São Paulo, domingo, 28 de setembro de 2008

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comentário

Obama passa confiança; rival, não

MARCELO COELHO
COLUNISTA DA FOLHA

Uma coisa é ter visto a Convenção Republicana e a Convenção Democrata. Outra coisa é ver McCain e Obama, um ao lado do outro, no debate de anteontem: o contraste entre os dois, que já parecia grande, torna-se gigantesco.
McCain tem uma voz de vovó Donalda. O timbre de Obama é sonoro e incisivo. McCain carrega nas costas os oito anos de fracasso do governo Bush. Obama está leve e ágil para criticar tudo o que aconteceu. McCain não parece acreditar que será o próximo presidente; Obama, sim.
O republicano sorri encabulado e está longe de representar a agressividade militarista de muitos de seus correligionários.
O democrata sorri apenas para sinalizar alguma distorção ou truque na retórica de seu adversário; seu olhar, sua postura e, para dizer tudo, sua juventude transmitem uma segurança muito maior.
Dá para imaginar que mesmo um republicano ultraconservador possa ter saído decepcionado com o desempenho de Mc Cain; o imaginário "durão", pelo menos no visual da coisa, foi arrebatado por Obama.
O problema é que McCain tinha de se distanciar do impopularíssimo governo Bush, sem parecer "mole" ou esquerdista.
McCain se pôs a criticar o excesso de gastos governamentais da plataforma democrata. Mas foi o primeiro a sugerir que, no poder, Bush gastou irresponsavelmente. Obama criticou a desregulamentação financeira patrocinada por Bush; McCain teve de dizer que nunca foi a favor dessa política.
O candidato republicano também ficou conhecido por se opor às práticas de tortura adotadas no governo Bush. Obama só tinha a repetir, sobre o assunto, uma frase que empregou várias vezes no debate: "Concordo com McCain". O republicano era, assim, conduzido sem protesto a um campo ideológico onde Obama reina soberanamente.
Apesar da linha dura que adota a respeito do Iraque ou do Irã, McCain saiu do debate como um tipo de velhote meio enfraquecido, nada ansioso para bombardear o mundo e bem pouco capaz de bombardear Obama.
Para um observador brasileiro -para este observador, em todo caso-, o debate foi sofisticado demais. Por aqui, seria de esperar que McCain fosse questionado por sua tentativa de adiar o encontro, e que Obama viesse com uma frase bombástica, do tipo "o nome da crise é George W. Bush".
Os dois candidatos foram mais vagos e cavalheiros do que o momento pede; mas em matéria de firmeza, nitidez de resposta e sede ao pote, o nome do vencedor é Barack Obama.


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