontem que
Washington tem "discordâncias muito sérias" com o governo brasileiro quanto à
abordagem da questão.
Hillary falava em Washington sobre a nova Estratégia de Segurança Nacional
da Casa Branca quando foi
indagada se o Brasil passou a
ser considerado pelos EUA
como "parte do problema"
-especialmente após a insistência do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva em tentar evitar sanções a Teerã por
seu programa nuclear.
"Certamente temos discordâncias muito sérias com a
diplomacia brasileira em relação ao Irã. Dissemos ao
presidente Lula e ao ministro
[Celso] Amorim [Relações Exteriores] que ajudar o Irã a
ganhar tempo e evitar uma
posição internacional unânime contra seu programa nuclear torna o mundo mais perigoso", respondeu.
Como a Folha revelou ontem, o acordo que Brasil e
Turquia fecharam com Teerã
segue roteiro traçado pelo
presidente dos EUA, Barack
Obama, em carta enviada a
Lula em abril.
Apesar de o Brasil seguir a
receita dos EUA, porém, o
pacto foi esnobado por Washington. No dia seguinte à
sua divulgação, a Casa Branca apresentou ao Conselho
de Segurança da ONU esboço
de resolução com novas sanções ao Irã, referendado pelos demais membros permanentes do órgão (Rússia, China, França e Reino Unido).
Procurada pela Folha para explicar a mudança de posição, a Casa Branca disse
que não comenta correspondência diplomática.
Hillary afirmou ontem ter
dito ao governo brasileiro
"que o Irã está usando vocês,
que achamos que é hora de ir
ao Conselho de Segurança e
que só depois de ação [nesse
fórum] o Irã se engajará de fato" na discussão sobre seu
programa nuclear.
A secretária insistiu, porém, que a discordância "de
forma alguma mina o compromisso dos EUA em ter o
Brasil como parceiro efetivo
neste hemisfério e além".
"O Brasil é parte de solução; em um grande número
de temas o Brasil é um parceiro responsável e eficaz."
Ela mencionou como
exemplos positivos a atuação conjunta após o terremoto no Haiti, na ação relacionada à mudança climática e
na relação comercial.
Em outro momento, Hillary também elogiou o Brasil
por ter carga tributária alta
em relação ao PIB, o que segundo ela favorece o desenvolvimento econômico.
DOCUMENTO
O texto da Estratégia de Segurança Nacional de Obama,
divulgado ontem, menciona
brevemente o país, sem considerá-lo porém um "centro-chave de influência".
Essa distinção foi reservada para os outros países do
grupo dos Brics -China, Índia e Rússia. O Brasil foi citado como "país de influência
crescente", ao lado de África
do Sul e Indonésia.
Em outro momento, o documento diz que os EUA
"apreciam a liderança do
Brasil e seu esforço para ir
além das antigas divisões
Norte-Sul" na abordagem de
temas internacionais.
Por fim, o texto diz que os
EUA trabalharão com o Brasil no G20 e na Rodada Doha.
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