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ANÁLISE
Acordo tem chance de funcionar
PATRICK COCKBURN
DO "INDEPENDENT"
As tréguas no Iraque são conhecidas por serem frágeis, mas o
acordo para pôr fim aos combates
em Najaf pode funcionar porque
foi avalizado pelo grão aiatolá Ali
al Sistani, o mais poderoso líder
religioso do Iraque.
Já está ficando claro quem são
os vencedores e os perdedores na
crise em Najaf. A maior perdedora é a população de Kufa e Najaf,
que viu suas cidades sendo devastadas.
O principal vencedor é o grão-aiatolá Sistani, que mostrou que
ele, e apenas ele, possui a autoridade necessária entre os iraquianos para encerrar as batalhas. A lição a ser tirada disso pelos EUA e
o Reino Unido é que, se ignorarem Al Sistani, o farão por conta e
risco próprios, e que precisam
atender a sua exigência de eleições que resultem numa autoridade iraquiana legítima e digna
de crédito.
Para Allawi, o resultado da crise,
até agora, representa um revés.
""O fato de ele não ter conseguido
vencer Al Sadr é uma derrota", diz
o comentarista e historiador iraquiano Ghasan Attiyah. ""Se não
podia eliminá-lo, por que entrou
nesta crise em primeiro lugar?"
Dois meses depois de ter sido
nomeado pelos EUA, Allawi vem
estreitando sua base de apoio já limitada, em lugar de ampliá-la.
Existem dentro de seu próprio gabinete sinais de divisão, e os partidos islâmicos não lhe deram
apoio pleno em sua investida contra Najaf.
Os curdos, a única comunidade
iraquiana que ainda é favorável à
presença americana no Iraque,
também se distanciaram do governo.
O problema para Allawi é que
seu apoio mais importante é o
Exército americano, mas essa é
uma faca de dois gumes. A polícia, o Exército e a Guarda Nacional iraquianos são indisciplinados, pouco confiáveis e tendem,
como foi visto em Kufa nos últimos dias, a disparar contra multidões de manifestantes.
Erros estratégicos
Não há dúvida quanto à força
do Exército americano. Mas ele
continua a comportar-se como se
estivesse combatendo o Exército
soviético.
Sua principal preocupação é
manter suas próprias baixas ao
mínimo, tanto assim que nem sequer contabiliza as baixas iraquianas. Em Najaf, as forças americanas demoliram qualquer construção desde a qual desconfiassem
que estivessem saindo disparos.
Aviões americanos despejaram
bombas de 450 quilos perto do
santuário sagrado. Os americanos
vêm matando iraquianos em
grande número, e isso dificilmente vai ajudar a torná-los mais benquistos.
Al Sadr e seus milicianos talvez
se retirem agora do santuário no
centro de Najaf, mas conquistaram uma vitória pelo simples fato
de terem sobrevivido. Até março,
quando o enviado norte-americano Paul Bremer teve a idéia desastrosa de entrar num confronto
com ele, Sadr era uma figura importante na política iraquiana,
mas estava longe de ser alguém de
peso central. Ao atacá-lo, os EUA
conferiram credibilidade a seu
misto de nacionalismo e religião.
O grão aiatolá Ali al Sistani sai
da crise com sua autoridade fortalecida. Allawi sofreu uma derrota
e mostrou sua fraqueza, mas não
caiu, como esperavam alguns de
seus adversários.
O historiador Attiyah argumenta que a única solução real para a
crise permanente no Iraque seria
que os EUA e seus aliados ""convencessem os iraquianos de que
haverá eleições livres que vão resultar num governo legítimo".
Tradução de Clara Allain
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