São Paulo, domingo, 28 de setembro de 2008

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Quito diz ter selado acordo com Odebrecht

Equador afirma que brasileira aceita suas condições após divergência quanto a hidrelétrica; empreiteira admite avanços, mas nega assinatura

Segundo governo Correa, construtora deve depositar garantias de US$ 43 milhões e buscar arbitragem externa para apurar falhas em obra

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A QUITO

O presidente do Equador, Rafael Correa, anunciou ontem que a empreiteira Odebrecht aceitou todas as condições exigidas pelo governo em torno dos problemas na hidrelétrica de San Francisco, construída pela empresa brasileira, mas disse que ainda analisará "se eles continuam ou não no país".
"Como dizem na minha terra, o macaco sabe em que pau trepa. Depois da sacudida, ontem [sexta-feira] recebemos assinada unilateralmente a declaração de Odebrecht", afirmou Correa, em seu programa semanal de TV, enquanto mostrava o documento às câmaras.
Após o anúncio de Correa, a Odebrecht informou, via assessoria de imprensa, que o acordo ainda não foi assinado oficialmente, embora as negociações estivessem "avançadas". A empresa não soube explicar qual o documento que o presidente equatoriano mostrou pela TV.
Apesar do anúncio, Correa não revogou o decreto da última terça-feira, no qual arrestava os bens da Odebrecht e paralisava outros quatro projetos da empresa no país. "Agora temos de analisar se permitimos que continuem no país ou não."
Correa também disse que continua analisando se é "legítimo" o empréstimo de US$ 243 milhões contraído no BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para a obra da hidrelétrica. Na quarta, ele ameaçara não pagar porque se trata de verba entregue à Odebrecht, e não ao Estado equatoriano.
Inaugurada em meados de 2007 em Baños de Agua Santa, 180 km ao sul de Quito, a usina de San Francisco, de porte médio, é responsável por 12% da produção elétrica do Equador.

Termos
De acordo com Correa, que nesta terça se reúne com o presidente Lula em Manaus, a Odebrecht fará um depósito de garantia de US$ 43 milhões e contratará uma auditoria internacional para apurar de quem é a responsabilidade pelos problemas que levaram a usina a deixar de produzir desde o dia 6 de junho. "Essa gente está acostumada a tratar com governos que podem amolecer, subornar. Mas conosco se enganaram por completo", declarou.
Durante a semana, a Odebrecht já dizia aceitar os termos do acordo, mas não poder assiná-lo por "não ter anuência das outras empresas do consórcio", a francesa Alstom e a austríaca VA Tech Hydro.
O governo equatoriano mantém militarizadas as instalações da Odebrecht e proibiu a saída de dois diretores da empresa do país. Apesar da intervenção, os cerca de 2.500 empregados da empreiteira continuaram trabalhando durante a semana nos quatro projetos em andamento, que somam US$ 650 milhões, e na reparação da hidrelétrica, que deve voltar a funcionar no início de outubro.


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