São Paulo, terça-feira, 28 de agosto de 2007

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Bush perde seu secretário da Justiça

Alberto Gonzales, acusado de justificar tortura, anunciou saída em meio a escândalo sobre demissões de promotores

É o segundo integrante do círculo íntimo do presidente a deixar o governo dos EUA em menos de 15 dias, pouco depois do assessor Karl Rove

Evan Vucci/Associated Press
Bush afirma em discurso que aceitou "com relutância" a renúncia de Gonzales, que apoiou juridicamente "guerra contra o terror"


SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

O secretário da Justiça do governo Bush, o polêmico Alberto Gonzales, 52, avisou na manhã de ontem que renunciará ao seu cargo, que equivale aos brasileiros ministro da Justiça e procurador-geral da República. É a segunda defecção importante em menos de 15 dias de assessores do círculo íntimo do presidente republicano.
No dia 15, tinha sido a vez do estrategista político e assessor presidencial Karl Rove. Ontem, num encontro em que se mostrou mal-humorado e saiu sem responder a perguntas de repórteres, como faz habitualmente, Bush afirmou que aceitava "relutantemente" o pedido de seu "amigo pessoal" Gonzales, que teria sofrido "meses de tratamento injusto".
"É triste vivermos numa época em que uma pessoa talentosa e honrada como Alberto Gonzales é impedida de fazer um trabalho importante porque seu bom nome foi arrastado à lama por razões políticas", disse o presidente no aeroporto de Waco, no Estado do Texas. As lideranças do Partido Democrata, de oposição, comemoraram a renúncia.
"Sua saída reforça o que o povo americano já sabia", disse Patrick Leahy, presidente da Comissão de Justiça do Senado. "A nenhum Departamento da Justiça deveria ser permitido se transformar num braço político da Casa Branca, seja ele comandado por um republicano ou um democrata."
Gonzales é um dos ideólogos e o mais ardente defensor do arcabouço jurídico sobre o qual se apoia a "guerra ao terror" declarada por Bush. É acusado por políticos e entidades de direitos civis de ser também um dos artífices de leis que ampliam a invasão à privacidade dos norte-americanos e que justificam o tratamento dado a prisioneiros de guerra do país.
Deixa o governo em meio a investigações do Congresso sobre acusações de que teria politizado o órgão que dirigia ao demitir promotores públicos por não serem "bushistas" o suficiente e de ter mentido em audiência sobre um programa de espionagem doméstica que prescinde de mandado judicial. Seu desempenho nos depoimentos desagradaram mesmo os republicanos mais leais ao presidente George W. Bush.
Pela manhã, Bush listou os feitos de seu secretário. "A Lei Patriota [que amplia os poderes do presidente], a Lei das Comissões Militares [que cria tribunal e regras diferenciados para os presos de Guantánamo] e outras importantes leis trazem sua marca", disse.

"Pior da história"
No site da ACLU, Anthony Romero, o presidente da entidade liberal de direitos civis, tinha outra lista para o que chama de "um dos piores secretários da Justiça da história dos EUA". Entre os itens de que acusa Gonzales está ter chamado de "obsoletas" as Convenções de Genebra ao escrever o que ficaria conhecido como "memorando da tortura", ainda como conselheiro jurídico do governo, e de não ter conseguido "demonstrar a independência necessária em relação à Casa Branca e ao presidente George W. Bush".
O Departamento da Justiça deve "não só ser apolítico como parecer apolítico, não só cumprir a lei como parecer que cumpre a lei", disse à CNN William Cohen, comentando a renúncia.
Republicano, o ex-secretário da Defesa (1997-2001) do democrata Bill Clinton acredita que o sucessor de Gonzales "deveria ser alguém respeitado por ambos os partidos". Na manhã de ontem, Washington já colocava no topo da lista de especulação o secretário da Defesa Nacional, Michael Chertoff.
Gonzales deixa o cargo em 17 de setembro. Na declaração distribuída ontem pela Secretaria da Justiça, o titular demissionário nascido em San Antonio, no Texas, evita tocar em assuntos polêmicos e prefere destacar sua condição de descendente de mexicanos -é provável que três de seus avós tenham entrado nos EUA sem documentos.
"Eu relembro freqüentemente nossos concidadãos que nós vivemos no maior país do mundo e que eu vivi o sonho americano", disse Gonzales, que trabalha com Bush desde 1995. "Mesmo os meus piores dias como secretário da Justiça foram melhores que os melhores dias de meu pai."


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