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VENEZUELA
Dinheiro que seria usado para ajudar a empresa a se recuperar financia os empreendimentos sociais do presidente
Estatal de petróleo paga projetos de Chávez
JUAN FORERO
DO "NEW YORK TIMES", EM CARACAS
O governo do presidente Hugo
Chávez está usando recursos da
PDVSA, a estatal petrolífera da
Venezuela, para financiar projetos sociais em larga escala, em lugar de reinvesti-los na empresa.
Para analistas, a ação pode comprometer os esforços para a recuperação da estatal, gravemente
afetada pela greve geral ocorrida
há um ano e meio.
Embora a produção energética
ainda não tenha voltado ao nível
anterior à greve, a PDVSA voltou
a ser uma das maiores produtoras
mundiais de óleo cru. A empresa
diz que está lançando uma estratégia -dependente de petrolíferas estrangeiras- visando quase
dobrar sua produção até 2009.
Tudo isso faz parte de um projeto grandioso possibilitado em
parte pelos preços altíssimos do
petróleo neste ano, que dobraram
a receita prevista da PDVSA.
Mas, nos últimos meses, boa
parte da receita vem sendo desviada das obras de exploração e
produção que, para analistas, a
PDVSA precisaria empreender
para poder recuperar-se plenamente. Em vez disso, está financiando a revolução social prometida por Chávez.
O esforço vinha sendo atrapalhado pelas greves contra o governo e o golpe de 2002, que afastou
Chávez por dois dias. Com a aproximação do referendo de 15 de
agosto, que pode pôr fim à Presidência de Chávez, a onda de gastos públicos -com obras que vão
de ferrovias e hospitais a programas de alfabetização- é uma ferramenta cada vez mais importante para obter apoio público.
Segundo uma pesquisa divulgada ontem pela empresa americana Evans/ McDonough Co. em
conjunto com a venezuelana Varianzas Opinion, encomendada
por uma unidade da PDVSA, 49%
dos eleitores devem votar a favor
de Chávez no referendo, e 41%,
por sua saída. O levantamento,
feito entre 16 e 22 de julho com
2.000 pessoas, tem margem de erro de 2,2 pontos percentuais.
Mas o novo papel que a PDVSA
vem exercendo está causando
preocupação entre executivos petrolíferos e em Washington, que
há anos conta com a Venezuela
como um de seus quatro maiores
fornecedores de petróleo e que esperava que a estatal reduzisse sua
dependência do Oriente Médio.
A empresa que surgiu das cinzas da greve não se assemelha em
nada àquela mais circunspecta
que, nos anos 90, em muitos momentos foi a maior fornecedora
estrangeira de petróleo dos EUA.
Acabou-se a gigante petrolífera
convencional que apresentava
vendas de US$ 42 milhões, segundo dados da Comissão de Valores
Mobiliários americana de outubro passado. Acabou-se a multinacional cuja direção chegou a
compará-la à Exxon Mobil. E foram embora os 18 mil executivos e
gerentes experientes demitidos
por terem participado da greve.
Acabou-se, também, a autonomia. Em seu lugar, existe uma direção centralizada sob o Ministério de Minas e Energia.
A nova PDVSA não parece estar
com pressa de aumentar sua produção para reduzir a escassez de
oferta que ajudou a elevar o preço
do barril para US$ 42 no início de
junho, causando consternação ao
setor energético americano.
Por enquanto, dinheiro vivo
não falta à PDVSA. Sua receita petrolífera neste ano vai superar
US$ 7 bilhões. O governo anunciou que US$ 2 bilhões formarão
um fundo para obras públicas.
Outro US$ 1,7 bilhão, tirado do
orçamento de capitalização da
PDVSA, de US$ 5 bilhões, irá para
programas sociais.
Alguns executivos avisam que
gastos como esses podem causar
prejuízos permanentes a uma
empresa que precisa de até US$ 3
bilhões por ano apenas para manter sua produção estável.
Mesmo assim, muitos analistas
e executivos de grandes empresas
petrolíferas com negócios na Venezuela resolveram esperar para
ver o que acontece. Eles dizem
que, com a grande entrada de receita, o governo de Chávez talvez
possa gastar muito e ainda administrar a PDVSA.
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