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Oposição conquistará 67% da Câmara no Japão, diz pesquisa
Com raízes conservadoras, provável futuro primeiro-ministro critica globalização
Yukio Hatoyama não diz como vai aumentar o gasto estatal sem mais impostos; o endividamento público
já equivale a 200% do PIB
RAUL JUSTE LORES
ENVIADO ESPECIAL A TÓQUIO
A oposição deve conquistar
67% da Câmara dos Deputados
do Japão na eleição deste domingo, segundo pesquisa do
diário "Asahi", um dos maiores
do país, com circulação de 8 milhões de exemplares.
Segundo levantamento telefônico, com 190 mil eleitores
entre os dias 22 e 25, o Partido
Democrata do Japão (PDJ) deve ganhar 320 das 480 cadeiras
da Câmara da Dieta, o Parlamento japonês. Hoje, tem 112.
Sigla do conservador premiê
Taro Aso, o Partido Liberal Democrata (PLD), deve encolher
de 302 para 103 cadeiras. Os liberais governaram o Japão nos
últimos 54 anos, salvo por nove
meses entre 1993 e 1994.
A popularidade de Aso, no
poder há apenas dez meses,
desmoronou por conta da recessão, do desemprego crescente, do aumento de impostos
e da falta de liderança.
Se a vitória opositora se confirmar, o próximo premiê deve
ser o líder do PDJ, o engenheiro
Yukio Hatoyama, 62, que estudou nas Universidades de Tóquio e Stanford (EUA).
Como vários outros figurões
do PDJ, ele já pertenceu ao
PDL e é de uma dinastia de políticos conservadores: seu pai
foi chanceler, e seu avô, premiê.
Na campanha, seu discurso
adotou um tom mais à esquerda. Em artigo publicado ontem
no "New York Times", Hatoyama critica a globalização e a
"busca fundamentalista do capitalismo, que trata as pessoas
como meio, não como fim".
"Devemos retornar aos
ideais de fraternidade da Revolução Francesa", escreveu.
Ele defende a retomada de
valores tradicionais japoneses,
que, segundo ele, foram deixados de lado pela globalização.
"Devemos trabalhar em políticas que recuperem os laços que
mantenham as pessoas unidas,
que levem mais em conta a natureza e o meio ambiente, que
reconstruam o bem-estar social e que tratem das disparidades de riqueza", continuou.
Na política externa, os democratas acusam os liberais de só
dizer "sim, senhor" aos americanos. No artigo, porém, Hatoyama diz que a relação com os
EUA continuará a ser a "pedra
fundamental" na política exterior japonesa, mas que "não podemos esquecer nossa identidade como país asiático, nossa
esfera de ser". Ele diz ainda que
devem ser reforçadas as relações de cooperação econômica
e de segurança na Ásia.
Na campanha, a oposição
prometeu não elevar o equivalente ao ICMS nos próximos
quatro anos e a aumentar subsídios para agricultores e famílias com filhos pequenos.
Mas não explicou como vai
gastar mais sem cobrar mais
impostos quando o endividamento público já equivale a
200% do PIB.
Apesar da retórica, Hatoyama é considerado um político
tradicional e seguidor de Ichiro
Ozawa, que renunciou à liderança democrata em maio depois de um escândalo de financiamento eleitoral.
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