São Paulo, segunda-feira, 28 de agosto de 2006

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Confisco cria nova tensão EUA-Venezuela

Apreensão de malotes diplomáticos americanos contendo equipamento militar intensifica guerra verbal

SIMON ROMERO
DO "NEW YORK TIMES"


Os governos dos Estados Unidos e da Venezuela intensificaram sua guerra verbal depois que autoridades de alfândega confiscaram, na semana passada, malotes diplomáticos norte-americanos que continham equipamento militar. Analistas afirmam que isso pode ser o prelúdio para uma piora nas relações entre os países.
O procurador-geral da Venezuela abriu uma investigação na última sexta-feira para avaliar se a embaixada norte-americana violou leis aduaneiras ao trazer os 20 malotes diplomáticas ao país.
Os malotes, entregues por um avião de transporte militar C-17, incluíam um ejetor de assento, aparentemente planejado para aviões de combate da Venezuela, cargas explosivas e em torno de 80 kg de frango que não haviam passado pela inspeção sanitária do país, segundo o ministro do Interior, Jesse Chacon Escamillo.
O incidente ocorreu em meio ao crescente desagrado do governo do presidente Hugo Chávez sobre a decisão dos Estados Unidos de aumentar as operações de espionagem em relação à Venezuela, com a criação neste mês de um cargo na inteligência para inspeção e análise sobre Venezuela e Cuba.
Brian Penn, porta-voz da embaixada norte-americana em Caracas, disse à mídia local, na semana passada, que os malotes diplomáticos confiscados na quinta-feira continham reposição de ejetor de assentos para o Exército da Venezuela.
Os EUA proibiram a venda de armas e equipamentos militares à Venezuela em maio, citando a falta de cooperação aos esforços antiterroristas, mas afirmaram que acordos já existentes seriam cumpridos.
Funcionários da embaixada norte-americana não comentaram o caso no sábado. Edgar Vasquez, porta-voz do Departamento de Estado em Washington, pediu uma explicação imediata do incidente, questionando a investigação, que viola o tratado internacional sobre malotes diplomáticos.
A tensão entre os países tem aumentado, com os Estados Unidos criticando Chávez pelo seu incessante empenho em estreitar laços com Irã e com Cuba. Chávez criticou os esforços norte-americanos para frustrar sua ambição de garantir um assento neste ano no Conselho de Segurança da ONU.
Na semana passada, Chávez disse que a Venezuela recebera o apoio da China para sua entrada no órgão da ONU, após o anúncio de um plano para aumentar a venda de petróleo não-refinado para o país asiático. E acusou os EUA de barrarem a entrada da Venezuela no órgão da ONU. "Os imperialistas americanos estão tentando nos parar", disse Chávez.
Dados do Departamento de Energia norte-americano mostram que a exportação de petróleo venezuelano para os EUA caiu 6% nos primeiros quatro meses deste ano, enquanto sua produção, de modo geral, sofreu um declínio.
Analistas lembram que a Venezuela já usou a discussão sobre malotes diplomáticas como pretexto para romper laços diplomáticos com outros países, como a antiga União Soviética, nos anos 50.


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