|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
comentário
Obama passa confiança; rival, não
MARCELO COELHO
COLUNISTA DA FOLHA
Uma coisa é ter visto a
Convenção Republicana e
a Convenção Democrata.
Outra coisa é ver McCain e
Obama, um ao lado do outro, no debate de anteontem: o contraste entre os
dois, que já parecia grande,
torna-se gigantesco.
McCain tem uma voz de
vovó Donalda. O timbre de
Obama é sonoro e incisivo.
McCain carrega nas costas
os oito anos de fracasso do
governo Bush. Obama está
leve e ágil para criticar tudo o que aconteceu.
McCain não parece acreditar que será o próximo
presidente; Obama, sim.
O republicano sorri encabulado e está longe de
representar a agressividade militarista de muitos de
seus correligionários.
O democrata sorri apenas para sinalizar alguma
distorção ou truque na retórica de seu adversário;
seu olhar, sua postura e,
para dizer tudo, sua juventude transmitem uma segurança muito maior.
Dá para imaginar que
mesmo um republicano
ultraconservador possa
ter saído decepcionado
com o desempenho de Mc
Cain; o imaginário "durão", pelo menos no visual
da coisa, foi arrebatado
por Obama.
O problema é que
McCain tinha de se distanciar do impopularíssimo
governo Bush, sem parecer "mole" ou esquerdista.
McCain se pôs a criticar
o excesso de gastos governamentais da plataforma
democrata. Mas foi o primeiro a sugerir que, no poder, Bush gastou irresponsavelmente. Obama criticou a desregulamentação
financeira patrocinada
por Bush; McCain teve de
dizer que nunca foi a favor
dessa política.
O candidato republicano também ficou conhecido por se opor às práticas
de tortura adotadas no governo Bush. Obama só tinha a repetir, sobre o assunto, uma frase que empregou várias vezes no debate: "Concordo com
McCain". O republicano
era, assim, conduzido sem
protesto a um campo ideológico onde Obama reina
soberanamente.
Apesar da linha dura
que adota a respeito do
Iraque ou do Irã, McCain
saiu do debate como um tipo de velhote meio enfraquecido, nada ansioso para bombardear o mundo e
bem pouco capaz de bombardear Obama.
Para um observador
brasileiro -para este observador, em todo caso-,
o debate foi sofisticado demais. Por aqui, seria de esperar que McCain fosse
questionado por sua tentativa de adiar o encontro,
e que Obama viesse com
uma frase bombástica, do
tipo "o nome da crise é
George W. Bush".
Os dois candidatos foram mais vagos e cavalheiros do que o momento pede; mas em matéria de firmeza, nitidez de resposta e
sede ao pote, o nome do
vencedor é Barack Obama.
Texto Anterior: Pesquisas sugerem que Obama venceu debate Próximo Texto: Comentário: Uma vitória magra para John McCain Índice
|