São Paulo, quarta-feira, 28 de julho de 2004

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VENEZUELA

Dinheiro que seria usado para ajudar a empresa a se recuperar financia os empreendimentos sociais do presidente

Estatal de petróleo paga projetos de Chávez

JUAN FORERO
DO "NEW YORK TIMES", EM CARACAS

O governo do presidente Hugo Chávez está usando recursos da PDVSA, a estatal petrolífera da Venezuela, para financiar projetos sociais em larga escala, em lugar de reinvesti-los na empresa. Para analistas, a ação pode comprometer os esforços para a recuperação da estatal, gravemente afetada pela greve geral ocorrida há um ano e meio.
Embora a produção energética ainda não tenha voltado ao nível anterior à greve, a PDVSA voltou a ser uma das maiores produtoras mundiais de óleo cru. A empresa diz que está lançando uma estratégia -dependente de petrolíferas estrangeiras- visando quase dobrar sua produção até 2009.
Tudo isso faz parte de um projeto grandioso possibilitado em parte pelos preços altíssimos do petróleo neste ano, que dobraram a receita prevista da PDVSA.
Mas, nos últimos meses, boa parte da receita vem sendo desviada das obras de exploração e produção que, para analistas, a PDVSA precisaria empreender para poder recuperar-se plenamente. Em vez disso, está financiando a revolução social prometida por Chávez.
O esforço vinha sendo atrapalhado pelas greves contra o governo e o golpe de 2002, que afastou Chávez por dois dias. Com a aproximação do referendo de 15 de agosto, que pode pôr fim à Presidência de Chávez, a onda de gastos públicos -com obras que vão de ferrovias e hospitais a programas de alfabetização- é uma ferramenta cada vez mais importante para obter apoio público.
Segundo uma pesquisa divulgada ontem pela empresa americana Evans/ McDonough Co. em conjunto com a venezuelana Varianzas Opinion, encomendada por uma unidade da PDVSA, 49% dos eleitores devem votar a favor de Chávez no referendo, e 41%, por sua saída. O levantamento, feito entre 16 e 22 de julho com 2.000 pessoas, tem margem de erro de 2,2 pontos percentuais.
Mas o novo papel que a PDVSA vem exercendo está causando preocupação entre executivos petrolíferos e em Washington, que há anos conta com a Venezuela como um de seus quatro maiores fornecedores de petróleo e que esperava que a estatal reduzisse sua dependência do Oriente Médio.
A empresa que surgiu das cinzas da greve não se assemelha em nada àquela mais circunspecta que, nos anos 90, em muitos momentos foi a maior fornecedora estrangeira de petróleo dos EUA.
Acabou-se a gigante petrolífera convencional que apresentava vendas de US$ 42 milhões, segundo dados da Comissão de Valores Mobiliários americana de outubro passado. Acabou-se a multinacional cuja direção chegou a compará-la à Exxon Mobil. E foram embora os 18 mil executivos e gerentes experientes demitidos por terem participado da greve.
Acabou-se, também, a autonomia. Em seu lugar, existe uma direção centralizada sob o Ministério de Minas e Energia.
A nova PDVSA não parece estar com pressa de aumentar sua produção para reduzir a escassez de oferta que ajudou a elevar o preço do barril para US$ 42 no início de junho, causando consternação ao setor energético americano.
Por enquanto, dinheiro vivo não falta à PDVSA. Sua receita petrolífera neste ano vai superar US$ 7 bilhões. O governo anunciou que US$ 2 bilhões formarão um fundo para obras públicas. Outro US$ 1,7 bilhão, tirado do orçamento de capitalização da PDVSA, de US$ 5 bilhões, irá para programas sociais.
Alguns executivos avisam que gastos como esses podem causar prejuízos permanentes a uma empresa que precisa de até US$ 3 bilhões por ano apenas para manter sua produção estável.
Mesmo assim, muitos analistas e executivos de grandes empresas petrolíferas com negócios na Venezuela resolveram esperar para ver o que acontece. Eles dizem que, com a grande entrada de receita, o governo de Chávez talvez possa gastar muito e ainda administrar a PDVSA.


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