São Paulo, quinta-feira, 28 de agosto de 2008

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Rússia reforça frota para se contrapor a americanos

Moscou alega "precaução" contra presença da Marinha dos EUA no mar Negro

Medvedev procura romper o isolamento e busca apoio da China e de ex-Repúblicas da URSS à decisão que levou ao parcelamento da Geórgia


DA REDAÇÃO

A Rússia reforçou ontem sua frota no mar Negro, como "medida de precaução" para equilibrar a presença da Marinha americana no litoral da Geórgia, afirmou Dmitri Peskov, porta-voz do primeiro-ministro Vladimir Putin.
Ele disse esperar que não ocorram confrontos, atitude, aliás, compartilhada pelos Estados Unidos, que deslocaram de Poti -porto georgiano sob guarda militar russa- para Batumi, mais ao sul, a ancoragem do navio Dallas, que transportou 34 toneladas de ajuda humanitária para a Geórgia.
Enquanto isso, o presidente russo, Dmitri Medvedev, encontrou-se com o presidente da China, Hu Jintao, relatando sua decisão, tomada na véspera, de reconhecer a independência da Ossétia do Sul e da Abkházia, dois territórios que pelas leis internacionais pertencem à Geórgia.
A China não deu sinais de seguir o exemplo russo, o que faria recair também sobre ela os protestos que se abateram desde terça sobre Moscou. Em Pequim, a Chancelaria disse apenas "estar preocupada com os últimos acontecimentos".
O governo chinês defendeu "uma solução por meio do diálogo". O país é vulnerável em razão do Tibete e da zona muçulmana de Xinjiang, que também querem a independência.
No último dia 7, a Geórgia tentou retomar pela força a Ossétia do Sul, que era na prática um protetorado russo sob acordo de 1992. A Rússia reagiu reforçando seu contingente em solo sul-ossetiano e ainda penetrou na Geórgia, onde aparentemente ainda ocupa bem mais que a zona-tampão de 10 km permitida pelo acordo de cessar-fogo.
O chanceler russo, Sergei Lavrov, disse ontem, com certo bom humor, que seu país "não torceria o braço" de quem não reconhecesse os territórios.

Reunião
Medvedev está no Tadjiquistão para reunião da SCO (Organização de Cooperação de Xangai), grupo centro-asiático criado em 2001 como contrapeso à Otan, a aliança militar ocidental. Além da China, integram-na Cazaquistão, Uzbequistão e Quirguistão, ex-repúblicas soviéticas que Moscou espera que reajam de modo ao menos compreensivo a seu apoio às regiões separatistas da Geórgia.
Quanto à presença naval americana no mar Negro, um dos comandantes militares russos, general Anatoli Nogovitsin, disse, segundo o "New York Times", que seu país está "assustado". Citou um tratado de 1938 que limita o número e o tempo de permanência no mar de embarcações militares que não pertençam à região.
Em Bruxelas, um porta-voz da Otan, coronel Web Wright, disse que oficialmente apenas quatro navios da aliança estavam ontem no mar Negro -um deles, o contratorpedeiro americano McFaul, chegou a ancorar em Batumi no domingo.
Também ontem multiplicaram-se declarações de cautela quanto à adoção de sanções econômicas e comerciais contra a Rússia. O "Monde" lembra que o país é pouco vulnerável, em razão dos US$ 600 bilhões de reservas cambiais e do petróleo e gás que exporta.
Há uma centena de empresas russas na Bolsa de Londres. O máximo que poderia ocorrer, diz o jornal, seria fiscalizá-las mais intensamente.

Preocupação alemã
Na Alemanha, que exportou para a Rússia no primeiro semestre 15,8 bilhões, Klaus Mangold, da entidade empresarial BDI, declarou-se "preocupado" com possíveis retaliações, que afetariam o grupo energético E.ON-Ruhrgas e a montadora Volkswagen.
A Bolsa de Moscou chegou a cair anteontem 6,1%, em razão da iniciativa diplomática do Kremlin, e o rublo se desvalorizou em 4% contra o dólar.
O ministro russo da Agricultura, Alexei Gordeiev, disse que seu país reduziria a importação de carne de frango e de porco, que têm nos EUA o principal fornecedor. Um dos dirigentes americanos do setor, Jim Summer, disse "que é importante separar economia de política".

Com agências internacionais



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