São Paulo, sexta-feira, 28 de agosto de 2009

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Oposição conquistará 67% da Câmara no Japão, diz pesquisa

Com raízes conservadoras, provável futuro primeiro-ministro critica globalização

Yukio Hatoyama não diz como vai aumentar o gasto estatal sem mais impostos; o endividamento público já equivale a 200% do PIB


RAUL JUSTE LORES
ENVIADO ESPECIAL A TÓQUIO

A oposição deve conquistar 67% da Câmara dos Deputados do Japão na eleição deste domingo, segundo pesquisa do diário "Asahi", um dos maiores do país, com circulação de 8 milhões de exemplares.
Segundo levantamento telefônico, com 190 mil eleitores entre os dias 22 e 25, o Partido Democrata do Japão (PDJ) deve ganhar 320 das 480 cadeiras da Câmara da Dieta, o Parlamento japonês. Hoje, tem 112.
Sigla do conservador premiê Taro Aso, o Partido Liberal Democrata (PLD), deve encolher de 302 para 103 cadeiras. Os liberais governaram o Japão nos últimos 54 anos, salvo por nove meses entre 1993 e 1994.
A popularidade de Aso, no poder há apenas dez meses, desmoronou por conta da recessão, do desemprego crescente, do aumento de impostos e da falta de liderança.
Se a vitória opositora se confirmar, o próximo premiê deve ser o líder do PDJ, o engenheiro Yukio Hatoyama, 62, que estudou nas Universidades de Tóquio e Stanford (EUA).
Como vários outros figurões do PDJ, ele já pertenceu ao PDL e é de uma dinastia de políticos conservadores: seu pai foi chanceler, e seu avô, premiê.
Na campanha, seu discurso adotou um tom mais à esquerda. Em artigo publicado ontem no "New York Times", Hatoyama critica a globalização e a "busca fundamentalista do capitalismo, que trata as pessoas como meio, não como fim".
"Devemos retornar aos ideais de fraternidade da Revolução Francesa", escreveu.
Ele defende a retomada de valores tradicionais japoneses, que, segundo ele, foram deixados de lado pela globalização. "Devemos trabalhar em políticas que recuperem os laços que mantenham as pessoas unidas, que levem mais em conta a natureza e o meio ambiente, que reconstruam o bem-estar social e que tratem das disparidades de riqueza", continuou.
Na política externa, os democratas acusam os liberais de só dizer "sim, senhor" aos americanos. No artigo, porém, Hatoyama diz que a relação com os EUA continuará a ser a "pedra fundamental" na política exterior japonesa, mas que "não podemos esquecer nossa identidade como país asiático, nossa esfera de ser". Ele diz ainda que devem ser reforçadas as relações de cooperação econômica e de segurança na Ásia.
Na campanha, a oposição prometeu não elevar o equivalente ao ICMS nos próximos quatro anos e a aumentar subsídios para agricultores e famílias com filhos pequenos.
Mas não explicou como vai gastar mais sem cobrar mais impostos quando o endividamento público já equivale a 200% do PIB.
Apesar da retórica, Hatoyama é considerado um político tradicional e seguidor de Ichiro Ozawa, que renunciou à liderança democrata em maio depois de um escândalo de financiamento eleitoral.


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