São Paulo, quarta-feira, 28 de julho de 2010

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ANÁLISE

Reconstrução da marca deverá passar pela racionalização, e não por emoções

IVAN PINTO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Marcas que tropeçam podem se reequilibrar e voltar a andar e correr e até ganhar a corrida. Algumas marcas poderosas passaram por isso -afinal, "errar é humano".
Mas e se o tropeço for deixar vazar bilhões de litros de óleo no mar e, pior, num mar que banha os EUA? Será que a marca BP leva alguma chance de voltar a ter aquela imagem que, pelo fato de ser "British", era percebida como séria e cumpridora, além de competente?
Certas atitudes da empresa proprietária de uma marca que tropeça (como reconhecer o erro, consertá-lo, repor as perdas dos clientes etc.) e que formam o beabá do bom relacionamento com os clientes podem até funcionar para que as pessoas digam "puxa, que gente honesta e responsável. É por isso que sou fã deles".
Valeria para uma marca de produtos de consumo de compra frequente (possível vítima da anedótica barata na garrafa de refrigerante), bens duráveis (um "recall" resolve), serviços ("restauraram meu saldo em 24 horas! Bárbaro!").

ELABORAÇÃO
Marcas desse tipo de produto têm na sua aceitação um componente emocional que pode ser muito forte -e emoções, ainda que com esforço, podem ser mudadas.
Mas a BP lida com ofertas que exigem do cliente considerações muito elaboradas no plano do racional e, praticamente, nenhuma emoção na hora de decidir.
Mais: sua comunicação é pessoa a pessoa (ou, pior, empresa-governo). E o receio do efeito da opinião pública -mesmo que a empresa consiga, racionalmente, convencer o comprador de que tudo foi um acidente, e não uma falha de processos- pode pesar na hora da decisão.
Significa que a marca está condenada e que a empresa não sobreviverá? Não necessariamente.

CREDIBILIDADE
Mas, sem mencionar a questão financeira, que não deve ser simples de resolver, os gestores da BP terão que fazer um enorme trabalho de restauro da credibilidade junto a todos e cada um dos seus clientes e "prospects" e -importantíssimo!- junto à opinião pública: governos compradores dos seus serviços não vão querer ser acusados de motivações escusas por trás das suas decisões.

IVAN PINTO é professor de gestão de marcas na pós-graduação da Escola Superior de Propaganda e Marketing (SP).




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