São Paulo, sábado, 28 de julho de 2007

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Com gasoduto, Chávez volta a criticar Brasil

Venezuelano cita "oposição regional" ao projeto com o qual dizia pretender promover integração da América do Sul

Para o presidente, "projeto esfriou'; atritos em parcerias com Brasil têm aumentado nos últimos meses, e adesão ao Mercosul é questionada

Esteban Felix - 20.jul.07/Associated Press
Os presidentes Hugo Chávez e Daniel Ortega lançam refinaria em Puerto Sandino, Nicarágua


FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

Em recado indireto ao governo brasileiro, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, disse ontem que o gasoduto do Sul "esfriou" por causa da oposição regional ao projeto.
"Há uma parte da própria América do Sul contrária ao gasoduto. Conseguiram esfriar o projeto! Vínhamos avançando, reuniões com técnicos, os presidentes assinamos um convênio com Lula, Kirchner, Morales", discursou Chávez, citando Luiz Inácio Lula da Silva, o argentino Néstor Kirchner e o boliviano Evo Morales durante inauguração de uma fábrica transmitida em cadeia obrigatória de rádio e TV.
"Mas agora o projeto está frio, não houve mais reuniões, nós chamamos, adiaram a data", continuou o presidente. "Enfim, o projeto esfriou. Bom, não podemos obrigar a fazer um gasoduto para o Sul."
Chávez evitou mencionar de onde vem a oposição quem adiou as reuniões. Pelo lado brasileiro, o gasoduto é negociado pela Petrobras.
A maior parte do gasoduto do Sul seria desenvolvida em território brasileiro. No plano de Chávez, a megaobra nasceria em Güiria, litoral leste venezuelano, e chegaria a Buenos Aires e Montevidéu, passando por Manaus, Recife, Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo. A Petrobras estimou o custo em US$ 23 bilhões.
Chávez afirmou ontem que propôs o gasoduto pela primeira vez "há quase oito anos", ao então presidente brasileiro Fernando Henrique Cardoso, e que não visava ter lucro, mas promover a integração: "Eu dizia aos meus amigos do Brasil e da América do Sul que, se estivesse pensando em dinheiro, nem sequer me ocorreria propor o gasoduto do Sul. O milhão de BTU [unidade térmica para medir o gás] é vendido na América do Norte por até US$ 14. Por outro lado, Evo Morales vende à Argentina a US$ 5, e ao Brasil muito mais barato".
"Mas não, nós queremos repartir nossa riqueza com os países da América do Sul."
Nos últimos meses, Chávez tem mostrado descontentamento com o ritmo de projetos regionais em parceria com o Brasil. O Banco do Sul, que ele planejava lançar no primeiro semestre, sofre atrasos devido a divergências com Lula.
No início deste mês, Chávez disse que, caso o Senado brasileiro não aprove a entrada da Venezuela no Mercosul até setembro, retirará a solicitação de ingresso no bloco.
Além disso, os projetos em negociação da Petrobras na Venezuela, como a exploração de um bloco na faixa de Orinoco, ainda não saíram do papel.

Petrocasa
Pouco antes de citar o gasoduto, Chávez agradeceu a técnicos brasileiros ligados ao movimento Fábricas Ocupadas, que até maio geriram a fábrica plástica Cipla, em Joinville (SC). Decisão judicial o afastou do comando da empresa.
Um convênio de 2005 entre a Venezuela e o Fábricas Ocupadas, de tendência trotskista, assegurava o fornecimento de matéria-prima subsidiada à Cipla em troca de assistência técnica na implantação da estatal Petrocasa, que construirá casas populares a partir do PVC.


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