São Paulo, terça-feira, 28 de julho de 2009

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Restrições de Israel travam reconstrução de Gaza, afirma ONU

RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO

Seis meses após o fim da ofensiva militar israelense na faixa de Gaza, que deixou mais de 1.400 mortos, a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados Palestinos (UNRWA) não consegue usar os US$ 151 milhões recebidos para a reconstrução, pois Israel não permite a entrada de dinheiro no território palestino. Quem faz a afirmação, em entrevista à Folha, é a comissária-geral da UNRWA, Karen Koning AbuZayd, no Rio para o Seminário Internacional de Mídia sobre a Paz no Oriente Médio. Americana, ela vive em Gaza desde 2000.

 

FOLHA - Que mudanças ocorreram depois do conflito?
KAREN KONING ABUZAYD
- Não tem havido muita mudança. Todos estão esperando material para reconstruir suas casas. Temos muitas doações, e fazemos o máximo para os países árabes nos darem dinheiro para além do projeto principal de reconstrução: para a criação de empregos, alimentação nas escolas. Tentamos contornar o problema, que é não termos dinheiro em espécie. Os israelenses pararam a atividade bancária. Então, mesmo que se tenha dinheiro, não se pode gastá-lo.

FOLHA - A sra. considera que o conflito possa ter sido bom para o governo israelense de algum modo?
ABUZAYD
- Certamente não a longo prazo. Não acho que tenha sido uma guerra que eles quisessem e da qual sintam orgulho. Estão muito preocupados com esses relatórios da ONU sobre os nove prédios [da UNRWA atingidos no conflito], especialmente o depósito com toda a comida e os remédios. É muito dinheiro, e os israelenses disseram que vão pagar.

FOLHA - Quanto vocês já receberam para a reconstrução e o que está sendo feito?
ABUZAYD
- Não estamos fazendo nada. Os recursos estão lá, US$ 151 milhões. Estamos fazendo programas de criação de empregos ou coisas que não requeiram material. Poderíamos pôr mais gente, se pudéssemos trazer cimento, mas só entram remédios e comida.

FOLHA - Como é o relacionamento da UNRWA com o Hamas?
ABUZAYD
- Não podemos tratar com eles, somos parte da ONU. Nosso chefe de segurança se encontra com eles. E desde que eles assumiram, estamos muito mais seguros. Sabem que ajudamos o lugar a funcionar.

FOLHA - Como a nova posição dos EUA em relação a Israel pode ajudar na solução da situação?
ABUZAYD
- Usei a palavra "equilíbrio", porque, se os americanos não forem equilibrados, não há chance. Isso dá a chance de os dois grupos se encontrarem quando acabar a resistência dos israelenses a fazer o que os americanos estão dizendo.

FOLHA - Quem convenceu mais a opinião pública internacional durante o conflito?
ABUZAYD
- As histórias que vieram de dentro de Gaza mostraram o que estava acontecendo. Foi como Davi e Golias, essas pessoas não tinham como se defender.


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