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Restrições de Israel travam reconstrução de Gaza, afirma ONU
RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO
Seis meses após o fim da
ofensiva militar israelense na
faixa de Gaza, que deixou mais
de 1.400 mortos, a Agência das
Nações Unidas de Assistência
aos Refugiados Palestinos
(UNRWA) não consegue usar
os US$ 151 milhões recebidos
para a reconstrução, pois Israel
não permite a entrada de dinheiro no território palestino.
Quem faz a afirmação, em
entrevista à Folha, é a comissária-geral da UNRWA, Karen
Koning AbuZayd, no Rio para o
Seminário Internacional de
Mídia sobre a Paz no Oriente
Médio. Americana, ela vive em
Gaza desde 2000.
FOLHA - Que mudanças ocorreram
depois do conflito?
KAREN KONING ABUZAYD - Não
tem havido muita mudança.
Todos estão esperando material para reconstruir suas casas.
Temos muitas doações, e fazemos o máximo para os países
árabes nos darem dinheiro para além do projeto principal de
reconstrução: para a criação de
empregos, alimentação nas escolas. Tentamos contornar o
problema, que é não termos dinheiro em espécie. Os israelenses pararam a atividade bancária. Então, mesmo que se tenha
dinheiro, não se pode gastá-lo.
FOLHA - A sra. considera que o conflito possa ter sido bom para o governo israelense de algum modo?
ABUZAYD - Certamente não a
longo prazo. Não acho que tenha sido uma guerra que eles
quisessem e da qual sintam orgulho. Estão muito preocupados com esses relatórios da
ONU sobre os nove prédios [da
UNRWA atingidos no conflito],
especialmente o depósito com
toda a comida e os remédios. É
muito dinheiro, e os israelenses
disseram que vão pagar.
FOLHA - Quanto vocês já receberam para a reconstrução e o que está
sendo feito?
ABUZAYD - Não estamos fazendo nada. Os recursos estão lá,
US$ 151 milhões. Estamos fazendo programas de criação de
empregos ou coisas que não requeiram material. Poderíamos
pôr mais gente, se pudéssemos
trazer cimento, mas só entram
remédios e comida.
FOLHA - Como é o relacionamento
da UNRWA com o Hamas?
ABUZAYD - Não podemos tratar
com eles, somos parte da ONU.
Nosso chefe de segurança se
encontra com eles. E desde que
eles assumiram, estamos muito
mais seguros. Sabem que ajudamos o lugar a funcionar.
FOLHA - Como a nova posição dos
EUA em relação a Israel pode ajudar
na solução da situação?
ABUZAYD - Usei a palavra "equilíbrio", porque, se os americanos não forem equilibrados,
não há chance. Isso dá a chance
de os dois grupos se encontrarem quando acabar a resistência dos israelenses a fazer o que
os americanos estão dizendo.
FOLHA - Quem convenceu mais a
opinião pública internacional durante o conflito?
ABUZAYD - As histórias que vieram de dentro de Gaza mostraram o que estava acontecendo.
Foi como Davi e Golias, essas
pessoas não tinham como se
defender.
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