São Paulo, domingo, 28 de agosto de 2011

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Crise sanitária é nova ameaça na Líbia

Conflito na capital diminui, mas coleta de lixo e saneamento inexistem; rebeldes miram agora cidade de Gaddafi

Aeroporto de Trípoli é tomado; 53 corpos são encontrados em galpão, supostamente mortos pelo ditador da Líbia

SAMY ADGHIRNI
ENVIADO ESPECIAL A TRÍPOLI

Após uma semana de combates em Trípoli, a falta de serviços básicos como água, luz e recolhimento de lixo gera temores de crise sanitária na capital líbia.
Os rebeldes já controlam praticamente toda a cidade e há cada vez menos confrontos nas ruas.
Ontem, tomaram o aeroporto e o principal acesso à fronteira com a Tunísia. Miram seus esforços agora em Sirte, no centro do país, cidade natal de Muammar Gaddafi e seu derradeiro bastião.
Mas na capital, as condições de vida da população são entrave à normalização.
O problema mais urgente é a ruptura total das redes de água potável e esgoto.
Rebeldes montaram vários pontos de distribuição gratuita de água, colhida em poços artesianos ou trazida em caminhões de áreas onde o fornecimento continua.
Sob um sol implacável, homens, mulheres e crianças faziam fila para encher galões de água, sob olhar atento de rebeldes armados.
"Não tomo banho há três dias. Agora somos livres, mas mal temos água para cozinhar", diz o funcionário do aeroporto Ahmed Walid, 55, após colocar no porta-malas do carro garrafões enchidos numa escola transformada em ponto de distribuição.
No Hospital Central de Trípoli a água é trazida por insurgentes em caminhões, mas em quantidade insuficiente. Até o uso para higiene dos médicos é racionado.
"A situação atual está sob controle. Mas se ela se prolongar por mais dias, poderemos ter casos de cólera e sarna", disse o cirurgião geral Ashraf Shaebi, 36.
O mais preocupante, segundo Shaebi e vários outros moradores ouvidos pela Folha, é a falta de informações sobre o desabastecimento.
Rumores vão desde nascentes que teriam sido envenenadas pelas tropas de Gaddafi até canalizações destruídas em combate. Rebeldes reconhecem a gravidade do problema, mas admitem que a gestão da cidade ainda não é prioridade.
"Capturar Gaddafi é mais importante do que fornecer água. É preciso, antes de qualquer coisa, transformar Trípoli num lugar seguro", disse à Folha um rebelde identificado apenas como Walid, responsável pela segurança no centro da cidade.
Além da falta de água, Trípoli sofre com blecautes.
Por toda parte há montes de lixo que se estendem por metros de comprimento. Moradores colocaram fogo em algumas lixeiras para queimar os resíduos, gerando colunas de fumaça escura.
As falhas nos serviços surgem em meio aos primeiros sinais de volta ao normal no dia a dia da capital. Ontem havia várias lojas abertas no centro, e a presença de homens armados nas ruas é menos ostensiva.
Rebeldes anunciaram que água e luz começarão a ser normalizados a partir de hoje, mas pediram compreensão pelo fato de "não poder fazer milagres".

ONU
Forças rebeldes encontraram ontem em Trípoli um galpão com os corpos de ao menos 53 pessoas mortas e queimadas, após retirada e fuga das tropas de Gaddafi.
Para evitar novas atrocidades como essa, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pediu ao Conselho de Segurança que estude o envio de uma missão de paz ao país.


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