São Paulo, domingo, 28 de julho de 2002

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LUTA CONTRA A HIV/ AIDS

Achmat recusa-se a tomar remédio contra Aids para pressionar governo

Mandela quer salvar ativista doente

BRENDAN BOYLE
DA REUTERS

O ex-presidente da África do Sul Nelson Mandela disse ontem que encontraria seu sucessor, o atual presidente Thabo Mbeki, para tentar salvar a vida de um importante defensor dos direitos dos portadores do vírus HIV e pacientes de Aids no país.
Zackie Achmat, líder da Campanha de Ação e Tratamento, se recusa a tomar remédios contra a Aids antes que hospitais públicos dêem início a um programa de distribuição desse tipo de remédio a pessoas menos abastadas. Mandela, um duro crítico do modo como a África do Sul lida com o problema da Aids, afirmou que encontraria Mbeki para buscar uma solução para o caso de Achmat.
"A ação de Achmat é baseada em princípios fundamentais. Seria fútil tentar mudar isso. Sua posição é a de que, enquanto as drogas não estiverem disponíveis para todos, especialmente para os mais pobres, ele não tomará os remédios", declarou Mandela -perto da casa de Achmat, em Muizenberg.
Essas drogas são distribuídas a pessoas que têm seguro, como Achmat. Mas, nos hospitais públicos, isso não ocorre. "Entendo agora a posição de Achmat e conheço as condições impostas por ele para voltar a tomar os remédios", disse Mandela.
Mandela, que presidiu a África do Sul de 1994 a 1997 -após 27 anos de prisão-, apóia a maioria das políticas aplicadas por Mbeki, porém tem criticado duramente a posição do atual presidente em relação à Aids.
Achmat, que foi preso durante o regime segregacionista por lutar contra o apartheid, não pôde ir a uma conferência sobre a Aids -realizada em Barcelona recentemente- porque seu estado físico piorou consideravelmente nos últimos tempos.
Ele disse que sua saúde melhorou nos últimos dias, mas salientou que a situação continua preocupante. "Meu sistema imunológico foi duramente minado nos últimos 18 meses. Meus médicos dizem que, se eu não tomar os remédios, meu sistema imunológico poderá ser seriamente comprometido", declarou Achmat.
Ele liderou uma série de ações judiciais nos últimos 12 meses, buscando a distribuição gratuita dos remédios contra a Aids.
Com quase 10% de sua população contaminada ou doente, a África do Sul é o país com o maior número de pessoas afetadas pelo problema no planeta. Segundo estimativas, até 7 milhões dos 44 milhões de sul-africanos poderão morrer de doenças relacionadas à Aids até 2010.


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