São Paulo, terça-feira, 28 de setembro de 2010

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Chávez perde força para mudar Constituição

Partidos contra presidente venezuelano conseguem mais de 50% dos votos, mas governo vence em cadeiras

Regras distorcidas dão ao governo 98 assentos na Assembleia, menos que os 2/3 necessários para quorum qualificado

Juan Barreto/France Presse
Juan Carlos Caldera, eleito deputado pela oposição ao governo, comemora em Caracas

FLÁVIA MARREIRO
DE CARACAS

A oposição na Venezuela impôs um revés ao presidente Hugo Chávez nas eleições legislativas de anteontem.
Com as 67 cadeiras obtidas nas urnas, não só impediu que o governo alcançasse a meta de assegurar dois terços dos 165 deputados como desferiu um golpe simbólico: somadas, as principais forças opositoras alcançaram mais de 50% dos votos nacionais.
Principal coalizão opositora, a Mesa de Unidade (MUD) disse ter ficado com 48% dos votos. Outro grupo anti-Chávez, o Pátria Para Todos, obteve mais 2,91%, totalizando 50,91% para os opositores.
O presidente, em cadeia de TV e rádio à noite, contestou os números, dizendo que o PPT não pode ser considerado de oposição.
Dissidência do chavismo, o pequeno partido quer ser uma "Terceira Via" e não está alinhado ao governismo.
Mas Chávez não negou que tenha obtido menos da metade dos votos.
O chavista PSUV (Partido Socialista Unido da Venezuela) conseguiu, disse ele, 100 mil votos a mais que a MUD -o CNE (Conselho Nacional Eleitoral) não apresentou a totalização oficial dos votos.
Mesmo assim, manteve folgada maioria na Assembleia Nacional que assume em janeiro, de 98 cadeiras.
É o resultado da recente redistribuição de distritos, que privilegiou as áreas rurais, em que o presidente venezuelano é mais forte.
"Os esquálidos [opositores] dizem que ganharam. Bom, que sigam "ganhando" assim", Chávez ironizou no Twitter.
Mas o fato é que foi o próprio Chávez quem definiu como triunfo nas legislativas a manutenção da maioria qualificada no Parlamento, necessária para aprovar leis orgânicas e revogar mandatos de magistrados do Judiciário, por exemplo.
Aos chavistas da próxima Assembleia também faltará um voto para chegar aos 99 que, pela Constituição, permitem conceder ao presidente a prerrogativa de legislar por decreto -lei habilitante.
"Provamos que somos maioria", disse Delsa Solórzano, eleita pela Mesa da Unidade (MUD), a diversa coalizão antichavista, para o Parlatino. "O governo não tem legitimidade para impor seu projeto", argumentava.

SUSPENSE
O CNE (Conselho Nacional Eleitoral), dominado pelo chavismo, levou longas oito horas para divulgar os primeiros resultados da eleição, que teve alta participação: 66,4% do eleitorado.
A demora, provocada em princípio por atrasos em votações em dois Estados, se arrastou levando a oposição a exigir a divulgação final dos resultados.
Já eram 2h de ontem quando se soube que Chávez tinha perdido a maioria qualificada. O presidente desistiu de aparecer aos apoiadores que se aglomeravam nos arredores do palácio presidencial.
O chefe de campanha do PSUV, Aristóbulo Asturiz, afirmou: "Foi uma vitória contundente", mas admitiu que a meta traçada pelo governo não foi atingida.
Agora, o temor da oposição é que Chávez use os três meses que faltam de trabalho da atual Assembleia para aprovar leis importantes.


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