São Paulo, segunda-feira, 28 de setembro de 2009

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Sitiados, zelaystas criam normas próprias

ENVIADO ESPECIAL A TEGUCIGALPA

Greve de fome, cantar o hino nacional de Honduras todas as manhãs e até "observar como os militares se expressam corporalmente" foram algumas das cerca de 20 sugestões para os próximos dias apresentadas pelos militantes abrigados há uma semana na embaixada brasileira em Tegucigalpa.
As propostas foram lidas por um militante ao presidente Manuel Zelaya anteontem por volta das 23h, numa reunião em que participaram cerca de 30 pessoas, sentadas no chão de uma sala lotada. A reportagem da Folha foi autorizada a assistir, mas não pôde gravar.
A maioria da lista foi descartada por Zelaya, que, sentado numa cadeira, fazia comentários com piadas e muita ironia.
A primeira da lista, cantar o hino de Honduras todas as manhãs, rejeitada porque "estamos no Brasil. Aí teríamos de cantar o hino brasileiro".
A segunda sugestão, instalar alto-falantes na embaixada para que os militares escutam a rádio Globo, que transmite diariamente as declarações de Zelaya, foi também recusada: "Isso lhes permite colocar outro som, uma rádio deles em cima da gente", disse, arrancando risos dos militantes.
Já a terceira, definida como "retroalimentação dos acontecimentos mundiais", ou seja, receber notícias, foi aprovada por Zelaya. Só há uma TV em todo o prédio, à qual apenas funcionários da embaixada têm acesso. Muitos têm rádio, mas quase nenhum tem pilha.
Zelaya propôs a criação de uma "ordem do dia" todas as manhãs, que inclui a divulgação de notícias e a realização de uma missa -há um padre, aliado do presidente deposto, entre os 63 "moradores" da casa.
Outro ponto descartado foi que três militantes entrassem em greve de fome: "O [presidente interino, Roberto] Micheletti se alegraria muito, para que eles morram".
Duas propostas nem sequer chegou a ser debatida: "Observar como os militares [quer cercam a casa] se expressam corporalmente". "É para identificar quais os militares que estão a favor da gente", explicou o militante-relator.
O outro ponto ignorado por Zelaya foi a chamada "operação prego": em caso de invasão da embaixada, alguns militantes ficariam encarregados de atrasar os militares.
Zelaya ouviu ainda algumas reclamações: "Estamos entediados", disse um militante, ao pedir autorização para ao menos gritar palavras de ordem -por orientação do governo brasileiro, eles estão proibidos de fazer proselitismo. (FM)


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