São Paulo, segunda-feira, 28 de junho de 2004

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AFEGANISTÃO

Passageiros de ônibus teriam sido assassinados por carregar registro de eleitor; organização prometeu sabotar pleito

Taliban mata 16 em ataque contra eleições

DA REDAÇÃO

Membros da milícia extremista islâmica Taliban seqüestraram e assassinaram 16 pessoas numa Província do Afeganistão depois de descobrir que elas haviam se registrado para votar nas eleições de setembro, anunciaram funcionários do governo afegão ontem.
O massacre, que ocorreu na sexta-feira na Província de Zabul, no centro do país, é o mais grave ataque às eleições, que o Taliban e seus aliados extremistas islâmicos prometeram sabotar.
A notícia dos assassinatos surgiu um dia depois de uma bomba lançada contra um ônibus ter matado duas jovens, uma delas estudante, contratadas pelo comitê eleitoral do governo afegão e das Nações Unidas para registrar eleitores na cidade de Jalalabad, no leste do país.
A onda de violência a dois dias da cúpula da Otan (aliança militar ocidental), que começa hoje em Istambul, reforça a pressão para que a organização cumpra a sua promessa de proteger o pleito afegão.
Haji Obaidullah, chefe de polícia do distrito de Khas Uruzgan, na Província de Uruzgan, disse que os guerrilheiros pararam um ônibus que levava 17 homens civis na sexta-feira. Eles o levaram para o distrito de Dai Chopan, na vizinha Província de Zabul, e mataram todos os ocupantes menos um. O sobrevivente conta que seus companheiros morreram porque eram eleitores. "Eles foram aparentemente mortos porque carregavam registro de eleitores", afirmou.
Um porta-voz das Nações Unidas disse que a organização estava ciente do incidente, que se encontra sob investigação.
O Taliban assumiu a responsabilidade pelas mortes das duas mulheres em Jalalabad. O grupo afirma que advertiu os afegãos para não se envolver com as eleições, que, diz, apenas reforçarão o governo pró-americano empossado após guerra no final de 2001 liderada pelos EUA ter deposto o regime do Taliban por dar guarida à rede Al Qaeda e seu líder, Osama Bin Laden.
O porta-voz do grupo Abdul Latif Hakimi também disse que os guerrilheiros mataram 19 pessoas capturadas em Uruzgan na sexta-feira, mas nega que elas fossem civis. "Seis delas pertenciam à comissão de eleições e 13 eram soldados do governo", afirmou.
O aumento da violência por parte de grupos guerrilheiros levanta dúvidas quanto à possibilidade de as primeiras eleições do país acontecerem em setembro. Inicialmente, elas estavam previstas para junho, mas foram adiadas por causa da violência.
O representante especial da ONU para o Afeganistão, Jean Arnault, disse que os ataques não retardariam o processo. Mas o porta-voz da ONU no país, Manoel de Almeida e Silva, disse que os ataques mostram a necessidade de reforçar a segurança e repetiu o apelo por reforços da Otan.
Em Istambul, a Otan deve anunciar que seus cerca de 6.400 homens vão assumir o comando de mais grupos de reconstrução e que mais 1.500 soldados serão enviados para o país -longe dos 5.000 soldados que o governo afegão e a ONU dizem que precisam.
Os ataques são mais um golpe contra os esforços dos EUA para estabilizar o Afeganistão, país que o presidente George W. Bush descreveu como modelo para o Iraque. Analistas afirmam que Bush está pressionando para que as eleições afegãs ocorram em setembro, para que possa exibir um êxito de sua política externa antes das eleições presidenciais norte-americanas de novembro.


Com agências internacionais


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