São Paulo, domingo, 28 de junho de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"Sexgate" opõe igreja a premiê italiano

Um bispo chegou a pedir publicamente a renúncia de Berlusconi após novos detalhes de escândalo sexual envolvendo governante

Imagem do premiê é minada por investigações de crime de incitação à prostituição, às vésperas de encontro de cúpula do G8

PETER POPHAM
DO "INDEPENDENT"

Há um súbito fedor de podridão emanando da corte do rei Silvio. Os leais seguidores que cercaram o premiê italiano por décadas, e enriqueceram muito como resultado, continuam ao seu lado: o pianista que o acompanhava quando ele era cantor em navios de cruzeiro, o advogado siciliano que está tentando contestar uma longa sentença de prisão por crimes relacionados à máfia, o advogado que serviu uma sentença de prisão por subornar juízes a pedido de Berlusconi.
Nenhum deles ofereceu o menor vislumbre de dissidência ou dúvida quanto a seu "padrone". Mas, nas fileiras periféricas do círculo, o borbotar irreprimível de revelações e insinuações sobre as dezenas de belas jovens que acorriam às casas do premiê para suas festas que varavam noites começa a causar danos irreparáveis.
Na semana passada, após longo silêncio, forças poderosas na Igreja Católica começaram a se pronunciar contra os excessos do líder. Primeiro foi o "L'Avvenire", jornal controlado pelos bispos italianos, que apelou ao premiê por um "esclarecimento" à Itália. Depois, uma revista semanal católica, "La Famiglia Cristiana", publicou comentários severos sobre a "decadência moral". Agora, três líderes da igreja o criticaram publicamente. Um deles, o bispo de Mazara del Vallo, na Sicília, pediu que o premiê considerasse a renúncia.
Os críticos esquerdistas dizem que "o cisne se transformou em pato manco", mas ainda lhe restam quase quatro anos de mandato, e seus aliados de coalizão causam muito menos problemas ao atual governo do que fizeram da última vez em que ele havia sido premiê.
Mas o novo senso de distanciamento que começa a surgir de parte da igreja e de seus amigos parece estar se tornando o verdadeiro problema. O relacionamento entre Berlusconi e a igreja sempre foi ambivalente. Ele foi infiel à sua primeira mulher e teve três filhos fora do casamento antes de se divorciar e se casar de novo em uma cerimônia civil. Como muitos italianos, ele se diz fiel à igreja, e se esforça para não incomodá-la; por ser um feroz anticomunista, a igreja sempre o viu como o pior inimigo dos inimigos do catolicismo, mas não exatamente como um amigo.

"Sexgate"
Quase desde o início daquilo que a imprensa italiana começou a definir como "sexgate", Berlusconi vem alegando que existe um complô para derrubá-lo, orquestrado pelos usuais suspeitos: a esquerda italiana.
Berlusconi nunca demorou a encontrar comunistas embaixo da cama. Mas a natureza incansável da cobertura do "sexgate", quando nenhum indício de natureza criminosa diretamente relacionado a Berlusconi emergiu até o momento, sugere uma de duas coisas: ou os jornais italianos, usualmente caretas e sofrendo de pesada perda de circulação nos últimos meses, decidiram que reportagens ao estilo dos jornais sensacionalistas britânicos são o melhor caminho para reconquistar seus leitores, ou eles realmente estão dispostos a derrubar o premiê desta vez.
Na semana passada, o caso todo ganhou um novo aspecto, quando promotores na cidade de Bari se envolveram na questão, investigando alegações de que as leis de repressão à prostituição haviam sido violadas e que algumas das jovens haviam sido pagas para comparecer às festas na Sardenha.
Todas as atenções estão voltadas para a segunda semana de julho, quando os líderes do G8 visitarão a Itália para a conferência de cúpula que se realizará em Áquila, cidade atingida por uma série de terremotos há dois meses.
Não é inconcebível que os promotores em Bari estejam preparando uma surpresa desagradável para o primeiro-ministro. Em 1994, alguns meses depois de iniciar seu primeiro mandato, Berlusconi sofreu um desastroso problema de imagem quando foi notificado de que estava sendo investigado por acusações de corrupção durante uma reunião de cúpula em Nápoles. Pode ser que algo de igualmente embaraçoso aconteça diante dos olhos dos líderes e das câmeras da imprensa mundial em Áquila. E, dada a importância de manter a imagem em um contexto como o da Itália, as consequências de um incidente como esse seriam imprevisíveis. Até mesmo os mais devotados cortesãos de Berlusconi estão começando a pensar o impensável.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


Texto Anterior: Líbano: Designado premiê, Hariri pede unidade
Próximo Texto: "Blogs são imprensa livre que não temos", diz blogueiro do Irã
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.