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Sitiados, zelaystas criam normas próprias
ENVIADO ESPECIAL A TEGUCIGALPA
Greve de fome, cantar o hino
nacional de Honduras todas as
manhãs e até "observar como
os militares se expressam corporalmente" foram algumas
das cerca de 20 sugestões para
os próximos dias apresentadas
pelos militantes abrigados há
uma semana na embaixada
brasileira em Tegucigalpa.
As propostas foram lidas por
um militante ao presidente
Manuel Zelaya anteontem por
volta das 23h, numa reunião
em que participaram cerca de
30 pessoas, sentadas no chão de
uma sala lotada. A reportagem
da Folha foi autorizada a assistir, mas não pôde gravar.
A maioria da lista foi descartada por Zelaya, que, sentado
numa cadeira, fazia comentários com piadas e muita ironia.
A primeira da lista, cantar o
hino de Honduras todas as manhãs, rejeitada porque "estamos no Brasil. Aí teríamos de
cantar o hino brasileiro".
A segunda sugestão, instalar
alto-falantes na embaixada para que os militares escutam a
rádio Globo, que transmite diariamente as declarações de Zelaya, foi também recusada: "Isso lhes permite colocar outro
som, uma rádio deles em cima
da gente", disse, arrancando risos dos militantes.
Já a terceira, definida como
"retroalimentação dos acontecimentos mundiais", ou seja,
receber notícias, foi aprovada
por Zelaya. Só há uma TV em
todo o prédio, à qual apenas
funcionários da embaixada
têm acesso. Muitos têm rádio,
mas quase nenhum tem pilha.
Zelaya propôs a criação de
uma "ordem do dia" todas as
manhãs, que inclui a divulgação de notícias e a realização de
uma missa -há um padre, aliado do presidente deposto, entre os 63 "moradores" da casa.
Outro ponto descartado foi
que três militantes entrassem
em greve de fome: "O [presidente interino, Roberto] Micheletti se alegraria muito, para que
eles morram".
Duas propostas nem sequer
chegou a ser debatida: "Observar como os militares [quer
cercam a casa] se expressam
corporalmente". "É para identificar quais os militares que
estão a favor da gente", explicou o militante-relator.
O outro ponto ignorado por
Zelaya foi a chamada "operação prego": em caso de invasão
da embaixada, alguns militantes ficariam encarregados de
atrasar os militares.
Zelaya ouviu ainda algumas
reclamações: "Estamos entediados", disse um militante, ao
pedir autorização para ao menos gritar palavras de ordem
-por orientação do governo
brasileiro, eles estão proibidos
de fazer proselitismo.
(FM)
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