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"Sexgate" opõe igreja a premiê italiano
Um bispo chegou a pedir publicamente a renúncia de Berlusconi após novos detalhes de escândalo sexual envolvendo governante
Imagem do premiê é minada por investigações de crime de incitação à prostituição, às vésperas de encontro de cúpula do G8
PETER POPHAM
DO "INDEPENDENT"
Há um súbito fedor de podridão emanando da corte do rei
Silvio. Os leais seguidores que
cercaram o premiê italiano por
décadas, e enriqueceram muito
como resultado, continuam ao
seu lado: o pianista que o acompanhava quando ele era cantor
em navios de cruzeiro, o advogado siciliano que está tentando contestar uma longa sentença de prisão por crimes relacionados à máfia, o advogado que
serviu uma sentença de prisão
por subornar juízes a pedido de
Berlusconi.
Nenhum deles ofereceu o
menor vislumbre de dissidência ou dúvida quanto a seu "padrone". Mas, nas fileiras periféricas do círculo, o borbotar irreprimível de revelações e insinuações sobre as dezenas de
belas jovens que acorriam às
casas do premiê para suas festas que varavam noites começa
a causar danos irreparáveis.
Na semana passada, após
longo silêncio, forças poderosas na Igreja Católica começaram a se pronunciar contra os
excessos do líder. Primeiro foi o
"L'Avvenire", jornal controlado pelos bispos italianos, que
apelou ao premiê por um "esclarecimento" à Itália. Depois,
uma revista semanal católica,
"La Famiglia Cristiana", publicou comentários severos sobre
a "decadência moral". Agora,
três líderes da igreja o criticaram publicamente. Um deles, o
bispo de Mazara del Vallo, na
Sicília, pediu que o premiê considerasse a renúncia.
Os críticos esquerdistas dizem que "o cisne se transformou em pato manco", mas ainda lhe restam quase quatro
anos de mandato, e seus aliados
de coalizão causam muito menos problemas ao atual governo do que fizeram da última vez
em que ele havia sido premiê.
Mas o novo senso de distanciamento que começa a surgir
de parte da igreja e de seus amigos parece estar se tornando o
verdadeiro problema. O relacionamento entre Berlusconi e
a igreja sempre foi ambivalente. Ele foi infiel à sua primeira
mulher e teve três filhos fora do
casamento antes de se divorciar e se casar de novo em uma
cerimônia civil. Como muitos
italianos, ele se diz fiel à igreja,
e se esforça para não incomodá-la; por ser um feroz anticomunista, a igreja sempre o viu
como o pior inimigo dos inimigos do catolicismo, mas não
exatamente como um amigo.
"Sexgate"
Quase desde o início daquilo
que a imprensa italiana começou a definir como "sexgate",
Berlusconi vem alegando que
existe um complô para derrubá-lo, orquestrado pelos usuais
suspeitos: a esquerda italiana.
Berlusconi nunca demorou a
encontrar comunistas embaixo
da cama. Mas a natureza incansável da cobertura do "sexgate",
quando nenhum indício de natureza criminosa diretamente
relacionado a Berlusconi emergiu até o momento, sugere uma
de duas coisas: ou os jornais italianos, usualmente caretas e
sofrendo de pesada perda de
circulação nos últimos meses,
decidiram que reportagens ao
estilo dos jornais sensacionalistas britânicos são o melhor
caminho para reconquistar
seus leitores, ou eles realmente
estão dispostos a derrubar o
premiê desta vez.
Na semana passada, o caso
todo ganhou um novo aspecto,
quando promotores na cidade
de Bari se envolveram na questão, investigando alegações de
que as leis de repressão à prostituição haviam sido violadas e
que algumas das jovens haviam
sido pagas para comparecer às
festas na Sardenha.
Todas as atenções estão voltadas para a segunda semana de
julho, quando os líderes do G8
visitarão a Itália para a conferência de cúpula que se realizará em Áquila, cidade atingida
por uma série de terremotos há
dois meses.
Não é inconcebível que os
promotores em Bari estejam
preparando uma surpresa desagradável para o primeiro-ministro. Em 1994, alguns meses
depois de iniciar seu primeiro
mandato, Berlusconi sofreu um
desastroso problema de imagem quando foi notificado de
que estava sendo investigado
por acusações de corrupção durante uma reunião de cúpula
em Nápoles. Pode ser que algo
de igualmente embaraçoso
aconteça diante dos olhos dos
líderes e das câmeras da imprensa mundial em Áquila. E,
dada a importância de manter a
imagem em um contexto como
o da Itália, as consequências de
um incidente como esse seriam
imprevisíveis. Até mesmo os
mais devotados cortesãos de
Berlusconi estão começando a
pensar o impensável.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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